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Gestantes com ovário policístico podem aumentar as chances de diabetes nos filhos

Concentrações elevadas de testosterona no sangue durante a gestação podem causar um ambiente intrauterino prejudicial para um feto feminino, resultando em síndrome dos ovários policísticos durante a vida reprodutiva. Além disso, a síndrome do ovário policístico pode causar aumento nos níveis de testosterona plasmáticos, além de favorecer o aparecimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, como a hipertensão, facilitando a ocorrência de infartos e acidente vascular encefálico (ou cerebral), diabetes e dislipidemias (aumento nas concentrações sanguíneas de colesterol LDL e triglicérides).

O estudo realizado na Universidad de Concepción, Chile, publicado na Scientific Reports, explorou os efeitos da exposição à testosterona em fetos sobre variáveis relacionadas à diabetes na fase adulta.

Ovelhas fêmeas adultas foram selecionadas de modo randomizado para sincronização do ciclo menstrual e acasaladas com carneiros de fertilidade comprovada. O dia do acasalamento foi registrado e após a confirmação da gravidez pela ultrassonografia, as barragens foram alocadas aleatoriamente para serem ou não serem tratadas conforme o grupo. Os animais tratados receberam injeções intramusculares quinzenais de 30 mg de testosterona (propionato de testosterona) dissolvidas em 1 ml de óleo vegetal por animal, dos dias 30 a 90 de gestação e depois injeções quinzenais com 40 mg de testosterona por animal até o dia 120 de gestação. As ovelhas do grupo controle foram injetadas com veículo de testosterona seguindo o mesmo esquema. As ovelhas tiveram acesso ao pasto e ao feno, suplementadas com alimentos granulados, de acordo com os protocolos de alimentação para ovelhas prenhes. No dia 120 da gravidez, amostras de sangue foram coletadas de gestantes por punção venosa após um jejum noturno e as concentrações plasmáticas de testosterona foram determinadas posteriormente.

Imediatamente após o nascimento (~ 147 dias), todos os cordeiros recém-nascidos foram pesados e depois mantidos sem estresse para facilitar as interações mãe-cordeiro e garantir a ingestão de colostro. Os cordeiros foram mantidos com as mães e com livre acesso à água e desmamados com 8 semanas de idade. Os recém-nascidos foram divididos em dois grupos: 1) nascidos de ovelhas tratadas com testosterona e; 2) nascidos de ovelhas tratadas com placebo.

Os pesquisadores concluíram que a exposição à testosterona pré-natal reduziu a sensibilidade à insulina, prejudicando a função pancreática e facilitando o aparecimento de diabetes.

Portanto, o estudo recomenda cautela com gestantes com síndrome do ovário policístico e aquelas expostas a altos níveis de testosterona.

Referência

  • Carrasco, A., Recabarren, M.P., Rojas-García, P.P. et al. Prenatal Testosterone Exposure Disrupts Insulin Secretion And Promotes Insulin Resistance. Sci Rep 10, 404 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-019-57197-x
Vitor Engrácia Valenti

Vitor Engrácia Valenti

Graduado em Fisioterapia pela UNESP/Marília. Doutorado em Ciências pela UNIFESP com Sandwich na University of Utah. Pós-Doutor em Fisiopatologia pela USP e Livre-Docente pela UNESP/Marília. É Prof. Adjunto de Fisiologia e Morfofisiopatologia na UNESP/Marília. Membro do corpo editorial da Scientific Reports, da Frontiers in Physiology, da Frontiers in Neuroscience e da Frontiers in Neurology. Coordenador do Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo. Contato: vitor.valenti@unesp.br