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Fotografia Kirlian: energia vital ou pseudociência?

Em 1939, na Rússia, um técnico em elétrica percebeu que ao tocar eletrônicos de alta voltagem em um ambiente escuro, um brilho colorido e difuso se formava ao redor de seu corpo. Após anos de estudo, ele e sua esposa inventaram a chamada “fotografia Kirlian” a partir desse princípio, acreditando que com isso poderiam obter importantes informações sobre a saúde dos seres vivos.

Atualmente, místicos do mundo inteiro veem tal técnica como uma aproximação clara entre ciência e espiritualidade, ignorando outras possíveis explicações para tal fenômeno que não a de manifestação física do “manto vital” que supostamente envolve todas as plantas, animais e seres humanos. É de senso comum que a natureza da luminosidade que aparece nas fotografias indica alterações em sua “saúde espiritual”, e que se trata de uma prova concreta da existência da “aura”, definida pelos espiritualistas como “um campo de energia sutil que recobre tudo aquilo que tem vida” – embora não existam indícios de que tal energia tenha sido detectada por meios diretos ou indiretos, em qualquer abordagem verdadeiramente científica.

Mas do que realmente se trata aquilo que se vê nas fotografias Kirlian? A verdade não poderia ser mais simples: é apenas água. A boa e velha H₂O. A eletricidade de alta voltagem e alta frequência emitida pelo aparelho tem a capacidade de ionizar o ar ao redor do objeto, e se o ar contém água, a luminosidade é formada. Pode-se pensar nisso como um “relâmpago lento”, embora o termo usado pelos cientistas seja “descarga de corona” – mecanismo que também é usado nas fotocópias e na fabricação do ozônio, dentre outras inúmeras aplicações comerciais e industriais que possui.

Também se sabe que há pelo menos 22 fatores responsáveis pela alteração dos resultados das fotografias. Dentre eles estão a pressão atmosférica, o ângulo e a força com os quais o objeto é pressionado contra a placa de metal e, logicamente, a umidade do ar – a qual pode ser alterada até mesmo com uma maior quantidade de suor na mão da pessoa em questão. Porém, a maior descoberta é que tal efeito não ocorre no vácuo, já que neste não há umidade: se a alegação de que a luminosidade se trata da aura da pessoa procedesse, ela não deveria desaparecer em ausência de matéria, visto que o “mundo espiritual” não deveria ser afetado por isso.

Em suma, o que se sabe hoje é: a visão mística da fotografia Kirlian não é mais do que charlatanismo – e é mais um exemplo da visão crítica que se deve ter acerca das informações pseudocientíficas que circulam nos meios de comunicação.

Fernanda Lima

Fernanda Lima

Sou estudante de ciências biológicas da Universidade de Brasília e aluna de iniciação científica do Laboratório de Neurociências e Comportamento da mesma universidade, atuando na área de neuropsicofarmacologia com foco em dependência, aprendizado e modelos animais. Além da neurociência, algumas áreas de meu interesse dentro da biologia são: microbiologia, imunologia, biologia estrutural e tecidual, fisiologia animal, ecologia e evolução.