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Espécies extintas de animais estranhos são identificadas pela primeira vez em mais de 100 anos

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Olhar para trás centenas de milhões de anos no passado pode revelar algumas descobertas surpreendentes – como aconteceu com a descoberta de uma segunda espécie de Opabinia, um artrópode de corpo mole com um exoesqueleto segmentado que viveu no fundo do mar durante o Miaolínguico (509- 497 milhões de anos atrás).

O opadinídeo original, Opabinia regalis, foi descrito pela primeira vez há mais de um século, em 1912, e tem várias características físicas notáveis ​​- como os cinco olhos salientes em hastes de sua cabeça, uma boca voltada para trás e sua probóscide tubular oca.

Agora há outro: Opabinia regalis não é uma espécie tão única quanto se pensava, porque se juntou a Utaurora comosa. Acreditava-se anteriormente que esta criatura pertencia a um grupo diferente de animais conhecidos como radiodontes, mas agora foi reclassificado como um opabinídeo após uma extensa pesquisa.

Fóssil de Utaurora comosa. Crédito: S. Pates.

“A análise filogenética inicial mostrou que estava mais intimamente relacionado com Opabinia“, disse o paleontólogo Jo Wolfe, da Universidade Harvard. “Nós seguimos com mais experimentos para confrontar esse resultado usando diferentes modelos de evolução e conjuntos de dados para visualizar os diferentes tipos de relacionamentos que esse fóssil pode ter”.

U. comosa foi descrito pela primeira vez como um radiodonte em 2008, tendo sido originalmente descoberto em um sítio fóssil conhecido como Formação Wheeler em Utah (EUA). É alguns milhões de anos mais jovem que Opabinia e foi encontrado em um local diferente – Utah, e não no Canadá.

Enquanto Utaurora compartilha características e morfologia com radiodontes e Opabinia, os pesquisadores por trás do último estudo decidiram ir mais fundo. A equipe comparou o fóssil de Utaurora com 43 outros fósseis, além de 11 táxons vivos, abrangendo artrópodes, radiodontes e outros panartrópodes.

Devido às suas semelhanças, pensava-se originalmente que opabinídeos e radiodontes tinham o mesmo ancestral comum, e foram agrupados como os chamados ‘dinocarídeos‘.

No entanto, nos últimos 15 anos, mais ferramentas para estudar a história evolutiva foram desenvolvidas – e tão importante quanto, várias novas espécies de radiodontes foram encontradas, destacando as diferenças entre essas criaturas e os opadinídeos.

“Baseado apenas na morfologia, você pode argumentar que Utaurora é um radiodonte estranho, também por trazer de volta o conceito de ‘dinocarídeo'”, disse o paleontólogo Stephen Pates, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. “Mas nosso conjunto de dados filogenéticos e análises sustentaram Utaurora como um opabinídeo em 68% das árvores filogenéticas recuperadas analisando os dados, mas apenas em 0,04% para um radiodonte”.

Enquanto a frente do fóssil de U. comosa estava mal preservada, os pesquisadores notaram os sulcos intersegmentares ao longo das costas e os pares de espinhos serrilhados na cauda. Juntamente com a análise evolutiva da árvore filogenética realizada pela equipe, uma nova espécie surgiu, meio bilhão de anos após seu desaparecimento.

“A dissecção da base filogenética demonstra que, embora as evidências do parafilético com radiodontes sejam fracas, Utaurora pode ser reatribuída com confiança a família Opabiniidae“, escrevem os pesquisadores em seu estudo. “A maravilha mais estranha do Cambriano não está mais sozinha”.

Agora que a classificação foi feita, pesquisas futuras podem usar U. comosa para ajudar a rastrear a evolução e a ecologia do opadinídeo, e é improvável que seja a última vez que ouviremos falar desse animal de aparência estranha.

Opabinia compartilha uma história científica com outro grupo de artrópodes conhecido como Anomalocaris, e ambos foram originalmente descritos como ‘maravilhas estranhas’ da era do Cambriano Médio. Só agora as diferenças entre eles estão realmente emergindo.

“Agora sabemos que esses animais representam estágios extintos da evolução que estão relacionados aos artrópodes modernos”, disse Wolfe. “E temos ferramentas além de comparar qualitativamente características morfológicas para uma colocação mais definitiva dentro da árvore filogenética da vida animal”.

A pesquisa foi publicada na revista Proceedings of the Royal Society B Biological Sciences.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.