Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
No que diz respeito à arqueologia do Paleolítico Inferior, eis a novidade: especialistas descobriram um recorde de 98 ferramentas de ossos de elefante em um local que remonta há cerca de 400.000 anos. Essa descoberta pode mudar nosso pensamento sobre como alguns dos humanos primitivos – como os Neandertais – criaram instrumentos e locais de fabricação como esses.
Os ossos foram coletados em um lugar chamado Castel di Guido, perto da Roma moderna. No passado obscuro e distante, era um bebedouro natural e popular para o agora extinto elefante-de-presas-retas (Palaeoloxodon antiquus), e parece que ali também morreu um número substancial de animais.
Esta coleção de ferramentas recém-identificada mostra que os hominídeos antigos de Castel di Guido não desperdiçaram os ossos que sobraram, mas, em vez disso, estabeleceram uma linha de produção primitiva com métodos que não vimos até agora, pelo menos não nesta medida.
“Vemos outros sítios com ferramentas de ossos deste período”, disse a arqueóloga Paola Villa, da Universidade de Colorado Boulder, nos EUA. “Mas não existe essa variedade de formas bem definidas”.
“Em Castel di Guido, os humanos estavam quebrando os ossos longos dos elefantes de maneira padronizada e produzindo espaços padronizados para fazer ferramentas de osso. Esse tipo de aptidão só se tornou comum muito mais tarde”.
Com base nas evidências coletadas em outros locais, os humanos primitivos geralmente usavam quaisquer fragmentos de ossos disponíveis, sem refiná-los ou adaptá-los – mas em Castel di Guido era diferente.
A técnica que eles usaram é conhecida como descamação por percussão, ou lascar pedaços de ossos com um instrumento separado para fazer ferramentas específicas. As ferramentas de pedra teriam um formato semelhante e eram muito mais comuns nessa época, o que torna a descoberta de 98 ferramentas de ossos uma surpresa.
Isso não quer dizer que os humanos antigos que viviam aqui eram particularmente “inteligentes”, observam os pesquisadores. A explicação pode ser simplesmente que eles tinham muito mais ossos de elefante para trabalhar do que outros grupos, e menos acesso a grandes pedaços de sílex que ocorrem naturalmente para fazer ferramentas de pedra.
As ferramentas que eles produziram incluíam aquelas que podem ter sido usadas para fatiar carne, bem como cunhas que poderiam ter sido utilizadas para criar uma alavanca para quebrar grandes ossos como fêmures de elefante.
“Primeiro você faz uma ranhura onde pode inserir essas peças pesadas que têm uma aresta de corte”, disse Villa. “Então, você martela e, em algum ponto, o osso vai quebrar”.
Uma das ferramentas mais interessantes descobertas no local é o que é conhecido como lissoir: um osso longo e liso em uma das pontas e que teria sido usado para cortar couro. Esses tipos de ferramentas não se tornaram comuns até cerca de 300.000 anos atrás.
Dada a diversidade de tipos de ferramentas aqui e as técnicas usadas para criá-las, os arqueólogos podem ter que recalibrar as datas para quando esses instrumentos e seus métodos de produção foram originalmente desenvolvidos.
Por enquanto, porém, isso parece um boom isolado de tecnologia de produção óssea. Com base nas evidências disponíveis, os pesquisadores pensam que os neandertais ocuparam o local e produziram as ferramentas de números recordes que agora foram catalogadas.
“Há cerca de 400 mil anos, você começa a ver o uso habitual do fogo e é o início da linhagem Neandertal”, disse Villa. “Este é um período muito importante para Castel di Guido”.
A pesquisa foi publicada na PLOS One.