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Este pode ser o exemplo mais antigo de um cérebro, e não é o que esperávamos

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Um cérebro recém-descoberto em um fóssil de artrópode de 525 milhões de anos parece ser o mais antigo encontrado até agora – e pode ter resolvido um debate em andamento sobre como os cérebros evoluíram pela primeira vez nesses animais invertebrados.

Identificado em um minúsculo lobopódio blindado conhecido como Cardiodictyon catenulum, a surpresa é que o cérebro sobreviveu e que era composto de três componentes distintos do sistema nervoso.

Isso é importante porque sugere que o cérebro evoluiu separadamente da cabeça e do sistema nervoso.

Anteriormente, pensava-se que os cérebros dessas criaturas eram divididos em segmentos repetidos de estruturas neurais chamadas gânglios, assim como o sistema nervoso no tronco.

“Essa anatomia foi completamente inesperada porque as cabeças e cérebros dos artrópodes modernos, e alguns de seus ancestrais fossilizados, foram considerados segmentados por mais de cem anos”, disse o neurocientista Nicholas Strausfeld, da Universidade do Arizona (EUA).

O fóssil foi descoberto na província de Yunnan, no sul da China, no final dos anos 1980. O C. catenulum semelhante a um verme teria originalmente se deslocado pelo fundo do mar usando vários pares de pernas moles e curtas.

(Créditos: Nicholas Strausfeld/Universidade do Arizona)

Como o fóssil mede apenas 1,5 centímetros de tamanho, a equipe não conseguiu fazer um raio-X. Em vez disso, eles usaram um método chamado filtragem cromática, em que uma sucessão de imagens digitalizadas de alta resolução é usada para filtrar a luz de diferentes comprimentos de onda e mapear a estrutura interna. A morfologia revelada da cabeça e do cérebro foi então comparada com outros fósseis, os artrópodes de hoje e seus padrões de expressão gênica. As comparações sugerem que o mesmo modelo de organização do cérebro continuou por meio bilhão de anos.

“Identificamos uma assinatura comum de todos os cérebros e como eles se formaram”,  disse o neurocientista evolutivo Frank Hirth, do King’s College London, no Reino Unido.

A cabeça fossilizada de C. catenulum. Os depósitos de cor magenta marcam estruturas cerebrais fossilizadas. (Créditos: Nicholas Strausfeld/Universidade do Arizona)

“Percebemos que cada domínio do cérebro e suas características correspondentes são especificados pela mesma combinação de genes, independentemente da espécie que examinamos. Isso identifica um plano básico genético comum para fazer um cérebro.”

Os artrópodes são o filo mais rico em espécies no reino animal e incluem insetos, crustáceos, aranhas, milípedes e centopéias entre eles. Depois dos lobopódios vieram os euartrópodes – que em grego significa “pé articulado real”, sendo a principal diferença conforme a evolução seguia seu curso.

Hoje, os descendentes dessas criaturas vivem na forma de vermes aveludados encontrados na Austrália, Nova Zelândia e América do Sul, mas os pesquisadores acham que sua abordagem pode ser aplicada a várias outras espécies fora dos artrópodes.

Impressão artística de C. catenulum. (Créditos: Nicholas Strausfeld/Universidade do Arizona)

Também será interessante comparar as novas descobertas com o que sabemos sobre o desenvolvimento do cérebro e da medula espinhal em vertebrados. Finalmente, os pesquisadores dizem que seu estudo destaca como a natureza pode sobreviver durante grandes mudanças – e o que podemos perder se não conseguirmos controlar a crise climática.

“Numa época em que grandes eventos geológicos e climáticos remodelavam o planeta, simples animais marinhos como o Cardiodictyon deram origem ao grupo de organismos mais diversificado do mundo – os euartrópodes – que eventualmente se espalharam por todos os habitats emergentes da Terra, mas que agora estão sendo ameaçados por nossa própria espécie efêmera”, disse Strausfeld.

A pesquisa foi publicada na Science.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.