Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert
Ao reexaminar artefatos de um importante cemitério da Idade do Bronze de 4.000 anos perto de Stonehenge, no Reino Unido, os arqueólogos descobriram um kit de ferramentas para trabalhar com objetos e revestimentos de ouro que não haviam sido identificados anteriormente.
O local da descoberta, a área de sepultamentos Upton Lovell G2a da ‘Cultura de Wessex’, foi escavado há mais de 200 anos e é crucial para nossa compreensão da Grã-Bretanha da Idade do Bronze.
No entanto, o que não havia sido visto antes era que alguns dos implementos desenterrados tinham vestígios de ouro.
Dois corpos foram recuperados de Upton Lovell G2a, e agora parece que um deles era um ourives. Essa nova abordagem para avaliar o conteúdo do sítio arqueológico oferece uma visão mais profunda da vida e do trabalho de 4.000 anos atrás.
“Esta é uma descoberta realmente empolgante para o nosso projeto”, disse a arqueóloga Rachel Crellin, da Universidade de Leicester, no Reino Unido.
“Na recente exposição World of Stonehenge no Museu Britânico, sabemos que o público ficou impressionado com a incrível obra de ouro de 4.000 anos em exibição.”
“O que nosso trabalho revelou é o humilde kit de ferramentas de pedra que foi usado para fazer objetos de ouro há milhares de anos.”
Foi uma nova análise de desgaste (um exame minucioso das arestas e superfícies) que revelou pela primeira vez resíduos de ouro em alguns dos bens funerários de pedra e liga de cobre. Também ficou evidente que diferentes ferramentas eram usadas para outras finalidades: não apenas martelar, por exemplo, mas também alisar.
Um estudo mais aprofundado com um microscópio eletrônico de varredura e um espectrômetro de energia dispersiva – ambos projetados para confirmar de forma abrangente os tipos de materiais – confirmou que os pesquisadores estavam olhando para o ouro de tempos antigos.
A equipe identificou resíduos de ouro em cinco artefatos diferentes e localizou uma assinatura elementar no ouro consistente com a ourivesaria da Idade do Bronze encontrada em todo o Reino Unido.
Essas ferramentas provavelmente eram usadas para adicionar decoração de ouro a objetos feitos de materiais como azeviche, xisto, âmbar, madeira ou cobre.
“O homem enterrado em Upton Lovell, perto de Stonehenge, era um artesão altamente qualificado, especializado em fazer objetos de ouro”, disse Lisa Brown, curadora do Museu de Wiltshire, onde as novas descobertas estão sendo exibidas. Brown não estava diretamente envolvida na pesquisa.
“Seu manto cerimonial, decorado com ossos perfurados de animais, também indica que ele era um líder espiritual e uma das poucas pessoas no início da Idade do Bronze que entendiam a magia da metalurgia.”
Os pesquisadores observam: “os ossos do sepultamento primário são geralmente descritos como masculinos, embora nenhuma avaliação osteológica tenha sido publicada”.
A equipe por trás deste novo estudo está pedindo uma categorização mais detalhada e diferenciada a ser aplicada a escavações arqueológicas, como a de Upton Lovell G2a – uma abordagem que pode revelar muito mais segredos.
Também é importante observar cuidadosamente os bens enterrados ao lado de uma pessoa ao tentar determinar a identidade e o papel dessa pessoa, disseram os pesquisadores. Isso é particularmente importante quando vários indivíduos estão enterrados no mesmo local, como é o caso aqui.
Finalmente, esses artefatos devem ser considerados em sua relação uns com os outros, concluem os autores do estudo. Aqui, o estabelecimento de uma chaîne opératoire – uma ‘cadeia operacional’ – revelou algo sobre o passado distante que anteriormente havia sido perdido.
“Ferramentas de ourivesaria que datam do início da Idade do Bronze são extremamente raras, portanto, identificar um kit de ferramentas para criar objetos compostos de ouro é uma descoberta extremamente importante”, disse o arqueólogo Chris Standish, da Universidade de Southampton, no Reino Unido.
“O fato de estar associado ao enigmático sepultamento de Upton Lovell G2a o torna ainda mais fascinante.”
A pesquisa foi publicada na revista Antiquity.