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Este belo cajado de cobra de 4.400 anos da Finlândia pode ter pertencido a um xamã

Por Owen Jarus
Publicado na Live Science

Um pedaço de madeira esculpido na forma de uma cobra com cerca de 4.400 anos foi descoberto perto de um lago no sudoeste da Finlândia. O cajado pode ter sido usado para fins místicos por um xamã.

“Eu vi muitas coisas extraordinárias em meu trabalho como arqueólogo de pântanos, mas a descoberta desta estatueta me deixou totalmente sem palavras e me deu arrepios”, disse o arqueólogo Satu Koivisto em um comunicado. Koivisto é um pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Turku, na Finlândia, que lidera a pesquisa em Järvensuo, o local onde o objeto foi encontrado.

A figura, que tem 53 centímetros de comprimento e 2,5 cm de espessura, foi “esculpida em um único pedaço de madeira”, escreveram Koivisto e o coautor Antti Lahelma, arqueólogo da Universidade de Helsinque, em um estudo publicado em 29 de junho na revista Antiquity.

“A estatueta é muito naturalista e lembra uma cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix) ou uma víbora comum europeia (Vipera berus) no ato de rastejar ou nadar”, escreveram os pesquisadores.

Um pesquisador não envolvido no estudo sugeriu que o artefato pode representar uma víbora. “Eu diria que uma víbora é mais correto, devido ao formato de sua cabeça, corpo curto e cauda distinguível”, disse Sonja Hukantaival, pesquisadora de pós-doutorado em Folclorística Nórdica na Universidade Åbo Akademi, na Finlândia, ao Live Science por e-mail.

“Isso é interessante, já que a víbora tem um papel importante na religião e na magia popular (histórica) muito posterior”.

A estatueta de cobra no lugar onde foi encontrada e o artefato já escavado fotografado de cima. Crédito: S. Koivisto.

A escultura poderia ter sido usada como uma estatueta decorativa, ou talvez fosse um cajado usado por um xamã, escreveram os pesquisadores.

“Como hipótese preliminar, parece razoável, entretanto, colocar o artefato na esfera religiosa”, escreveram os pesquisadores. De acordo com registros históricos que discutem crenças pré-cristãs, “as cobras são carregadas de significado simbólico tanto na cosmologia fino-úgrica quanto na cosmologia lapã, e acreditava-se que os xamãs eram capazes de se transformar em cobras”, disseram.

Os lapões vivem no norte da Escandinávia e na Rússia, enquanto as línguas fino-úgricas são faladas na Escandinávia e na Europa oriental.

No entanto, o artefato data de muito antes dos finlandeses começarem a manter registros escritos, e os pesquisadores não podem ter certeza de que as pessoas mantinham as mesmas crenças por volta de 4.400 anos atrás, disse Koivisto ao Live Science.

A equipe também encontrou um grande número de artefatos de pesca no local em Järvensuo, sugerindo que pescadores antigos frequentavam a área.

Achado fascinante

Especialistas não afiliados à pesquisa disseram ao Live Science que acharam a descoberta fascinante.

“Esta descoberta maravilhosa mostra que as pessoas no Neolítico tinham uma grande preocupação com o mundo sobrenatural do qual, hoje, quase não temos conhecimento”, disse Vesa-Pekka Herva, chefe do departamento de arqueologia da Universidade de Oulu, na Finlândia.

Alguns estudiosos com quem a Live Science conversou levantaram a ideia de que o artefato poderia ser uma oferenda. O fato de ter sido encontrado em um pântano perto de um lago “apoia a ideia de que este precioso artefato foi uma oferenda, e não um item acidentalmente perdido”, disse Kristiina Mannermaa, professora do departamento de culturas da Universidade de Helsinque.

Mannermaa observou que o solo ácido da Finlândia nem sempre preserva artefatos de madeira por tanto tempo. “Este é um sinal notável para os arqueólogos finlandeses de que tais áreas úmidas devem ser investigadas antes de serem destruídas por, por exemplo, drenagem e extração de turfa [um processo em que a turfa é removida e vendida como fertilizante]”, disse Mannermaa.

A descoberta pode ser importante para o povo lapão dos dias modernos, disse Francis Joy, pesquisador de pós-doutorado na Universidade da Lapônia.

Se o artefato “estivesse ligado aos ancestrais dos lapões, isso colocaria em foco questões relativas à repatriação e também daria ao povo lapão uma validação em termos de sua pré-história no sul da Finlândia”, disse Joy ao Live Science. Às vezes, os lapões enfrentam discriminação e fazem campanha por seus direitos há muitos anos.

Joy também disse que mais trabalho arqueológico deve ser feito para ver se há um local de oferendas perto de onde o artefato foi encontrado.

A pesquisa no local e a análise do artefato estão em andamento. Os pesquisadores estão tentando determinar de que tipo de madeira o artefato é feito.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.