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Evidências mostram que chicotadas em cavalos não os fazem correrem mais rápidos ou mais retos

Por Kirrilly Thompson, Bethany Wilson, Paul McGreevy e Phil McManus
Publicado no
The Conversation

A Copa Melbourne está chegando. Este ano será diferente devido ao COVID-19 – mas uma coisa que não esperamos mudar é a preocupação com o bem-estar dos cavalos, que parece ressurgir a cada ano.

Poucos dias antes da Copa, o parlamento de Vitória, Austrália, ouviu alegações de que cavalos de puros-sangues indesejados continuam a ser massacrados em abatedouros em Nova Gales do Sul, relata o The Guardian.

O presidente executivo bilionário da Harvey Norman, Gerry Harvey, supostamente se desculpou depois que um de seus ex-cavalos de corrida foi enviado para uma fábrica de rações de animais de estimação para o abate, apesar da indústria de turfe do estado anunciar regras contra isso em 2017. Não é a primeira vez que ouvimos falar desses casos horríveis.

Além disso, existem preocupações persistentes sobre como os cavalos de corrida foram tratados por mais de um século. Em particular, o uso do chicote para “encorajar” os cavalos a correr mais rápido e de maneira mais reta mostrou ser potencialmente doloroso e perigoso.

Para nossa pesquisa, publicada ontem na revista Animals, analisamos mais de 100 relatos de corrida para determinar exatamente como o uso do chicote influencia a dinâmica de uma corrida.

Descobrimos que chicotes não fazem diferença na direção do cavalo, na segurança do jóquei ou mesmo na velocidade de um cavalo. Nosso estudo oferece descobertas científicas que sustentam o plano recentemente anunciado da Racing Victoria de gradualmente eliminar o uso de chicotes até que sejam apenas usados ​​quando for absolutamente necessário.

Justificativas da indústria de turfe

Defensores do uso de chicote, como a Racing Australia e a British Horseracing Authority, afirmam que é necessário para a segurança de cavalos e cavaleiros. Eles argumentam que facilita a direção necessária para reduzir a interferência entre os cavalos no percurso.

Outra justificativa dada é que chicotadas faz os cavalos correrem mais rápido. Isso é considerado fundamental para a integridade da corrida. Em uma indústria de bilhões de dólares que depende da aposta, todas as partes – incluindo apostadores, treinadores, criadores e proprietários – querem saber que o cavalo que estão torcendo terá todas as oportunidades de ganhar.

Para muitos aficionados de corridas, as violações da “integridade” e a ideia de um cavalo não estar sendo totalmente “montado” de acordo com seus méritos é tão corrupta quanto o cavalo sendo dopado ou uma corrida sendo manipulada por algum outro meio.

A crescente importância do bem-estar dos cavalos de corrida

Mas o bem-estar animal também é importante para a integridade das corridas, de acordo com a Federação Internacional das Autoridades Hípicasoutros órgãos de corrida.

Os comissários de corrida estão na posição nada invejável de garantir o bem-estar dos cavalos durante as corridas, ao mesmo tempo em que precisam garantir que chicotes sejam usados ​​para dar a cada cavalo oportunidade total de vencer.

Para todas as corridas oficiais na Austrália, existem regulamentos detalhados para o número e estilo de golpes de chicote permitidos nos diferentes pontos de um percurso.

As pesquisas nas últimas décadas se concentraram na precisão dos jóqueis, conformidade com as regras do chicote, a ligação entre o uso do chicote e as quedas catastróficas que podem ferir ou matar cavalos ou jóqueis, e simplesmente se chicotadas machucam ou não.

Mas, até agora, poucos pararam para perguntar se os chicotes realmente funcionam. Isso é simplesmente porque não houve nenhuma maneira de testar cientificamente a suposição culturalmente arraigada que eles fazem.

Correndo sem usar o chicote

No entanto, desde 1999, uma forma de corrida sem chicotadas tem sido conduzida na Grã-Bretanha por meio da série de corrida “hands and heels” (tradução livre: mãos e calcanhares) para jóqueis aprendizes. Nessa forma de corrida, os jóqueis têm permissão para carregar chicotes, mas não podem usá-los a menos que em circunstâncias excepcionais, como para tentar evitar uma colisão.

Após as corridas, os comissários produzem um relatório oficial observando qualquer comportamento incomum ou não ortodoxo do jóquei (que pode ou não ter afetado as colocações da corrida), infrações do jóquei, movimento do cavalo no percurso, interferência entre os cavalos e questões veterinárias.

Analisamos relatórios de 126 corridas envolvendo um total de 1.178 participantes (cavalos e jóqueis). Isso incluiu todas as 67 corridas “sem chicotadas” hands and heels no período que começou em janeiro de 2017 e terminou em dezembro de 2019. Com base nessa análise, fomos capazes de fazer um casamento de padrões com 59 corridas com “chicotadas liberadas” tradicionais.

Assim, fomos capazes de comparar o desempenho de cavalos de corrida em condições “sem chicotadas” e de “chicotadas liberadas” em ambientes de corrida reais, para descobrir se chicotadas torna os cavalos mais fáceis de guiar, mais seguros de montar e/ou mais prováveis de ganhar.

Nossos resultados não indicaram diferenças significativas entre o movimento do cavalo no percurso, a interferência no percurso, a frequência de incidentes relacionados ao comportamento do jóquei ou os tempos médios de chegada da corrida.

Simplificando, o uso do chicote não teve impacto na direção, segurança ou velocidade. Ao contrário das crenças de longa data, chicotear cavalos de corrida simplesmente não funciona.

O caminho a seguir

Nossas descobertas reforçam a necessidade de mais apoio para corridas sem chicotadas. É importante ressaltar que as descobertas indicam que o uso de chicote pode ser potencialmente banido sem qualquer efeito adverso nos cavalos, cavaleiros ou integridade da corrida.

Corridas “sem chicotadas” não são iguais às corridas “sem chicotes”. Embora alguns possam argumentar em favor de corridas sem chicotes, um acordo aceitável seria permitir que os jóqueis carregassem chicotes, mas apenas usá-los se sua segurança for ameaçada.

Essa abordagem já foi adotada na Noruega, onde corridas sem chicotadas foram realizadas por mais de 30 anos, sem consequências negativas aparentes.

Dados os valores sociais em evolução, acreditamos que a transição para uma abordagem livre de chicotadas é essencial para o futuro de uma indústria que depende de uma licença social para operar.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.