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Hélio primordial de bilhões de anos atrás parece estar vazando do núcleo da Terra

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

O hélio antigo e primordial que foi forjado após o Big Bang está vazando do núcleo da Terra, relataram cientistas em um novo estudo.

Não há motivo para se preocupar. A Terra não está esvaziando como um balão murcho. O que isso significa é que a Terra se formou dentro de uma nebulosa solar – a nuvem molecular que deu origem ao Sol, um detalhe sobre o nascimento do nosso planeta que há muito tempo não havia sido resolvido.

Também sugere que outros gases primordiais podem estar vazando do núcleo da Terra para o manto, o que, por sua vez, pode fornecer informações sobre a composição da nebulosa solar.

O hélio na Terra vem em dois isótopos estáveis. De longe, o mais comum é o hélio-4, com um núcleo contendo dois prótons e dois nêutrons. O hélio-4 é responsável por cerca de 99,99986% de todo o hélio do nosso planeta.

O outro isótopo estável, responsável por apenas cerca de 0,000137 por cento do hélio da Terra, é o hélio-3, com dois prótons e um nêutron.

O hélio-4 é principalmente o produto do decaimento radioativo do urânio e do tório, feito aqui mesmo na Terra. Em contraste, o Hélio-3 é na maior parte primordial, formado nos momentos após o Big Bang, mas também pode ser produzido pelo decaimento radioativo do trítio.

É o isótopo de hélio-3 que foi detectado vazando do interior da Terra, principalmente ao longo do sistema de cordilheiras vulcânicas meso-oceânicas, dando-nos uma boa indicação da taxa em que escapa da crosta terrestre.

Essa taxa é de cerca de 2.000 gramas por ano: “o suficiente para encher um balão do tamanho de sua mesa”, explicou o geofísico Peter Olson, da Universidade do Novo México (EUA). “É uma maravilha da natureza e uma evidência para a história de origem da Terra que ainda exista uma quantidade significativa desse isótopo no interior da Terra”.

O que é menos claro é a proveniência; quanto de hélio-3 pode estar emergindo do núcleo em comparação com quanto está no manto.

Isso nos diria a fonte do isótopo. Quando a Terra se formou, ela o fez acumulando material da poeira e do gás flutuando ao redor do Sol recém-nascido.

A única maneira pela qual quantidades significativas de hélio-3 poderiam estar dentro do núcleo planetário é se ele fosse formado em uma nebulosa próspera. Isso significa que o núcleo planetário também não teria se formado em seus arredores, e nem quando a nebulosa se dissipou e foi soprada para outro lugar.

Olson e seu colega, o geoquímico Zachary Sharp, da Universidade do Novo México, investigaram modelando o estoque de hélio da Terra à medida que evoluía. Primeiro, como se formou, um processo durante o qual o protoplaneta acumulou e incorporou o hélio; e depois depois do Grande Impacto.

Isso, os astrônomos pensam, é quando um objeto do tamanho de Marte colidiu com uma Terra muito jovem, enviando detritos para a órbita da Terra, eventualmente se recombinando para formar a Lua.

Durante este evento, que teria derretido novamente o manto, grande parte do hélio preso dentro do manto teria sido perdido. O núcleo, no entanto, é mais resistente ao impacto, sugerindo que pode ser um reservatório bastante eficaz para reter o hélio-3.

Na verdade, foi isso que os pesquisadores descobriram. Usando a taxa atual na qual o hélio-3 está vazando do interior, bem como modelos de comportamento do isótopo de hélio, Olson e Sharp descobriram que há provavelmente 10 teragramas (1013 gramas) para um petagrama (1015 gramas) de hélio-3 no núcleo do nosso planeta.

Isso sugere que o planeta deve ter se formado dentro de uma próspera nebulosa solar. No entanto, várias incertezas permanecem. A probabilidade de todas as condições serem atendidas para o sequestro de hélio-3 no núcleo da Terra é moderadamente baixa – o que significa que pode haver menos isótopo do que o trabalho da equipe sugere.

No entanto, é possível que também haja hidrogênio primordial abundante no núcleo do nosso planeta, preso no mesmo processo que pode ter acumulado o hélio-3. Procurar evidências de vazamento de hidrogênio pode ajudar a validar as descobertas, disseram os pesquisadores.

A pesquisa foi publicada em Geochemistry, Geophysics, Geosystems.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.