Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
Neandertais podem ter perdido para o Homo sapiens na batalha evolutiva pela sobrevivência, mas conforme o tempo passa, estamos aprendendo cada vez mais sobre as similaridades entre as espécies – e de acordo com nova pesquisa, isso se estende na criação das crianças.
Um novo estudo utilizou técnicas de geoquímica e histologia para examinar três dentes de leite Neandertais, descobrindo que essas crianças começaram a comer alimentos sólidos aos 5 ou 6 meses de idade, aproximadamente… assim como humanos modernos.
Os dentes tem linhas de crescimento que são similares aos anéis dentro do tronco de uma árvore, marcando mudanças no desenvolvimento e na dieta que os cientistas foram capazes de identificar. Isso ajuda afastar alguns dos mistérios em torno de como crianças Neandertais nasceram e foram criadas.
“Agora sabemos que os Neandertais começaram a desmamar as suas crianças na mesma idade que humanos modernos”, disse a antropóloga Alessia Nava, da Universidade de Kent no Reino Unido.
“O início do desmame está mais relacionado a fisiologia do que a fatores culturais. No ser humano moderno, a primeira introdução de comidas sólidas ocorre por volta dos 6 meses de idade, quando a criança precisa de alimentos mais energéticos e é algo compartilhado por sociedades e culturas bem diferentes”.
Os dentes foram recuperados do nordeste da Itália e tem mais ou menos 45 mil e 70 mil anos. Pedaços de dentes finos como papel foram cortados, analisados e então reconstruídos.
Incluído no estudo estava uma análise dos isótopos de estrôncio no esmalte dos dentes. Comparando a composição química com roedores contemporâneos e dentes humanos, foi revelado que os Neandertais talvez ficavam mais próximos de casa do que se pensava anteriormente.
Assim como humanos, parece que o cérebro em crescimento e a sua demanda por energia extra promoveu o desmame Neandertal. Se isso estiver correto, significa que especialistas podem ter mais detalhes sobre os nossos primos evolucionários.
“O resultado deste estudo implica uma semelhança na necessidade de energia durante a primeira infância e no ritmo aproximado de crescimento entre o Homo Sapiens e Neandertais”, diz antropólogo Stefano Benazzi, da Universidade de Bolonha na Itália.
“Vistos juntos, esses fatores podem sugerir que os recém-nascidos Neandertais eram similares em peso aos recém-nascidos modernos, apontando para uma história gestacional e ontogenia no início da vida provavelmente semelhante, e um intervalo entre nascimentos potencialmente mais curto”.
Uma das hipóteses para a eventual morte dos Neandertais é que o longo período de amamentação reduziu as taxas de fertilidade, permitindo que os Homo sapiens superassem eles em número. Essa ideia não é sustentada por este novo estudo, segundo pesquisadores.
O porquê o ser humano moderno sobreviveu e os Neandertais não é uma questão que continua a intrigar cientistas, havendo muitas dúvidas sobre como esses povos viveram e morreram – algumas delas esse novo estudo pode ajudar a responder.
Os dentes de leite começam a se formar no útero e, por isso, a análise dos dentes pode nos revelar informações sobre as dietas e a vida das mães e das crianças – mas isso terá que ser um assunto para uma pesquisa futura, dizem os autores do estudo.
Essa pesquisa foi primeiramente publicada em PNAS.