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Espetacular fóssil mostra um pássaro de 120 milhões de anos com uma cauda pouco prática

Por Carly Cassella
Publicado na ScienceAlert

Nada dá um ar de ‘cheguei chegando’ como um conjunto extravagante de penas de cauda. Muitos pássaros modernos sacrificam a agilidade por uma chance de chamar a atenção, mas os exemplos entre seus parentes no registro fóssil têm sido mais difíceis de encontrar.

Os cientistas já descreveram os restos mortais de um dinossauro emplumado de 120 milhões de anos, mais ou menos do tamanho de um gaio-azul, com uma cauda extremamente longa e extravagante.

O fóssil incrivelmente detalhado foi encontrado no nordeste da China e batizado de Yuanchuavis (Yuanchuavis kompsosoura) em homenagem a um pássaro parecido com a fênix na mitologia chinesa.

É a primeira vez que um fóssil semelhante a um pássaro da era Mesozoica foi descoberto com uma gama tão complexa de penas na cauda, ​​apresentando uma cauda cinza e um par de longas plumas pretas.

As duas penas extensas e escuras se estendem por cerca de 30 centímetros, cerca de 1,3 vezes mais que o corpo da ave. Juntamente com o leque de penas mais curtas, eles desenvolveram uma cauda longa que os autores dizem que “fortemente se assemelha” àquelas de aves como o beija-flor-cauda-de-fogo e os quetzales, que usam seus rabinhos-ostentação para atrair parceiros.

A descoberta sugere que até os primeiros pássaros estavam usando suas penas para fazer algo semelhante.

Mas ser sexy pode ter seus fardos. Uma cauda tão grande e chamativa como a vista em Yuanchuavis teria tornado voar e fugir de predadores muito mais complicado.

Claramente, os riscos do rabinho chamativo valeram a pena.

“Os cientistas chamam uma característica como uma cauda grande e elegante de ‘sinal honesto’, porque é prejudicial, então se um animal com ela é capaz de sobreviver com essa deficiência, isso é um sinal de que está realmente apto”, explicou a paleontologista Jingmai O’Connor do Museu Field de História Natural de Chicago.

“Uma ave fêmea olhava para um macho com penas de cauda chamativas e pesadas e pensava: ‘Caramba, se ele é capaz de sobreviver mesmo com uma cauda tão grande, ele deve ter genes realmente bons'”.

O fóssil de Yuanchuavis com uma ilustração correspondente das penas da cauda. Créditos: Wang et al., Current Biology, 2021.

Yuanchuavis pertence a um grupo de aves mesozoicas chamadas enantiornithes ou “opostos às aves”, que se encontram em seu próprio ramo evolutivo em algum lugar entre o ancestral das aves modernas e os extintos dinossauros não-aviários.

Os enantiornithes são, na verdade, um ramo irmão dos ornituromorfos, ao qual pertencem todas as aves vivas. Depois de coexistir lado a lado por cerca de 65 milhões de anos, apenas um desses ramos sobreviveu ao evento de extinção em massa que exterminou a maioria dos dinossauros.

Descobrir por que um ramo de aves sobreviveu enquanto o outro não poderia nos permitir entender melhor como as aves modernas têm tido tanto sucesso em sobreviver neste mundo.

Na era mesozoica, os ancestrais dos pássaros modernos não pareciam ter ornamentos de cauda longa como os encontrados em Yuanchuavis, embora mostrem cauda em leque no registro fóssil.

Na verdade, por muitos anos, pensou-se que as caudas em leque tinham evoluído exclusivamente em ornituromorfos. Recentemente, entretanto, vários fósseis de enantiornithes também foram encontrados com essa característica.

Yuanchuavis é ainda mais peculiar. A mistura de cauda em leque e plumas emparelhadas é uma característica que nenhum outro pássaro em seu ramo possuía.

Os autores não podem ter certeza de por que Yuanchuavis desenvolveu uma cauda tão complexa, mas dado o quão aerodinamicamente inconvenientes as penas teriam sido, eles suspeitam que essas plumagens foram moldadas por seleção sexual.

Em um ambiente densamente florestado, onde acredita-se que a maioria dos enantiornithes já tenha vivido, há muitas coisas para se esconder e fugir. Uma cauda pesada pode não ser tão ruim se for bonita o suficiente. Hoje, é onde encontramos a maioria das aves-do-paraíso.

Mas nos ambientes semiaquáticos mais abertos, onde vivia a maioria dos ornituromorfos no Mesozoico, a troca entre sexo e sobrevivência pode não ter valido a pena.

As paisagens diferentes podem ser parte do motivo pelo qual os enantiornithines parecem ter desenvolvido os rabos longos em leque antes de seu ramo irmão.

“É bem sabido que a seleção sexual desempenha um papel central na especiação e no reconhecimento das aves modernas, atestando as enormes penas, ornamentos, cantos e danças extravagantes”, explicou Wang.

“No entanto, é notoriamente difícil dizer se uma determinada estrutura fossilizada é moldada pela seleção sexual, considerando a natureza imperfeita do registro fóssil. Portanto, as penas da cauda bem preservadas neste novo fóssil de ave fornecem ótimas novas informações sobre como a seleção sexual moldou a cauda das aves desde seu estágio inicial”.

O estudo foi publicado na Current Biology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.