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Finalmente sabemos o que é o estranho ‘macaco-sereia’ mumificado do Japão

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Uma análise aprofundada finalmente revelou a composição de um estranho ‘macaco sereia mumificado’ alojado no Templo Enju-in na cidade de Asakuchi, no Japão.

O peculiar artefato tem sido objeto de curiosidade há décadas, embora, de acordo com uma nota que o acompanha, suas origens oceânicas datam de séculos atrás. Com um total de 30 centímetros de comprimento, o corpo consiste em um torso de um primata peludo e o que parece ser um rabo de peixe escamoso, com duas mãos humanas na frente do rosto do primata com uma careta congelada eriçada e pequenos dentes pontiagudos.

Na mitologia japonesa, seres que são híbridos de peixes com corpos humanos são referidos como ningyo – criaturas aquáticas que são menos atraentes do que a sereia ocidental, embora igualmente populares em sistemas de crenças e tradições.

Escondido dentro de sua caixa de armazenamento de madeira de paulownia, uma nota manuscrita sugere que ele foi capturado na costa e onde hoje é Kochi por volta de 1740.

Desde fevereiro de 2022, cientistas da Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki (KUSA) trabalharam com o templo para descobrir o que pode ser essa criatura esquisita.

Agora, eles revelaram que, seja uma farsa, fraude ou obra de arte, o macaco-sereia não é nenhum animal, mas uma obra da mente humana.

Uma varredura tridimensional da ‘sereia’. [ver gif em 3D] (Créditos: KUSA)

Vários do que parecem ser ningyo mumificados podem ser encontrados em todo o Japão, muitos na posse de templos e museus e principalmente datados do Período Edo (1603-1868). Como nada do tipo jamais foi encontrado vivo, as origens dessas criaturas são um quebra-cabeça.

Para separar a analise de pelo menos um dos espécimes, a equipe KUSA trabalhou com o templo para examinar de forma não destrutiva o artefato de Enju-in. O exame incluiu uma avaliação visual, imagens de raios-X, imagens de tomografia computadorizada de raios-X, microscopia óptica e eletrônica, análise de raios-X fluorescentes, análise de DNA e datação por radiocarbono.

E a coisa mais evidente foi, além de uma mandíbula, o ningyo é completamente desprovido de arquitetura esquelética – então não é nem mesmo algum Frankenstein medonho de cadáveres de macacos e peixes costurados juntos, como foi o caso da farsa da ‘sereia de Fiji’ de PT Barnum.

Digitalização do artefato não revelando nenhum esqueleto, exceto o maxilar. (Créditos: KUSA)

As varreduras revelaram que o objeto é uma miscelânea de peças. Nenhuma madeira foi usada na construção do macaco-sereia; em vez disso, é feito principalmente de tecido, algodão e papel, revestido em uma substância feita pela mistura de pó de carvão ou areia com uma pasta. A cabeça é principalmente de algodão e revestida de uma substância como gesso.

O cabelo da cabeça é de animal, e as escamas vêm de dois tipos de peixe. A parte superior do corpo é coberta por pele de baiacu e a parte inferior pela pele escamosa de uma espécie de corvina. As unhas dos cinco dedos são de queratina animal, provavelmente algum tipo de chifre. A mandíbula era de algum tipo de peixe carnívoro.

Enquanto isso, a datação por radiocarbono de algumas das escamas desmente a nota manuscrita na caixa onde a ‘sereia’ estava armazenada, sugerindo que a criatura foi fabricada mais de um século depois.

“O corpo de peixe da ‘Sereia Ressecada’ na coleção de Enju-in é coberto com a pele de uma corvina, e a parte superior do corpo é feita de pano e papel”, concluíram os pesquisadores.

“É feito de papel laminado e pele de baiacu, com algodão e outros revestimentos e uma substância semelhante a gesso como base, e presume-se que tenha sido feito por volta do final do século XIX.”

Como a sereia chegou à posse do Templo Enju-in ainda é um mistério. Embora a construção da sereia tenha sido desmistificada, ela continua sendo um importante artefato de seu tempo, e será devolvida à sua casa onde ficará sob os cuidados dos sacerdotes.