Por Elizabeth Pennisi
Publicado na Science
Os turus têm sido um problema para a humanidade por já terem afundado navios, estragado cais e aberto caminhos através de diques holandeses em meados da década de 1700. Agora, os pesquisadores descobriram o primeiro turu que, em vez de ingerir madeira, prefere uma dieta muito diferente: rocha. O novo turu – uma criatura grossa, branca e parecida com a minhoca, que pode ter até mais de um metro de comprimento – vive em água doce. Os pesquisadores descobriram a espécie (Lithoredo abatanica) em 2006, em tocas do tamanho de um polegar nas margens de calcário do Rio Abatan, nas Filipinas. Mas até 2018, os cientistas não tinham como estudar o organismo em detalhes.
O turu comedor de rocha é bem diferente de seu homólogo comedor de madeira, de acordo com o relatório da equipe no Proceedings of the Royal Society B. Todos os turus possuem duas conchas encolhidas que foram modificadas na cabeça em forma de broca. Centenas de dentes afiados e quase invisíveis cobrem as conchas do comedor de madeira, mas o turu comedor de rocha tem apenas algumas dezenas de dentes mais grossos, do tamanho de um milímetro, que servem para raspar rochas.
Os turus marinhos armazenam a madeira que comem em um saco digestivo especial, onde as bactérias a degradam. Como outros turus, o comedor de rocha ainda ingere o que raspa para fazer sua toca protetora, mas ele não possui saco digestivo e bactérias e, provavelmente, não obtém muito sustento dos pedaços de rocha. Sua ingestão pode ser um resquício dos ancestrais comedores de madeira. Em vez disso, ele parece depender de outras bactérias residentes em suas brânquias para produzir nutrientes ou alimentos que são sugados por um sifão em sua extremidade traseira para sua própria nutrição.
No entanto, o turu comedor de rocha tem uma coisa em comum com o seu homólogo comedor de madeira: sua broca pode causar danos, como alterar o curso de um rio. Mas sua broca tem um lado positivo: as fendas que ela cria fornecem ótimas casas para caranguejos, caracóis e peixes.