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Famoso mapa viking da América do Norte acabou se revelando uma farsa digna de Loki

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

O mapa da Vinlândia, antes considerado uma das primeiras representações da América do Norte após sua descoberta pelos europeus, deixou de ser famoso para ser infame: acontece que o mapa é uma farsa completa.

Esse é o veredicto de pesquisadores que analisaram a tinta no mapa e descobriram que ela era da década de 1920. Este não é exatamente o trabalho inovador da cartografia do século 15 que foi originalmente alegado, mas sim uma falsificação deliberada.

Embora grandes dúvidas tenham sido levantadas anteriormente sobre a autenticidade do Mapa da Vinlândia, as técnicas de espectroscopia de fluorescência de raios-X (XRF) e de microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo (FE-SEM) usadas aqui para avaliar os produtos químicos na tinta representam a análise mais completa no documento até hoje.

Uma macroanálise de espectroscopia de fluorescência de raios-X do mapa. Crédito: Universidade de Yale.

“O Mapa da Vinlândia é uma farsa”, disse Raymond Clemens, curador da Biblioteca de Livros e Manuscritos Raros de Beinecke na Universidade de Yale, nos EUA, onde o mapa está armazenado. “Não há dúvida razoável aqui. Esta nova análise deve encerrar o assunto”.

Embora a datação por carbono coloque o pergaminho do mapa em torno de 600 anos, a tinta contém altos níveis de titânio e pequenas quantidades de bário – elementos que você esperaria encontrar nas primeiras tintas brancas de titânio produzidas comercialmente na década de 1920.

Anatase, uma forma de dióxido de titânio usada durante o mesmo período, pode ser encontrada em todo o mapa. Não há nada da tinta metalogálica de ferro com a qual se sabe que os escribas medievais escreveram, tinta que é feita de sulfato de ferro, nozes em pó e uma substância aglutinante.

Os pesquisadores também foram capazes de comparar o Mapa da Vinlândia com manuscritos que realmente são do século 15, encontrando níveis muito mais baixos de titânio e níveis muito mais altos de ferro na tinta usada neles.

A composição química da inscrição na parte de trás do mapa. Crédito: Universidade de Yale.

No verso do mapa, há uma inscrição que o liga ao Speculum Historiale, parte de uma enciclopédia escrita na Idade Média. Provavelmente é daí que veio o pergaminho para a falsificação, e a nova análise revela que a inscrição original em latim foi substituída por tinta de titânio – sinais de uma falsificação deliberada.

“A inscrição alterada certamente parece uma tentativa de fazer as pessoas acreditarem que o mapa foi criado ao mesmo tempo que o Speculum Historiale”, disse Clemens. “É uma prova poderosa de que se trata de uma falsificação, não uma criação inocente de um terceiro que foi cooptada por outra pessoa, embora não nos diga quem cometeu o ato”.

Oferecido pela primeira vez a museus em 1957 junto com um pequeno texto medieval, o Mapa da Vinlândia mostra a chamada ‘Vinlanda Insula’, parte da costa da América do Norte a sudoeste da Groenlândia. Pensava-se primeiro que o mapa sustentava a ideia de que os vikings haviam alcançado o continente (e o mapeado) muito antes de Cristóvão Colombo.

Embora a colonização nórdica da América do Norte seja agora amplamente aceita, este mapa não é prova disso – como sabemos pelo tempo gasto na análise do documento, bem como nas comparações com outras obras históricas que foram realmente verificadas.

Os pesquisadores dizem que a nova análise mostra como os equipamentos e as técnicas de digitalização mais recentes podem ajudar a obter respostas definitivas sobre quais documentos históricos são genuínos e quais não são, permitindo-nos concentrar nosso tempo nos primeiros.

“Objetos como o Mapa da Vinlândia ocupam muito espaço aéreo intelectual”, disse Clemens. “Não queremos que isso continue sendo uma controvérsia. Há tantas coisas divertidas e fascinantes que deveríamos examinar que podem realmente nos dizer algo sobre a exploração e as viagens no mundo medieval”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.