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Estudo comovente mostra os efeitos de longo prazo de gritar com seu cachorro

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

Seu cachorro pode ser seu amigão, mas sejamos honestos: ele é um animal, com seus próprios instintos e idiossincrasias – e, às vezes, ele vai te dar vontade de arrancar os cabelos.

Por mais que você queira, no entanto, uma nova pesquisa sugere que você nunca deve gritar ou punir um vira-lata travesso.

De acordo com um estudo lançado como pré-impressão no ano passado e agora publicado na PLOS ONE, o treinamento aversivo, como punição positiva e reforço negativo, pode ter efeitos negativos de longo prazo no estado mental do seu cão.

“Nossos resultados mostram que cães de estimação treinados com métodos baseados em aversão tiveram o bem-estar mais afetado durante as sessões de treinamento do que cães treinados com métodos baseados em recompensas”, escrevem os pesquisadores em seu paper.

“Além disso, cães treinados com mais métodos baseados em aversão experimentaram um bem-estar mais afetado fora do contexto de treinamento do que cães treinados com métodos baseados em recompensa.”

Esse tipo de pesquisa já foi conduzida antes e descobriu que o treinamento aversivo tem efeitos negativos, mas foi principalmente feito com cães policiais e de laboratório. Além disso, o treinamento aversivo tende a ser o treinamento com colar de choque, que é apenas uma das várias ferramentas utilizadas.

Assim, liderada pela bióloga Ana Catarina Vieira de Castro, da Universidade do Porto, em Portugal, a equipe internacional de investigadores realizou o seu novo estudo com cães de estimação.

Os animais foram recrutados em vários centros de treinamento no Porto – 42 cães de três centros que usam treino baseado em recompensa como guloseimas ou brincadeiras, e 50 cães de quatro centros que usam treino de base aversiva, como gritar, manipular fisicamente o cão, ou puxar a guia. Dois desses centros usavam técnicas de treinamento com base aversiva moderada dois eram mais severos.

Cada cão foi filmado durante os primeiros 15 minutos de três sessões de treinamento, e amostras de saliva foram coletadas para avaliar os níveis de estresse do treinamento – três de cada cão relaxando em casa para estabelecer os níveis basais do hormônio cortisol, associado ao estresse, e três de cada cão após o treinamento.

Os pesquisadores também analisaram o comportamento dos cães durante o treinamento para procurar comportamentos de estresse, como bocejar, lamber os lábios, levantar as patas e latir.

Sem surpresa, os cães nas aulas de treinamento aversivo mostraram comportamentos de estresse elevado, particularmente bocejar e lamber os lábios. Suas salivas também tiveram aumento significativo nos níveis de cortisol em comparação com quando estavam relaxando em casa.

Em contraste, os cães treinados com reforço positivo eram bastante calmos – com muito menos comportamentos associados ao estresse e com níveis de cortisol muito mais normais.

A próxima etapa foi avaliar os efeitos de longo prazo desse estresse. Um mês depois que os cães foram avaliados no treinamento, 79 deles foram então treinados para associar uma tigela em um lado da sala com uma refeição de salsicha. Se a tigela estivesse desse lado, sempre teria uma guloseima deliciosa; se localizada do outro lado, a tigela não teria a guloseima. (Todas as tigelas foram esfregadas com salsicha para garantir que o cheiro não denunciasse o experimento.)

Em seguida, os pesquisadores moveram as tigelas ao redor da sala para locais ambíguos para ver a rapidez com que os cães se aproximavam em busca da guloseima. A velocidade mais alta foi interpretada como significando que o cão estava antecipando uma porção de delícias, enquanto uma velocidade mais baixa significava que o cão estava mais pessimista sobre o conteúdo da tigela.

Com certeza, quanto mais treinamento aversivo um cachorro recebia, mais lentamente ele se aproximava da tigela. Curiosamente, os cães do grupo de treinamento baseado em recompensa realmente aprenderam a tarefa de localização da tigela mais rápido do que os cães de treinamento aversivo.

Isso sugere que o treinamento baseado em recompensa pode realmente ser mais eficaz, embora os pesquisadores sugiram que isso pode ser porque os cães já entendem os métodos de treinamento baseados em ameaça. É possível que o outro grupo aprendesse mais rapidamente se um método aversivo fosse aplicado – mais pesquisas precisam ser feitas para determinar isso.

No geral, porém, os resultados parecem indicar que o treinamento aversivo não tem necessariamente uma vantagem sobre o treinamento de recompensa, e que o treinamento de recompensa é muito melhor para a felicidade do seu cão.

“De maneira crítica”, disseram os pesquisadores, “nosso estudo aponta para o fato de que o bem-estar de cães de estimação treinados com métodos baseados em aversão está em risco, especialmente se estes forem usados ​​em altas proporções”.

A pesquisa foi publicada na PLOS ONE.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.