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Em que Carl Sagan estava trabalhando com os militares dos EUA?

Por Keith Veronese
Publicado por Io9

A notícia sobre o envolvimento de Carl Sagan com um plano para bombardear a Lua, o Projeto A119, voltou à tona. De fato, Sagan esteve envolvido em uma série de causas militares durante sua curta vida. Contudo, mais tarde, ele cortou todos os laços com os militares. Eis o que aconteceu.

Um jovem em meio à guerra

Carl Sagan passou sua infância sob a sinistra nuvem da Segunda Guerra Mundial. Quando a guerra acabou e os EUA e a URSS entraram em uma Guerra Fria, o governo norte-americano mais uma vez buscou os melhores e mais brilhantes pesquisadores – incluindo muitos cientistas acadêmicos – para consultar os militares.

O envolvimento extremamente limitado de Sagan em um plano teórico para detonar uma bomba nuclear na Lua, como uma demonstração de poder das forças armadas dos EUA, causou um grande alvoroço, mas esse foi apenas um aspecto do envolvimento de Sagan com os militares. O envolvimento de Sagan no Projeto A119 ocorreu enquanto trabalhava para obter seu doutorado na Universidade de Chicago. O bom cientista realmente rompeu suas restrições pessoais ao listar seu envolvimento em um pedido de emprego.

Sagan e o projeto Blue Book

A maior parte do contato de Sagan com os militares aconteceu como membro do Conselho Científico da Força Aérea a partir de 1966. Sagan lecionou em Harvard nessa época de sua vida, mas logo assumiria a posição de Professor Associado de Astronomia no Centro de Radiofísica e Pesquisa Espacial em Cornell após Harvard negar sua posse.

Nesse momento de sua carreira, Sagan já havia começado a publicar suas hipóteses sobre a atmosfera de Vênus e virado, aos olhos de muitos, pesquisador marginal por causa de suas especulações sobre a possibilidade de vida inteligente no universo. Sagan também desempenhou um papel no Conselho do Programa Espacial dos EUA, um programa de aplicações militares durante a Guerra Fria.

De acordo com uma fonte, Sagan recebeu 800 dólares por dia (cerca de 4500 dólares na cotação atual), uma quantia incrível para um professor universitário atuar como consultor do Conselho Científico da Força Aérea. O Conselho Científico da Força Aérea dos EUA começou em 1944 como um programa secreto com uma variedade de missões, incluindo determinar a possibilidade de aplicação de energia atômica na propulsão a jato, bem como a utilização não tradicional de armas nucleares.

O contato militar de Sagan girou em torno do Projeto Blue Book, um estudo de 23 anos sobre OVNIs conduzido pela Força Aérea dos EUA, que cessou em janeiro de 1970. O Projeto Blue Book adotou uma abordagem sistemática para o estudo de objetos voadores não identificados, analisando possíveis dados de OVNIs e com o objetivo de determinar se esses objetos eram um perigo para a segurança nacional dos EUA.

Dentro do relatório de mais de duas décadas, há 12.618 “avistamentos”, com a análise deixando apenas 700 casos classificados como não identificados. O Conselho Científico da Força Aérea, no entanto, concluiu que o Projeto Blue Book não atendeu ao rigor necessário, sugerindo que um estudo conduzido por uma universidade sobre objetos voadores não identificados seria muito mais conclusivo.

O distanciamento das forças armadas

Após o fechamento do Projeto Blue Book, Sagan continuou a atuar como um proeminente consultor científico da NASA, argumentando pelo mérito financeiro da sonda robótica.

Sagan virou uma voz extremamente ativa contra a proliferação nuclear após a ascensão da Iniciativa de Defesa Estratégica do presidente Reagan. Sagan protestou abertamente contra o teste de armas nucleares e acabou sendo preso por invasão após uma detonação subterrânea de uma ogiva termonuclear no deserto de Nevada em 1986.

Embora tenha rompido os laços com os militares, Sagan continuou a refletir sobre a ideia de guerra espacial. Ele inventou o Dilema da Deflexão – a ideia de que o uso de uma explosão significativa para derrubar um objeto próximo da Terra pode ser usada como uma arma para enviar um objeto para o país de sua escolha.

Quem estiver curioso, é possível usar um fim de semana inteiro para navegar online por todo o projeto Blue Book, graças ao Project Blue Book Archive, ou pode fazer uma maratona de Twin Peaks para ter uma ideia da intriga envolvida no Project Blue Book.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.