Por Francine Russo
Publicado na Scientific American
Algumas crianças insistem, desde o momento que começam a falar, que elas não pertencem ao gênero que seus sexos biológicos indicam. Então, onde podemos encontrar sobre esse conhecimento? E é possível discernir uma base genética ou anatômica para a identidade de gênero? Os estudos sobre essas questões são relativamente novos, porém, há um pouco de evidência para uma base genética. Gêmeos idênticos são mais prováveis que gêmeos fraternos para ambos serem transexuais.
Cérebros masculinos e femininos, em média, contém estruturas ligeiramente diferentes, embora que tenha grande variedades individuais. Vários estudos têm procurado sinais de que as pessoas transexuais têm o cérebro mais semelhante com o gênero ao qual se identificam. Os pesquisadores espanhóis — liderados pelo psicobiologista Antonio Guillamon da National Distance Education University de Madri e pela neuropsicologista Carme Junqué Plaja da University of Barcelona — usaram a ressonância magnética para examinar os cérebros de 24 homens transexuais e 18 mulheres transexuais, tanto antes e depois do tratamento hormonal. Os seus resultados, publicados em 2013, mostraram que, mesmo antes do tratamento, as estruturas cerebrais dessas eram mais semelhantes em alguns aspectos aos cérebros do sexo o qual eles se identificam. Por exemplo, os homens transexuais tinham áreas subcorticais relativamente finas (estas áreas tendem a ser mais finas nos homens do que nas mulheres). Já mulheres transexuais tendiam a ter regiões corticais mais finas no hemisfério direito, o que é característico de um cérebro feminino. (Tais diferenças se tornaram ainda mais pronunciadas após o tratamento hormonal)
“As pessoas transexuais têm cérebros que são diferentes dos masculinos e femininos, um tipo único de cérebro”, diz Guillamon. “É simplista dizer que um homem transexual é um homem preso em um corpo feminino. Não é porque eles têm um cérebro masculino, mas um cérebro transexual.”
Outros investigadores examinaram as diferenças de sexo através do funcionamento do cérebro. Em um estudo publicado em 2014, a psicóloga Sarah M. Burke, do VU University Medical Center, em Amsterdã, e a bióloga Julie Bakker, do Netherlands Institute for Neuroscience, utilizaram a ressonância magnética funcional para examinar como 39 meninos e meninas pré-púberes e 41 adolescentes com disforia de gênero respondem à androstenodiona, um esteroide com propriedades semelhante a do feromônio, conhecido por causar uma resposta diferente no hipotálamo de mulheres transexuais. Eles descobriram que os adolescentes com disforia de gênero responderam muito bem com os gêneros que lhes identificam. Os resultados foram menos claros com as crianças pré-púberes.
Esse tipo de estudo é importante, diz Baudewijntje Kreukels, especialista em disforia de gênero no VU University Medical Center, “porque as diferenças de sexo na resposta aos odores não podem ser influenciadas pela formação ou ambiente”. O mesmo pode ser dito de outro experimento de Burke e seus colegas. Eles mediram as respostas de meninos e meninas com disforia de gênero a eco-sons produzidos pelo ouvido interno em resposta a um clique de barulho. Os meninos com disforia de gênero responderam mais como mulheres típicas, que têm uma resposta mais forte a esses sons. Mas as meninas com disforia de gênero também responderam como mulheres típicas.
Globalmente, o peso destes estudos e também outros, apontam fortemente para uma base biológica para a transexualidade. Mas, dada a variedade de pessoas transexuais e a variação no cérebro de homens e mulheres em geral, levará muito tempo, se alguma vez, antes de um médico puder fazer uma varredura cerebral em uma criança e dizer: “Sim, esta criança é transexual”.