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Fósseis da “besta do trovão” mostram como alguns mamíferos ficaram maiores após a queda dos dinossauros

Brontotheres extintos como Megacerops kuwagatarhinus (ilustrado) já foram titãs pesando uma tonelada métrica ou mais. Mas a história evolutiva dos mamíferos não foi um caminho direto para o gigantismo. (Créditos: Oscar Sanisidro © 2018, Ku Biodiversity Institute/Universidade do Kansas)

Traduzido por Carlos Germano
Original de Elise Cutts para o Science News

Para alguns mamíferos, o caminho da evolução para o “gigantismo”, após o desaparecimento dos dinossauros, nem sempre foi uma estrada muito clara.

Criaturas extintas e pesadas, semelhantes a rinocerontes, chamadas brontotheres, evoluíram para formas maiores e menores ao longo de seus 22 milhões de anos, relatam pesquisadores na Science.

Os grandes brontotérios parecem ter desfrutado de nichos ecológicos relativamente vazios em comparação com seus parentes menores, e, portanto, eram menos propensos à extinção, explicando a tendência geral do grupo para tamanhos maiores ao longo dos anos.

“É um mundo evolutivo mais complexo do que o darwinismo nos mostraria”, diz o paleobiólogo Juan Cantalapiedra, da Universidade de Alcalá, em Madri. “Não é esse mundo organizado e previsível onde o progresso é uma coisa da natureza e os mais adaptados acabam sempre sobrevivendo.”

Depois que os dinossauros não-aviários foram extintos, há cerca de 66 milhões de anos, os mamíferos ficaram maiores – e alguns ficaram realmente muito grandes. Anteriormente, não maiores que gatos ou coiotes, alguns mamíferos rapidamente se transformaram em titãs de uma tonelada métrica ou mais. Brontotheres estavam entre os primeiros mamíferos a crescer – seu nome vem das palavras gregas para “trovão” e “besta”.

Apesar da grande maioria – quase 60 espécies conhecidas – dos brontotérios inclinar a balança para mais de uma tonelada métrica, os primeiros passos dessas “bestas do trovão” não eram nem um pouco estrondosos. Quando os primeiros brontotérios apareceram nas exuberantes florestas da antiga América do Norte e Ásia no início da Época Eoceno, cerca de 56 milhões de anos atrás, eles eram do tamanho de um cachorro Border Collie.

Em cerca de 16 milhões de anos, esses mamíferos se transformaram em uma família de gigantes.

Essa transformação também aconteceu em outras linhagens de mamíferos. E a explicação ortodoxa para essa tendência, chamada regra de Cope, sustenta que indivíduos maiores de uma única espécie têm uma vantagem de aptidão sobre os menores.

Possui um tamanho maior que os predadores é uma boa maneira de ficar fora do cardápio, e corpos maiores podem permitir cérebros maiores, opções dietéticas expandidas e muitas outras vantagens. “Portanto, as populações se tornarão enormes com o tempo, apenas porque é melhor”, diz Cantalapiedra.

A regra de Cope prevê que a seleção natural levaria as espécies e suas linhagens a aumentar o tamanho ao longo do tempo. Porém, um novo estudo sugere que os brontotheres seguiram um caminho evolutivo diferente para o gigantismo.

Embora os maiores brontotérios (um ilustrado na parte superior) pesassem várias toneladas métricas, a primeira dessas “bestas do trovão” (abaixo) não era maior que um cão de tamanho médio. (Ilustração de Oscar Sanisidro)
Embora os maiores brontotérios (um ilustrado na parte superior) pesassem várias toneladas métricas, a primeira dessas “bestas do trovão” (abaixo) não era maior que um cão de tamanho médio. (Ilustração de Oscar Sanisidro)

Cantalapiedra e seus colegas testaram três cenários evolutivos diferentes – incluindo a regra de Cope – para explicar o registro fóssil de brontotérios. Eles também usaram os dados fósseis para procurar ligações entre o tamanho dos brontotérios, a ecologia e a probabilidade de extinção ou divisão em novas espécies.

A nova análise sugere que as espécies de brontotério permaneciam do mesmo tamanho até se dividirem em novas espécies, que podiam ser maiores ou menores que seus antepassados.

Comparando a árvore genealógica dos brontotérios com um bonsai, Cantalapiedra diz que esse mecanismo é como deixar os galhos do bonsai se dividirem enquanto “corta os galhos de um lado”. A regra de Cope, por outro lado, seria como usar fios para guiar continuamente a árvore em uma direção.

“Muitas vezes invocamos a regra de Cope para mamíferos com tamanhos corporais enormes”, diz Ryan Felice, biólogo evolutivo da University College London, que não participou do estudo. “E, talvez, isso seja uma evidência afirmando: esse não é o fim da história.”

Além do tamanho do corpo, há uma questão mais ampla na paleobiologia sobre como ocorrem mudanças evolutivas drásticas.

Voltando ao bonsai de Cantalapiedra, a seleção natural dobra gradualmente os galhos da árvore da vida, moldando as espécies individuais à regra de Cope? Ou transformações dramáticas acontecem quando processos ecológicos ou ambientais cortam galhos inteiros em larga escala?

A tendência de Brontotheres evolui para tamanhos maiores parece sugerir a última opção. Em um mundo, onde existiam poucos comedores “grandes” de plantas, em detrimento dos pequenos, os menores brontotérios enfrentaram uma competição mais acirrada em comparação com seus parentes colossais.

Os brontotérios grandes se sobressaíram devido a sua ecologia diferente, não, necessariamente, porque os indivíduos maiores tinham uma vantagem sobre os membros menores de sua própria espécie, dizem os pesquisadores.

Verificar se o mesmo padrão se aplica a outros grupos de animais maiores seria um passo interessante, diz Felice. Ele também sugere a incorporação de dados paleoclimáticos na análise para procurar quaisquer ligações entre as mudanças no clima e a evolução dos mamíferos.

Carlos Germano

Carlos Germano

carlosgermanorf@gmail.com