Traduzido por Julio Batista
Original de
Um machado no rosto foi provavelmente o golpe final que matou um combatente medieval durante a Batalha de Gotland, um conflito sangrento que se desenrolou em 1361 entre fazendeiros suecos e o exército dinamarquês. Agora, mais de 660 anos depois, pesquisadores divulgaram uma reconstrução facial mostrando como esse homem pode ter se parecido.
Os pesquisadores descreveram detalhes horríveis sobre o guerreiros sem nome e a lesão medonha que o matou em um novo estudo, publicado online em 30 de outubro. Usando um método chamado fotogrametria, uma equipe separada de arqueólogos escaneou os restos humanos que foram enterrados perto do campo de batalha improvisado e publicou suas descobertas, e um crânio em particular chamou a atenção do principal autor do estudo, Cícero Moraes, um especialista gráfico brasileiro, artista 3D e designer.
No crânio, uma rachadura profunda se estendia diagonalmente da porção inferior esquerda do maxilar inferior até a cavidade oca onde antes ficava o nariz; vários dentes pareciam ter sido arrancados pela força do golpe, relataram os pesquisadores. Uma ferida de batalha tão grave só poderia ter sido infligida de uma maneira: com um poderoso golpe de machado no rosto.
“Entre as opções de armas que poderiam ter sido usadas, o machado parecia o mais coerente”, disse Moraes à Live Science por e-mail. “Então, modelei um machado e o coloquei no osso. É difícil saber se o matou, mas certamente causou muitos danos ao tecido mole”, disse Moraes. “Foi chocante ver aquele machado preso em seu rosto.”
Além da ferida horrível, não se sabe muito sobre o homem, além de que ele foi um dos 1.800 agricultores locais que morreram durante a Batalha de Gotland, disse Moraes. A invasão foi liderada pelo rei dinamarquês Valdemar Atterdag (também conhecido como Valdemar IV), que governou de 1340 a 1375, em um movimento estratégico para obter o controle da ilha sueca escassamente povoada.
“Muitos [dos] guerreiros de Gotland [eram] milicianos rurais inexperientes [e] foram massacrados pelo exército dinamarquês, com um quadro composto principalmente de mercenários bem treinados”, disse Moraes no e-mail. “Foram tantos mortos que a maioria foi enterrada com todas as suas roupas, causando grande espanto aos arqueólogos que realizaram as primeiras escavações.”
E o guerreiro que levou um machado no rosto não foi o único cujos restos mortais apresentavam horríveis feridas de batalha. “Muitos, muitos deles tiveram ferimentos bastante desagradáveis em seus crânios e pernas” que cortaram profundamente seus ossos, disse Moraes.
Para o estudo, Moraes criou dois modelos faciais 3D digitais que se aproximavam da aparência do homem. Na primeira, em preto e branco, o homem estava em uma pose neutra com os olhos fechados. O segundo incorporou uma abordagem artística mais especulativa, retratando o homem em cores e mostrando-o com cabelos escuros, barba cheia e um corte brutal que se estende pela parte inferior do rosto. De acordo com o paper, o segundo modelo visa “fornecer os elementos necessários de humanização completa” – um efeito difícil de transmitir com tons de cinza, disse Moraes.
Descrever a lesão horrível com cores e detalhes realistas transmite a brutalidade da guerra no passado distante e alerta para os horrores da guerra que persistem hoje, explicou Moraes.
“Espero que as pessoas vejam o que realmente é um conflito”, disse Moraes no e-mail. “Esta aproximação facial é um lembrete do que acontece.”