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Descoberta surpreendente revela cidadela oculta em antiga cidade maia

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

A tecnologia de imagem moderna é capaz de descobrir edifícios e estruturas antigas não visíveis na superfície, e acabamos de receber outro excelente exemplo: a descoberta de uma vizinhança escondida em uma das maiores cidades históricas maias.

A cidade em questão é Tikal, na atual Guatemala. Acredita-se que tenha sido um dos assentamentos mais dominantes no antigo império maia, particularmente entre 200-900 d.C., e em seu pico poderia ter tido até 90.000 pessoas morando lá.

Usando o equipamento de digitalização LIDAR, os pesquisadores encontraram evidências de desenvolvimento urbano sob o que se pensava ser uma área natural. Além do mais, as ruínas ocultas parecem combinar com o estilo dos edifícios em Teotihuacán – uma metrópole extensa estabelecida séculos antes da ascensão dos astecas, construída por uma cultura amplamente desconhecida.

As estruturas recém-descobertas combinam com edifícios em Teotihuacán. Créditos: Thomas Garrison / Pacunam.

Isso poderia dar aos pesquisadores algumas pistas úteis sobre como essas duas cidades interagiam. Embora estivessem a mais de 1.000 quilômetros de distância uma da outra, já se sabia que os comerciantes viajavam entre os dois centros urbanos.

“O que consideramos ser colinas naturais na verdade foram modificadas e adaptadas ao formato de cidadela – a área que possivelmente era o palácio imperial – de Teotihuacán”, disse o antropólogo Stephen Houston, da Universidade Brown em Rhode Island, nos EUA.

“Independentemente de quem construiu essa réplica em menor escala e por quê, isso mostra sem dúvida que havia um nível diferente de interação entre Tikal e Teotihuacán do que se acreditava anteriormente”.

O que torna a descoberta ainda mais surpreendente é que Tikal foi amplamente pesquisada e explorada desde a década de 1950 – é uma das cidades antigas que mais conhecemos. E todo esse tempo, havia parte dela escondida de nós.

Tikal é um dos sítios arqueológicos mais estudados do mundo. Crédito: Stephen Houston.

Escavações foram realizadas após as varreduras para confirmar os resultados e a presença desses edifícios, com a descoberta dessas estruturas do tipo de Teotihuacán abrindo algumas possibilidades fascinantes. Tikal e Teotihuacán eram diferentes em muitos aspectos, incluindo seu tamanho geral (Teotihuacán era muito maior).

Os pesquisadores sugerem que os prédios poderiam ter sido algum tipo de embaixada diplomática, ou talvez um posto militar avançado. Parece ter sido feito por pessoas de Teotihuacán ou locais sob seu controle.

“Isso quase sugere que os construtores locais foram instruídos a usar uma tecnologia de construção totalmente não local ao construir este novo complexo de edifícios”, disse Houston.

“Raramente vimos evidências de algo além da interação bilateral entre as duas civilizações, mas aqui, parece que estamos olhando para estrangeiros que estão se movendo continuamente para a área”.

As escavações revelaram que os edifícios de Tikal foram feitos de gesso de lama em vez do calcário tradicional maia, sugerindo alguma tentativa de construir réplicas. Eles também combinavam com a orientação leste-norte específica de 15,5 graus dos edifícios de Teotihuacán.

Somando-se ao cenário, está o detalhe de que os exércitos de Teotihuacán conquistaram Tikal no final do século IV. É claro que as relações terminaram mal entre as duas cidades influentes, mas não é certo o que aconteceu nas centenas de anos antes disso.

Outra descoberta foi o que parece ser um cemitério de um guerreiro de Teotihuacán, combinando com locais semelhantes na grande metrópole no México. Esta é talvez outra pista de como as duas cidades interagiam entre si.

Além de ajudar os historiadores a se aprofundarem no passado, o novo estudo também é uma oportunidade para explorar um dos tópicos mais discutidos da atualidade: o colonialismo e como os sistemas políticos e econômicos dominantes são sentidos em todo o mundo. Enquanto isso, a pesquisa em Tikal continua.

“Explorar a influência de Teotihuacán na Mesoamérica pode ser uma forma de explorar os primórdios do colonialismo e suas opressões e conluios locais”, disse Houston.

A pesquisa foi publicada na Antiquity.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.