Pular para o conteúdo

‘Górgonas’ monstruosas sobreviveram a uma extinção em massa, mas eram um ‘clado extinto ambulante’

Traduzido por Julio Batista
Original de para a Live Science

Relatos de uma extinção em massa de “górgonas” no final do período Permiano foram muito exagerados, segundo novas pesquisas. Acreditava-se que esses bizarros paleomonstros haviam sido extintos junto com a maioria das outras formas de vida na Terra na época, mas os cientistas descobriram recentemente que algumas dessas chamadas górgonas sobreviveram até o período Triássico. No entanto, elas não sobreviveram por muito tempo, tornando-as um “clado extinto ambulante”, disse a equipe.

Uma análise de três espécimes encontrados na Bacia do Karoo, na África do Sul, revela que esse grupo de dentes-de-sabre, conhecido como gorgonopsia, os predadores dominantes durante o final do período Permiano, conseguiu sobreviver à “Grande Morte”. Durante este evento, que ocorreu há cerca de 251,9 milhões de anos e também é conhecido como extinção do final do Permiano, cerca de 90% de todas as espécies foram extintas. Os gorgonopsianos eram uma exceção – mas, apesar de sua sobrevivência, suas perspectivas não eram boas.

“‘Extintos ambulantes’ é um termo usado em estudos de extinção que se refere a quando um grupo de organismos sobrevive tecnicamente a uma extinção em massa, mas é tão danificado por ela que nunca se recupera e permanece um pouco antes de finalmente desaparecer”, disse o co-pesquisador do projeto Christian Kammerer, curador de pesquisa de paleontologia do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte em Raleigh, EUA, à Live Science por e-mail.

Os clados extintos ambulantes podem durar milhões de anos após uma extinção em massa “mas nunca se diversificam ou atingem abundância substancial nos ecossistemas, então eles já estão efetivamente ‘extintos’ de uma perspectiva macroevolutiva”, explicou ele.

A pesquisa foi apresentada em 3 de novembro na conferência anual da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados em Toronto, Canadá, e ainda não foi publicada em um periódico revisado por pares.

Um espécime de Cyonosaurus do final do Permiano exibido no Museu Iziko Sul-Africano na Cidade do Cabo, África do Sul. (Créditos: Christian Kammerer)

Os gorgonopsianos – batizados em homenagem às míticas e monstruosas górgonas gregas, cuja aparência podia transformar as pessoas em pedra – existiam muito antes dos dinossauros surgirem durante o Triássico, cerca de 240 a 230 milhões de anos atrás.

Os pesquisadores estavam cientes de um crânio parcial gorgonopsiano da Bacia de Karoo, datado da era indiana do período Triássico (251,9 milhões a 251,2 milhões de anos atrás). Outros pesquisadores descartaram aquele crânio, pensando que ele havia sido identificado incorretamente ou datado incorretamente. Mas uma nova investigação revelou que era “definitivamente um gorgonopsiano”, possivelmente do gênero Cyonosaurus, disse Kammerer e o principal autor Julien Benoit, pesquisador sênior de paleontologia no Instituto de Estudos Evolutivos da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo.

Então, a dupla analisou dois espécimes adicionais, provavelmente também membros do Cyonosaurus, da Bacia do Karoo. Dos três espécimes de gorgonopsianos, dois são de sítios paleontológicos que abrangem o limite Permiano-Triássico e o terceiro é de uma camada do início do Triássico.

Restos fósseis de Cyonosaurus no Museu Iziko Sul-Africano na Cidade do Cabo, África do Sul. (Créditos: Christian Kammerer)

É possível que o Cyonosaurus tenha sobrevivido à extinção em massa devido ao seu pequeno tamanho, abundância e dieta flexível. O carnívoro do tamanho de uma raposa – que exibia um focinho estreito, alongado e repleto de dentes – era um dos menores gorgonopsianos conhecidos já registrados. Predadores pequenos e generalistas geralmente se adaptam melhor a ecossistemas em mudança do que predadores grandes e especializados e, portanto, são mais propensos a enfrentar eventos catastróficos, disse Kammerer. “Portanto, se houvesse algum gorgonopsiano que esperássemos sobreviver no Triássico, seria o Cyonosaurus”, disse ele.

Após a extinção em massa, a biodiversidade caiu na Bacia do Karoo, e um animal herbívoro com presas chamado Lystrosaurus, que viveu durante partes do Permiano e Triássico, disparou em números, “então, Cyonosaurus provavelmente não ficou sem presas”, disse Benoit a Live Science em um e-mail.

A pesquisa está em andamento e “é necessário uma análise mais minuciosa desses sítios paleontológicos”, disse a equipe. Mas os dados indicam que os gorgonopsianos sobreviveram até a primeira parte do Triássico, o que é tão surpreendente quanto um tiranossauro sobrevivendo ao asteroide que colidiu com a Terra, brincaram os cientistas em seu resumo da conferência.

Dito isto, os gorgonopsianos do Triássico eram raros e de um único gênero, então esse clado extintos  “ainda deve ser considerado uma vítima da extinção em massa do final do Permiano”, disseram os pesquisadores.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.