Por Dan Kahan, para o The Cultural Cognition Project, da Yale Law School
Então, hoje eu vou, finalmente, dizer o que fizemos no experimento de busca de informações presentes no nosso novo paper: “Curiosidade Científica e Processo de Informação Política“.
Foi absolutamente muito simples.
Nós atribuímos sujeitos a uma das duas condições. Em cada uma, os participantes foram apresentados com manchetes de duas notícias: uma “realista sobre o clima”, que anunciou que os cientistas haviam descoberto evidências consistentes com a mudança climática causada pelo homem; e uma “cética sobre o clima”, que anunciou que os cientistas tinham descoberto evidências que qualificavam ou punham em causa a contribuição humana para as mudanças climáticas.
A diferença nas condições em causa sobre a relativa novidade das peças opostas de evidência científica que estava sendo destaque em suas respectivas manchetes.
Assim, na Condição 1- “realistas sem surpresas, céticos se surpreendem”. As respectivas manchetes de jornal foram “Cientistas encontram mais evidências que o aquecimento global realmente diminuiu na última década” e “Cientistas relatam surpreendentes evidências: o derretimento do gelo ártico está ainda mais rápido do que o esperado”.
Em contraste, na Condição 2- “realistas se surpreendem, céticos sem surpresas”, onde a condição das respectivas manchetes eram: “Cientistas relatam Surpreendente Evidência: aumento de gelo na Antártida, na verdade, não contribuiu para o aumento no nível do mar” e “Cientistas descobrem ainda mais evidências ligando o aquecimento global a Clima Extremo”.
Os indivíduos foram instruídos a “escolher a história que você acha mais interessante”, e disse que gostariam de ser feitas algumas perguntas depois de terem terminado de lê-lo.
Aversão a informação “contra-atitudinal”, isto é, informação que é contrária a suas próprias mentalidades políticas – é uma das incidências do Raciocínio Politicamente Motivado. Quando dada a opção, partidários tendem a procurar a informação que seja consistente com as suas predisposições ao invés da informação que é contrária a eles (Hart, Albarracín et al. 2009).
Isso é exatamente o que observamos entre os indivíduos que estavam [com níveis] relativamente baixos em curiosidade científica.
Entre os indivíduos que estavam [com níveis] relativamente altos em curiosidade científica, no entanto, vemos o efeito oposto. Assim, pessoas inclinadas à direita com características de curiosidade científica – que tendem a ser céticos do clima, no entanto, preferiram a notícia realista “surpreendente” do que a história cética surpreendente.
Da mesma forma, pessoas inclinadas à esquerda com características de curiosidade científica – sujeitos que tendem a ser do clima em causa, preferiram a história cética surpreendente sobre a realista surpreendente.
Os tamanhos de efeito, além disso, eram bastante grandes: curiosos moderados em assuntos científicos faziam, em média, pontos de 32 percentuais (±19, LC=0,95) mais propensos a escolher a história que era contrária às suas predisposições políticas que eram os não-curiosos moderados em assuntos científicos.
Estamos motivados para investigar esta hipótese, uma observação inesperada dos nossos estudos sobre “ciência do cinema científico“. Com a curiosidade científica dos indivíduos tendo aumentado, suas controversas percepções de riscos tendem a se mover na mesma direção. Além disso, indivíduos de alta curiosidade pareciam resistir à tendência normal de indivíduos medianos em polarizar a sua proficiência na compreensão científica.
Nós supomos que estes indivíduos puderam conceder o seu apetite para a surpresa por mais evidências prontamente examinadas do que as violações de suas predisposições políticas. Estando expostos a um maior volume de “dados contra-atitudinais”, eles formam uma visão que se tornou mais uniforme, e menos propensa à polarização condicionada para a compreensão da ciência.
Os resultados da experiência apoiaram esta hipótese.
Será que isto “prova” que a Curiosidade Científica nega o Raciocínio Motivado Politicamente?
Não!
É um erro pensar que a evidência empírica sempre prova algo.
O que ela faz, se for o produto de um projeto válido, é fornecer mais razão do que uma outra forma teria obtido para creditar uma ideia concorrente sobre algum fenômeno em detrimento de outro.
Como expliquei ontem, a hipótese de que tal Curiosidade Científica compensa o Raciocínio Politicamente Motivado, é uma conjectura, mas plausível, portanto, do que a hipótese de que a Curiosidade Científica, assim como outros elementos cognitivos da compreensão da ciência, ampliam essa forma tendenciosa do processamento da informação.
Na escala que registra a força das provas para estas respectivas hipóteses, o resultado experimental coloca um incremento de peso para o lado da primeira hipótese.
Quanto pesa?
Bem, você pode decidir isso!
Mas se você está curioso sobre os nossos próprios pontos de vista, leia o paper: Cataloga nossas próprias qualificações e fontes de incerteza residual e descreve um conjunto de perguntas para uma investigação mais aprofundada.
Nós estamos realmente curiosos para ver se este resultado motivará testes ainda mais críticos!
REFERÊNCIAS
- Hart, W., Albarracín, D., Eagly, A.H., Brechan, I., Lindberg, M.J. & Merrill, L. Feeling validated versus being correct: a meta-analysis of selective exposure to information. Psychological Bulletin 135, 555-588 (2009).