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Este homem medieval italiano substituiu sua mão amputada por uma faca

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

Em 2018, arqueólogos descreveram uma descoberta verdadeiramente fascinante. Parece que este italiano medieval passou pela vida com uma faca presa ao braço, no lugar da mão amputada.

O esqueleto em questão foi encontrado em uma necrópole lombarda no norte da Itália, que remonta aos séculos VI a VIII d.C. Centenas de esqueletos foram enterrados lá, assim como um cavalo sem cabeça e vários galgos, mas esse esqueleto em particular se destacou.

Ele era um homem mais velho, com idade entre 40 e 50 anos, e seu braço direito havia sido amputado em torno do meio do antebraço.

Os pesquisadores, liderados pela arqueóloga Ileana Micarelli, da Universidade La Sapienza, em Roma, determinaram que a mão havia sido removida por um trauma contundente, mas exatamente como ou por que é impossível dizer.

“Uma possibilidade é que o membro tenha sido amputado por razões médicas; talvez o membro anterior tenha sido quebrado devido a uma queda acidental ou de algum outro jeito, resultando em uma fratura incurável”, escreveram em seu estudo, publicado no Journal of Anthropological Sciences em 2018. “Ainda assim, dada a cultura especificamente guerreira do povo lombardo, uma perda em batalha também é possível”.

Em um exame mais detalhado, as extremidades do osso mostraram evidências de pressão biomecânica – remodelação de ambos os ossos para formar um calo e um esporão ósseo na ulna. Estes são consistentes com o tipo de pressão que pode ter sido aplicada por uma prótese.

Outras evidências sobre o esqueleto apoiam essa hipótese. Os dentes do homem apresentavam desgaste extremo – uma enorme perda de esmalte e uma lesão óssea. Ele tinha desgastado os dentes tão profundamente no lado direito da boca que provavelmente abriu a cavidade pulpar, causando uma infecção bacteriana.

O que isso tem a ver com uma prótese? Ele provavelmente estava usando os dentes para apertar as tiras que a mantinham no lugar.

Desgaste dentário e lesão óssea. Créditos: Micarelli et al., 2018.

Seu ombro também mostrou evidências disso – ele desenvolveu uma crista óssea em forma de C ao manter o ombro em uma posição anormalmente estendida para apertar a prótese com sua boca. A única maneira que essa crista poderia ter se formado é se o movimento fosse frequente.

Todos os outros sepultamentos masculinos com facas no local estavam com as armas ao lado do corpo. Mas não esse cara.

Ele estava com o braço direito dobrado no cotovelo, o braço cruzado sobre o torso. Ao lado havia uma lâmina de faca, a coronha alinhada com o pulso amputado. Também no local da amputação, os arqueólogos encontraram uma fivela em forma de D e material orgânico decomposto – provavelmente couro.

Isso sugere uma capa de couro sobre o membro amputado, uma fivela usada para fixação – e uma faca presa à capa, embora o objetivo não seja claro. No entanto, dada a cicatrização avançada do osso, fica claro que o homem viveu por muito tempo depois que sua mão foi amputada.

“Este homem lombardo mostra uma sobrevivência notável após uma amputação do membro anterior durante a era pré-antibiótica. Ele não apenas se ajustou muito bem à sua condição, como fez isso com o uso de um dispositivo derivado culturalmente, juntamente com considerável apoio da comunidade”, escreveu a equipe em seu estudo. “A sobrevivência deste homem lombardo atesta o cuidado da comunidade, a compaixão familiar e um alto valor dado à vida humana”.

O estudo foi publicado no Journal of Anthropological Sciences.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.