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Gorilas inventaram uma vocalização única para chamar a atenção dos tratadores de zoológico

Traduzido por Julio Batista
Original de Tessa Koumoundouros para o ScienceAlert

Em uma descoberta fascinante, os gorilas-ocidentais-das-terras-baixas (Gorilla gorilla gorilla) no zoológico de Atlanta, EUA, foram pegos convocando seus tratadores usando um estranho híbrido de tosse e espirro.

Apenas duas outras espécies demonstraram essa capacidade de criar novas vocalizações para atrair nossa atenção: chimpanzés e orangotangos em zoológicos. Agora, podemos adicionar gorilas a essa lista.

Abaixo, a gorila Sukari, de 24 anos, demonstra esse gorila equivalente a um ‘aham’ humano que os pesquisadores chamaram de ‘snough’ – algo como “tossiro”, em português.

Como muitos de nós sabemos, Koko destacou a inteligência dos gorilas nos anos 80 e 90 com sua incrível capacidade de se comunicar com humanos usando linguagem de sinais. Ela foi treinada e trabalhou diligentemente para isso, mas agora parece que os gorilas se encarregaram de estabelecer uma comunicação única conosco em seus próprios termos.

A antropóloga biológica da Universidade da Geórgia, EUA, Roberta Salmi, e seus colegas, realizaram um experimento para confirmar o propósito do ‘snough’, colocando oito gorilas do zoológico em três situações diferentes.

Na primeira, apenas o tratador estava presente; no segundo, apenas o alimento estava presente; e no final, o tratador estava segurando a comida. A comida e o tratador, quando presentes, estavam à vista, mas fora de alcance.

Os gorilas envolvidos usaram a vocalização ‘snough’ mais quando havia um humano presente com comida, indicando que a chamada vocal é provavelmente uma tentativa de chamar a atenção do tratador.

Curiosamente, a mesma chamada vocal também foi encontrada em outros zoológicos dos EUA. Cerca de 33 gorilas em 11 zoológicos diferentes nos EUA e no Canadá fizeram uma chamada semelhante, embora apenas seis gorilas em quatro instalações diferentes tenham sido confirmados usando o som até agora.

Salmi e sua equipe não têm certeza se diferentes grupos se deram conta independentemente de que esse som é eficaz, ou se ele se espalhou pelos primatas inteligentes (que são mais do que capazes de aprender uns com os outros) transmitindo seus conhecimentos uns aos outros.

A maioria dos componentes da linguagem emerge nos sistemas de comunicação de outros animais, como aprendizado vocal, sintaxe e semântica. Acreditava-se que os primatas não humanos não tinham o equipamento certo para vocalizar da maneira que fazemos, mas isso já se mostrou falso.

Compartilhamos músculos vocais semelhantes, bem como nossa história evolutiva compartilhada. O que quer que os impeça de uma mímica vocal avançada os colocaram na categoria de aprendizes ‘não-vocais’.

Os gorilas nunca foram pegos usando o ‘snough’ para se comunicarem. A novidade desta chamada se soma a um crescente corpo de evidências de que os primatas podem de fato produzir novos sons para novos contextos e, portanto, são aprendizes vocais.

“Evidências de aprendizado vocal e/ou inovação, embora escassas, estão se acumulando lentamente para primatas em cativeiro”, escreveu a equipe em seu paper.

“Os orangotangos podem aprender a produzir enunciados sonoros e assobios, os chimpanzés adotam novos chamados referenciais de alimentos por meio da convergência vocal sob integração social e primatas enculturados, como o gorila Koko e o chimpanzé Vicky, são capazes de produzir um número limitado de novos enunciados”.

Pesquisas anteriores também mostraram que os gorilas podem reconhecer e distinguir entre as vozes de diferentes humanos.

Exemplos de aprendizagem vocal complexa – a capacidade de produzir sons únicos – são raros no reino animal e confirmados apenas em algumas espécies de aves, morcegos, pinípedes, cetáceos e elefantes. Mas todos o fazem imitando.

A análise acústica mostrou que o snough do gorila é um som único, não uma mímica – embora esses primatas atrevidos sejam certamente capazes de nos imitar de outras maneiras.

“Esses resultados demonstram que os gorilas podem modificar suas chamadas para produzir um novo som e, além disso, confirmar que podem produzir suas chamadas e gestos intencionalmente para modificar o estado de atenção de seu tratador”, concluiu a equipe em seu paper.

Nós claramente subestimamos há muito tempo essas almas inteligentes.

Esta pesquisa foi publicada na PLOS One.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.