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Lobos adultos se apegam a humanos assim como os cães

Por Tessa Koumoundouros
Publicado na ScienceAlert

Não há dúvida de que nosso relacionamento antigo e duradouro com doguinhos e doguinhas tornou os cães especiais de muitas maneiras. Os cães também influenciaram nossa evolução – nosso vínculo com eles está escrito em nossos genes.

Mas algumas de suas melhores características podem já ter existido em seus ancestrais selvagens – como sua habilidade de formar ligações profundas, duradouras e emocionalmente dependentes com nós, humanos.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, comparou o comportamento de lobos cinzentos criados por humanos (Canis lupus) e cães (Canis familiaris) para testar isso.

“Os cães procuram proteção de seus donos sob ameaça ou ficam mais calmos em situações novas quando o dono está presente, mas mostram sinais de estresse em sua ausência”, disse a etologista Rita Lenkei.

“Estávamos nos perguntando se os lobos adultos socializados com humanos mostram pelo menos algumas características de comportamento de apego em relação a seus tratadores”.

Os critérios científicos para este tipo de apego incluem: preferência por um indivíduo em relação a outro; sentir-se seguro o suficiente para explorar quando o indivíduo que tem preferência está presente; sinais de estresse quando esse indivíduo sai; tentativas de restabelecer contato com o indivíduo; e comportamento intenso de saudação quando se reúnem.

Com certeza, os lobos cinzentos exibiram esses comportamentos em testes, assim como os cães. Quando seus tratadores os deixavam em um lugar desconhecido, eles choravam, ofegavam e lambiam os lábios – sinais de estresse. Eles puxaram a coleira na direção do esconderijo de seu treinador – buscando contato.

“No entanto, quando um estranho desaparecia esses comportamentos quase não estavam presentes”, explica o etólogo Tamás Faragó.

Os lobos também exploraram a nova área quando seu tratador estava lá, mostrando que se sentem mais seguros quando seu humano está presente.

O experimento também esclarece a natureza da relação entre caninos e humanos. Como a tratadora no estudo não era a pessoa que originalmente criou o filhote de lobo, os pesquisadores concluíram que esse vínculo se forma mais tarde em comparação a um vínculo que se aproxima de um relacionamento do tipo mãe-filho.

“Esses resultados levantam a possibilidade de que o apego dos cães aos humanos possa ter se originado do vínculo social entre os membros da matilha, que possui uma estrutura social muito semelhante às famílias humanas, nas quais vivem os cães de estimação hoje”, explicam os etólogos em seu paper.

“Devemos ter em mente que embora durante nosso teste eles tenham mostrado comportamento semelhante, estamos falando de espécies distintas, e o cachorro não é apenas um lobo domesticado, além de que o lobo nunca se tornará um animal de estimação”, alertou Lenkei, destacando que a socialização intensiva de seus lobos no experimento era necessária para que eles formassem esses comportamentos em relação aos humanos.

Exatamente quando começamos a mudar o ancestral comum dos lobos e cães ainda é um mistério intrigante, mas a análise genética mostra que as duas espécies podem ter divergido pelo menos há 40.000 anos.

Durante esse tempo, os cães desenvolveram essa capacidade de se relacionar com humanos em qualquer idade, e durante o novo experimento eles mostraram mais apego por todos os humanos envolvidos do que os lobos.

“As mudanças durante a domesticação são quantitativas, ao invés de qualitativas”, escreveu a equipe, significando que a força dessa habilidade é um fator de mudança ao invés de sua presença ou ausência dela.

Este estudo acrescenta mais peso às evidências crescentes de que cães e humanos não são os únicos animais que apresentam ligações entre espécies. Isso também está presente em primatas, e um estudo recente mostrou que traços de relacionamentos semelhantes são mostrados em gatos, incluindo angústia de separação e busca de contato.

No entanto, é uma área pouco pesquisada. Embora muitos de nós atestemos que todos os tipos de animais sob nossos cuidados formam laços mútuos conosco – incluindo os tratadores do zoológico e seus animais – muitos animais que compartilham uma longa história com os humanos, como cavalos, não tiveram o aspecto de estresse de separação quando investigado esse apego.

No entanto, outros componentes comportamentais de apego aos humanos, como sentir-se mais seguro na presença de seus cuidadores, foram vistos.

Claro, a falta de pesquisas sobre outras espécies não significa que elas não possam formar tais vínculos. Afinal, a capacidade de cuidar de outros indivíduos da mesma espécie está profundamente arraigada em nossa herança mamífera. Seria fascinante ver quantos animais podem estender isso a outras espécies.

Esta pesquisa foi publicada na Scientific Reports.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.