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Fóssil revela ‘tucano’ esquisito com dentes que viveu junto aos dinossauros

Por Sara Hussein
Publicado na ScienceAlert

A descoberta de uma criatura descrita como semelhante a um “tucano de dentes salientes” que viveu há cerca de 68 milhões de anos mudou a nossa perspectiva sobre a diversidade dos pássaros que viviam ao lado dos dinossauros.

Com menos de nove centímetros de comprimento, o delicado crânio da ave que os cientistas apelidaram de Falcatakely forsterae pode ser facilmente ignorado.

Na verdade, quase foi, já que foi encontrado em um acúmulo de fósseis escavados por anos antes da tomografia computadorizada sugerir que o espécime merecia mais atenção.

Acontece que seu bico alto em forma de foice, embora pareça com o de tucano, é algo nunca antes visto no registro fóssil.

Reconstrução artística do Falcatakely forsterae. Crédito: Mark Witton.

Os pássaros da era mesozoica – entre 250 milhões e 65 milhões de anos atrás – tinham “bicos relativamente não especializados”, disse Patrick O’Connor, principal autor de um estudo sobre a nova criatura, à Agence France-Presse.

“Mas o Falcatakely mudou o jogo completamente, documentando um bico longo e alto diferente de tudo que se conhecia no Mesozoico”, acrescentou O’Connor, professor de anatomia e neurociência da Universidade de Ohio (EUA).

O crânio, descrito em um estudo publicado quarta-feira na revista Nature, ofereceu outras surpresas.

Embora Falcatakely tivesse um rosto bastante familiar para nós, parecido com o de pássaros modernos como tucanos e calaus, os ossos que compunham seu rosto têm pouca semelhança com essas criaturas modernas.

O crânio fossilizado do Falcatakely forsterae. Créditos: O’Connor et al., Nature, 2020.

“Apesar do formato geral do rosto ser semelhante ao dos pássaros modernos, como os tucanos, o esqueleto subjacente é muito mais semelhante ao dos dinossauros terópodes não-aviários como o Deinonychus e o Velociraptor”, disse O’Connor.

Isso “vira de pernas pro ar o que sabemos sobre a anatomia das aves do Mesozoico”.

Um perfil quase cômico

Revelar esses recursos não foi uma tarefa fácil.

O fóssil foi coletado originalmente em 2010 no noroeste de Madagascar.

Quando os pesquisadores finalmente voltaram sua atenção para ele, sete anos depois, eles enfrentaram um problema: o crânio e o bico eram frágeis demais para serem extraídos para análise.

Portanto, a equipe usou uma forma de imagem de alta resolução e modelagem digital para “dissecar virtualmente” os ossos.

Eles, então, usaram impressoras 3D para reconstruir o crânio e compará-lo com outras espécies conhecidas.

O que eles encontraram foi um animal quase chocantemente improvável, de acordo com Daniel Field, do departamento de geociências da Universidade de Cambridge (Reino Unido), que revisou o estudo para a Nature.

Não é apenas o bico que foi algo inesperado, mas o fato do bico no fóssil ter na ponta um único dente preservado, possivelmente um dos muitos que o pássaro teria.

“Essas características dão ao crânio de Falcatakely um perfil quase cômico – imagine uma criatura parecida com um minúsculo tucano de dentes salientes”, escreveu Field.

Nenhuma das aproximadamente 200 espécies de pássaros conhecidas no período “tem um crânio parecido com o de Falcatakely”, acrescentou.

Para O’Connor, a descoberta é uma evidência das lacunas potencialmente enormes que permanecem em nosso conhecimento sobre os pássaros que viveram junto aos dinossauros.

“Há um período de mais de 50 milhões de anos em que não sabemos quase nada sobre a história evolutiva das aves”, disse ele.

Encontrar fósseis intactos de pássaros do período é comparativamente raro porque seus esqueletos leves eram geralmente delicados demais para serem bem preservados.

A equipe de pesquisa, que tem trabalhado no sítio paleontológico de Madagascar onde o Falcatakely foi encontrado desde meados da década de 1990, está seguindo com as escavações, e O’Connor está animado com o que mais pode ser descoberto.

Ele também espera explorar porquê o Falcatakely tinha o bico que tinha.

“Ele estava relacionado ao processamento de alimentos? Aquisição de presas? Foi usado para sinalizar outros membros da espécie? Restam muitas perguntas”, disse O’Connor.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.