Murilo Resende, um seguidor do astrólogo Olavo de Carvalho e fiel praticante de sua seita pseudofilosófica, foi indicado para o cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), que é responsável, entre outras coisas, pela prova do Enem.
O presidente Jair Bolsonaro, ciente das críticas, não perdeu tempo para manifestar o seu posicionamento em defesa à escolha de Murilo e também para criticar uma suposta doutrinação ideológica nas escolas.
A defesa de Bolsonaro à escolha de Murilo parte de uma estratégia retórica da direita pós-moderna (ou direita lacradora), que consiste em afirmar a existência de uma “ideologia esquerdista” vigente nas escolas e universidades com a pretensão de aplicar sistematicamente a partir de sua força política uma ideologia muito mais nefasta, obscura e anticientífica, conhecida como “olavismo”.
A estratégia começou a ser aplicada recentemente, com os responsáveis pelo Ministério da Educação estabelecendo critérios obscuros para a seleção e rejeição de bolsas de estudos de mestrado e doutorado no exterior. De acordo com o jornal O Globo, o critério ideológico será eliminatório. Em outras palavras, qualquer pesquisa científica que estiver de contramão com os objetivos obscuros do novo governo não receberá qualquer auxílio, por exemplo: estudos que poderiam analisar os impactos das políticas públicas adotadas durante o governo Bolsonaro em sua relação com a desigualdade social e a extrema pobreza, ou mesmo trabalhos que poderiam analisar as motivações ideológicas por trás da escolha das disciplinas pseudocientíficas no ensino público.
Murilo segue fielmente esse olavismo, que consiste na manifestação contrária à produção de conhecimento científico e filosófico, depreciando abertamente valores racionalistas, humanistas e cientificistas. Sendo uma posição abertamente anti-intelectualista, o olavismo também busca reafirmar a presença de fantasmas intelectuais políticos (como o marxismo, de acordo com as palavras de seu fundador) com a ideia de persuadir a população menos instruída cientificamente e filosoficamente.
Murilo deixa claro esse posicionamento em sua biografia, em que relata a sua “superação” intelectual dos grandes nomes da divulgação científica, como Richard Dawkins e Carl Sagan, graças ao seu guru Olavo de Carvalho. Ele também mostra aversão ao transhumanismo, corrente intelectual e filosófica que visa usar ciência e tecnologia para melhorar a capacidade física e cognitiva humana, pois considera apenas “utopia”. Em seguida, Murilo apresenta o seu suposto progresso por optar à revelação religiosa em vez do conhecimento adquirido racionalmente e empiricamente, à pseudofilosofia olavista em vez de uma filosofia racionalista e ao antigo conservadorismo anticientífico em vez do humanismo.
Murilo também revela em suas traduções o seu medo à ciência, mostrando ser abertamente inimigo do cientificismo, a filosofia que postula que a ciência produz o conhecimento mais verdadeiro e profundo no tratamento de problemas cognoscíveis, por temer que suas crenças religiosas e ideologias anticientíficas não sobrevivam ao escrutínio cético.
Diante desta época de obscuridade pseudofilosófica e emergência anticientífica no cenário político nacional, Murilo representa a decadência intelectual e moral do novo Governo, que, longe de estabelecer mudanças que priorizem a eliminação de problemas sistêmicos vigentes, está mais preocupado em tirar direitos trabalhistas, tomar terras indígenas e excluir LGBTs dos direitos humanos.