O fazer científico está embasado em premissas metafísicas. A ciência não é possível sem tais pressupostos e, sendo eles pressupostos, não podem ser decididos como verdadeiros ou falsos cientificamente.
Por exemplo, a matematização das teorias científicas com o objetivo de compreensão da realidade é um pressuposto metafísico, compatível com as concepções platônicas-pitagóricas, aplicado intensamente a partir de Galileu, Newton e tantos outros cientistas do século XVII. O máximo que os cientistas podem argumentar a favor desse procedimento é que ele tem sido bem sucedido mas tal não prova que assim sempre será. Aliás, o sucesso do procedimento é sempre parcial pois do contrário os cientistas parariam de pesquisar.
O pressuposto de que a natureza é inteligível pelos cientistas é outro pressuposto metafísico que, se eliminado, acabaria com o fazer científico. A existência ou não de uma realidade independente do sujeito é outro pressuposto metafísico, muito evidente no contexto das interpretações da Mecânica Quântica. O elenco dos pressupostos metafísicos é extenso, portanto, me contento em exemplificar alguns poucos.
No século XX houve uma corrente filosófica que propugnou pela eliminação da metafísica, os positivistas lógicos. O programa do positivismo lógico (ou empirismo lógico) foi ultrapassado, superado, “degenerou” e foi reconhecido como inviável até por alguns de seus importantes integrantes.
Muitos cientistas sequer cogitam que o seu trabalho está impregnado de Metafísica e continuam tendo uma atitude antimetafísica que revela uma boa dose de ingenuidade filosófica e, às vezes, uma grande dose de prepotência. Complemento com duas citações literais:
“Os cientistas às vezes tentam se iludir, achando que as ideias filosóficas são apenas, na melhor das hipóteses, ornamentos ou comentários parasitas sobre os difíceis e objetivos triunfos da ciência e, que eles mesmos estão imunes às confusões às quais os filósofos dedicam suas vidas tentando resolver. Mas não existe ciência livre de filosofia; existe apenas ciência cuja bagagem filosófica é embarcada sem passar pela vistoria.“
Daniel Dennett – A Perigosa Ideia de Darwin
“O físico abandonou totalmente a filosofia. Hoje, nada de bom espera dela. De tal modo assim é que a simples palavra “filosofia” é capaz de suscitar nele um irônico ou mesmo desdenhoso sorriso. Contudo, a negligência da filosofia nada adiantará. De fato, ao dizermos que não estamos interessados pela filosofia, o que estamos provavelmente a fazer é substituir uma filosofia explícita por uma filosofia implícita, por isso, imatura e incontrolada.“
Mario Bunge – A Filosofia da Física