Traduzido por Julio Batista
Original de Ed Cara para o Gizmodo
Doze pessoas estão prestes a embarcar na mais longa festa do pijama do mundo, tudo em nome da pesquisa espacial. O grupo ficará confinado em camas projetadas para imitar os rigores do espaço por 60 dias seguidos. Alguns dos voluntários também testarão estratégias que podem reduzir o estresse corporal causado pela baixa gravidade, como se exercitar enquanto giram em uma centrífuga.
O projeto de pesquisa é chamado de estudo BRACE (Bed Rest with Artificial Gravity and Cycling Exercise ou Descanso na Cama com Gravidade Artificial e Exercício de Pedalada, na tradução livre) e está sendo financiado pela agência espacial da França, o Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES). O estudo em si será conduzido no MEDES, o Instituto de Medicina Espacial e Fisiologia em Toulouse, França.
O mais surpreendente, talvez, é que não é preciso muito para uma cama se tornar espacial. Os voluntários passarão todas as horas acordados e dormindo em uma cama elevada 6 graus abaixo da horizontal, com os pés para cima, mesmo durante o banho e para fazer as necessidades básicas (como regra fundamental, pelo menos um ombro terá que permanecer no colchão, independentemente de qual seja e em qual circunstância). Isso força o sangue e os fluidos a correr para a cabeça e, juntamente com o constante repouso na cama, acabará causando atrofia dos músculos de uma pessoa – o mesmo grande problema observado em viagens espaciais de longo prazo.
Um grupo atuará como controle, descansando o tempo todo. Outro grupo pedalará regularmente em uma bicicleta ergométrica montada na cama espacial, seguindo a rotina típica dos astronautas para evitar a perda muscular. E o terceiro fará as pedaladas dentro de uma máquina centrífuga. A rotação funcionará idealmente como um contrapeso para a baixa gravidade no espaço que está sendo imitada pela cama e deve melhorar os benefícios que viriam do exercício.
“Esperamos entender o valor agregado da gravidade artificial para a rotina de condicionamento físico que os astronautas seguem na Estação Espacial Internacional. A tripulação se exercita duas horas por dia em órbita”, disse a pesquisadora Angelique Van Ombergen, líder em ciências da vida no ramo de Exploração Humana e Robótica da Agência Espacial Europeia, em um comunicado fornecido pela ESA.
Este projeto não é a primeira vez que os cientistas usam o ato de repouso na cama como uma forma de viagem espacial simulada, mas é a primeira vez na Europa que o ciclismo será incorporado aos experimentos. Pesquisadores da Eslovênia no Instituto Jožef Stefan estão prontos para conduzir seu próprio estudo semelhante, que testará a combinação de gravidade artificial e exercícios de vibração.
Na melhor das hipóteses, as lições aprendidas com esses estudos não se aplicarão apenas às viagens espaciais.
“Os resultados de análogos espaciais podem ser úteis para projetar melhores tratamentos para idosos e pacientes com condições musculoesqueléticas e osteoporose na Terra”, disse Van Ombergen.