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Estudo com 96 mil pacientes apontou aumento de mortalidade em pacientes com COVID-19 em uso de cloroquina

A população mundial aguarda com expectativa os resultados de estudos controlados e randomizados em andamento, analisando os efeitos da cloroquina e hidroxicloroquina nos resultados clínicos da COVID-19.

Estudos com desenho metodológico que forneçam fortes níveis de evidência são imprescindíveis para verificar se esses medicamentos podem ser prescritos no tratamento dessa doença. Dentre os efeitos colaterais desses medicamentos, o aumento na chance de parada cardíaca é o mais preocupante. Isso se deve ao fato de que a hidroxicloroquina pode aumentar o intervalo QT do eletrocardiograma, aumentando as chances de fibrilação ventricular, um tipo de arritmia.

A revista The Lancet divulgou o maior estudo observacional publicado até o momento sobre os efeitos da cloroquina ou hidroxicloroquina, com ou sem macrolídeo, um antibiótico. Foram analisados 96.032 pacientes hospitalizados (idade média 53,8 anos, 46,3% mulheres) que apresentaram resultado positivo para COVID-19. Dados verificados de um registro internacional composto por 671 hospitais em seis continentes foram usados para comparar pacientes com COVID-19 que receberam cloroquina (n = 1868), hidroxicloroquina (n = 3016), cloroquina com macrolídeo (n = 3783) ou hidroxicloroquina com macrolídeo (n = 6221) dentro de 48 horas do diagnóstico da COVID-19. O estudo analisou 81.144 pacientes do grupo controle, os quais não receberam esses medicamentos.

A principal variável avaliada foi a mortalidade hospitalar e também foi analisada a ocorrência de arritmias. Houve aumento no risco de mortalidade nos grupos tratados com cloroquina e hidroxicloroquina em comparação com o grupo controle. A incidência de arritmias ventriculares variou de 4,3% a 8,1% nos pacientes tratados, em comparação com 0,3% no grupo controle (p<0,0001).

Em vista dos resultados encontrados no estudo, a conclusão é de que o tratamento de pacientes com COVID-19 com cloroquina ou hidroxicloroquina não tem efeito e pode até ser prejudicial.

Referência

  • Christian Funck-Brentano, Joe-Elie Salem. Chloroquine or hydroxychloroquine for COVID-19: why might they be hazardous? The Lancet, May 22, 2020; DOI: 10.1016/S0140-6736(20)31174-0
Vitor Engrácia Valenti

Vitor Engrácia Valenti

Graduado em Fisioterapia pela UNESP/Marília. Doutorado em Ciências pela UNIFESP com Sandwich na University of Utah. Pós-Doutor em Fisiopatologia pela USP e Livre-Docente pela UNESP/Marília. É Prof. Adjunto de Fisiologia e Morfofisiopatologia na UNESP/Marília. Membro do corpo editorial da Scientific Reports, da Frontiers in Physiology, da Frontiers in Neuroscience e da Frontiers in Neurology. Coordenador do Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo. Contato: vitor.valenti@unesp.br