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Dinossauros com cabeças de capacete lutavam como cangurus, sugere novo estudo

Traduzido por Julio Batista
Original de

Faz parte do conhecimento de dinossauros como paquicefalossauros – animais bípedes do Cretáceo com crânios maciços e abobadados – que eles davam cabeçadas fortes em lutas como ovelhas selvagens fazem hoje. Mas uma nova análise sugere que isso está longe de ser o caso; em vez disso, os paquicefalossauros podem ter se movido mais como cangurus, usando sua cauda como um tripé que poderia apoiá-los enquanto lançavam chutes poderosos nos rivais.

Os paleontólogos encontraram evidências desse comportamento de luta à la kickboxing analisando um esqueleto bem preservado de um paquicefalossauro, fazendo um modelo 3D virtual dele e notando que partes da anatomia do dinossauro se assemelhavam às de um canguru e se moviam de maneira surpreendentemente semelhante.

“O esqueleto em nosso estudo confirma que eles usaram sua cauda como um suporte como os cangurus, mas não há indícios eles corriam um para o outro para dar cabeçadas como carneiros selvagens [fazem hoje]”, disse Cary Woodruff, curador de paleontologia de vertebrados da Museu de Ciências Patricia e Phillip Frost em Miami (EUA), que está liderando a pesquisa, à Live Science.

A pesquisa foi apresentada em 2 de novembro na conferência anual da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados em Toronto, e ainda não foi publicada em um periódico revisado por pares.

Os paquicefalossauros são os garotos-propaganda dos dinossauros de aparência bizarra. “Eles têm essa grande bola de boliche em cima da cabeça”, disse Woodruff. “Eles têm esses dentes realmente pontudos, parecidos com dinossauros carnívoros, na frente da boca, mas eles comiam plantas. Tudo neles é estranho.”

Um canguru-cinza-ocidental (Macropus fuliginosus) lutando ao estilo kickboxing em pé sobre a cauda no Parque Nacional John Forest em Perth, Austrália Ocidental. (Créditos: Matt Deakin via Getty Images)

Há muito tempo se pensava que esses esquisitos do período Cretáceo (145 milhões a 66 milhões de anos atrás) corriam uns contra os outros e davam cabeçadas com suas cabeças de melão, possivelmente para competir por companheiros, comida ou território. E embora alguns paleontólogos tenham desafiado essa ideia de cabeçada nas últimas duas décadas, ela continua sendo um conceito popular.

Embora muitos paleontólogos tenham estudado crânios de paquicefalossauros, a análise do resto do corpo é escassa porque seus esqueletos raramente preservam bem, disse Woodruff. Mas, o acesso a um espécime bem preservado de Pachycephalosaurus wyomingensis da Formação Hell Creek, no oeste americano, permitiu que Woodruff pudesse examinar sua coluna vertebral, bem como outras características anatômicas que pudessem oferecer pistas sobre seu comportamento.

Depois de usar um scanner a laser para fazer um modelo 3D virtual de P. wyomingensis, Woodruff se concentrou nas estranhas vértebras traseiras do dinossauro, que tinham extremidades franzidas – quase como se alguém tivesse colocado duas batatas fritas murchas em ambas as extremidades de cada vértebra. Essas partes franzidas se encaixam perfeitamente, como uma pilha de batatas fritas, observou Woodruff. Anteriormente, os paleontólogos sugeriram que essas vértebras eriçadas ajudavam no comportamento de cabeçadas, talvez distribuindo forças de impactos de cabeçadas de alta velocidade, disse Woodruff.

Mas quando Woodruff e colegas examinaram os esqueletos de outros animais que dão cabeçadas, incluindo carneiros selvagens, bois-almiscarados e veados, nenhum deles tinha vértebras eriçadas; no entanto, os cangurus tinham.

O novo estudo apoia a hipótese, formulada pela primeira vez na década de 1970, de que os paquicefalossauros podem ter usado sua cauda como suporte, como fazem os cangurus. Isso porque P. wyomingensis compartilha várias características anatômicas com os cangurus – não apenas em suas vértebras, mas também em sua pélvis e cauda.

É até possível que os paquicefalossauros tenham um comportamento semelhante ao kickboxing. Quando os cangurus lutam ao estilo kickboxing, eles fazem isso de uma posição tripé, com a cauda suportando parte do peso do corpo. “Para a luta ao estilo kickboxing, um canguru tem que primeiro se inclinar para trás em sua cauda e, uma vez apoiado, pode chutar”, disse Woodruff.

Embora seja apenas uma hipótese, “existe a possibilidade de que eles [paquicefalossauros] possam ter se envolvido em sua própria forma de comportamento semelhante ao kickboxing”, disse ele.

Mas, além do kickboxing, os paquicefalossauros davam cabeçadas com suas cabeças icônicas? Se faziam isso, provavelmente não faziam em altas velocidades, uma vez que sua anatomia não é nada parecida com a de animais abalroadores (aqueles que dão cabeçadas em altas velocidades), disse Woodruff. Talvez os paquicefalossauros fossem mais como vacas grandes, que não atacam umas às outras, mas às vezes se empurram em baixas velocidades. “Se – e isso é um grande se – os paquicefalossauros usavam a cabeça para lutar uns com os outros”, disse Woodruff, então eles provavelmente eram “lutadores de sumô, não abalroadores”.

Embora esta apresentação na Sociedade de Paleontologia de Vertebrados tenha oferecido evidências promissoras para o comportamento do kickboxing dos dinossauros, o estudo revisado e publicado provavelmente revelará mais detalhes, disse Joseph Peterson, paleontólogo e especialista em paquicefalossauros da Universidade de Wisconsin Oshkosh, que não esteve envolvido na pesquisa. “Isso tem o potencial de realmente mudar a maneira como vemos esses animais em particular”, disse Peterson à Live Science.

E embora as descobertas sejam surpreendentes, elas simplesmente aumentam a estranheza geral dos paquicefalossauros. “Estes são animais realmente estranhos”, disse Peterson. “Isso adiciona uma nova dimensão a eles.”

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.