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Existe alguém na Terra que não é um imigrante?

Traduzido por Julio Batista
Original de  para a Live Science

Os seres humanos tendem a ficar fascinados com seus primórdios. As histórias de origem são encontradas em diferentes culturas, religiões, etnias e nacionalidades – e todas são profundamente importantes. Essas histórias contam às pessoas de onde vêm e como elas se encaixam no mundo.

Uma dessas histórias, é claro, é a história dos genes humanos, e é uma história que qualquer pessoa com DNA humano compartilha.

Conforme os cientistas descobrem os DNAs humanos mais antigos, amostram DNAs mais modernos e desenvolvem mais maneiras de analisar tais materiais genéticos, acabamos revelando muito sobre como os primeiros humanos se moviam – e como se moviam – ao redor do mundo, passando a habitar quase todas as faixas de terra.

Então, depois de milhares e milhares de anos de migração quase constante, existe alguma pessoa por aí que nunca deixou o local onde se pensa que o Homo sapiens evoluiu? Dito de outra forma, há alguém na Terra que não seja imigrante?

“Do ponto de vista científico, talvez as únicas pessoas que você poderia considerar não serem imigrantes seriam alguns grupos de língua Khoe-San no sul da África“, disse Austin Reynolds, professor assistente de antropologia da Universidade Baylor no Texas (EUA), especializado em genética de populações humanas.

A designação Khoe-San (cujo a pronúncia é cói-sã) refere-se a certas comunidades africanas nas áreas de Botsuana, Namíbia, Angola e África do Sul que falam línguas semelhantes com consoantes com sons de cliques (como a língua xhosa), disse Reynolds ao Live Science. 

Reynolds disse que há dois fatores principais que indicam que os grupos Khoe-San podem ser descendentes não migratórios dos humanos originais: eles vivem no lugar onde é provável que os humanos tenham surgido pela primeira vez e têm uma grande diversidade genética. Uma boa maneira de entender por que a alta diversidade genética indica ancestralidade original é comparando os genes a uma tigela de M&Ms, disse Reynolds. Uma parte retirada da tigela – ou seja, pessoas que se separaram da população humana original – podem ter apenas M&Ms de algumas cores, mas a tigela original terá todas as cores.

No entanto, apesar da proximidade dos grupos Khoe-San com o proverbial “berço da humanidade” e sua significativa diversidade genética, identificá-los como os últimos povos geneticamente aborígenes não é algo definitivo. 

Em primeiro lugar, os pesquisadores não sabem ao certo se a África Austral é o berço da humanidade. Alguns cientistas acreditam que os humanos evoluíram primeiro na África Oriental, disse Reynolds, e os cientistas não acumularam evidências arqueológicas suficientes em nenhuma das áreas para ter certeza de onde o Homo sapiens entrou em cena pela primeira vez.

Existe até a possibilidade de que as pessoas tenham evoluído na África Ocidental, disse Mark Stoneking, geneticista molecular do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, ao Live Science. Ambientes diferentes fazem um trabalho pior ou melhor na preservação de restos fósseis, disse Stoneking, então só porque restos humanos foram ou não encontrados em lugares específicos não significa que os humanos não viviam lá há muito tempo.

Stoneking não acha que restou alguém na Terra que não seja – cientificamente, pelo menos – imigrante. 

“As pessoas sempre estiveram em movimento”, disse Stoneking. Sua recente pesquisa genética em populações da Ásia mostrou que há contatos entre quase todas as outras pessoas. “Todas as populações humanas estiveram em contato com outras”, incluindo os Khoe-San, disse ele, marcados por evidências em seus genes, suas culturas e suas línguas.

Os primeiros humanos se moveram extensivamente pela África por mais de 100.000 anos antes de saírem do continente, momento em que provavelmente se mudaram da África Oriental para o Oriente Médio, disse Stoneking. É provável que não muito tempo depois, as pessoas se dirigiram para o sudeste ao longo da costa do subcontinente indiano, com muito mais ondas de migrantes seguindo esses aventureiros originais por um período de dezenas de milhares de anos. Ao longo do caminho, teria havido uma grande troca de DNA, disse Stoneking, e esses dois componentes – movimentação e miscigenação – é o que ele vê como uma característica definidora da espécie humana.

“O que eles [os humanos] gostam de fazer é de migrar e de fazer sexo”, disse Stoneking. E talvez seja assim até hoje.. 

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.