Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Um novo mapa, elaborado há anos, revela onde podemos encontrar vestígios antigos de água em Marte.
Usando dados coletados ao longo da última década pela Mars Express da ESA e pela Mars Reconnaissance Orbiter da NASA, ambas atualmente em órbita ao redor do planeta vermelho, os cientistas criaram o mapa mais abrangente já feito de depósitos minerais marcianos específicos.
Os depósitos são minerais aquosos – aqueles que foram alterados pela presença de água, como as argilas.
Sabemos que existem argilas em Marte; até vimos algumas de perto, ou o mais próximo possível, através do rover Curiosity. No entanto, um mapa mais amplo de onde elas podem ser encontradas nos dá uma imagem mais abrangente da história da água de Marte e ajudará a planejar futuras explorações do mundo agora seco e empoeirado.
E, ao contrário das expectativas, o mapa mostra que onde quer que vamos em Marte, certamente encontraremos algo interessante.
Antes do início da pesquisa, havia cerca de mil depósitos minerais aquosos conhecidos em Marte. O novo trabalho, liderado pelo cientista planetário John Carter (hm, isso é suspeito) da Universidade de Paris-Saclay e da Universidade Aix Marseille, na França, identificou significativamente mais.
O novo mapa mostra que existem centenas de milhares de depósitos minerais aquosos em Marte, pelo menos – particularmente em algumas das partes mais antigas da superfície do planeta.
“Acho que coletivamente simplificamos demais Marte”, disse Carter.
“Este trabalho agora estabeleceu que quando você está estudando os terrenos antigos em detalhes, não ver esses minerais é realmente a estranheza.”
Estudar esses minerais com mais detalhes pode revelar quanta água, historicamente, esteve presente em Marte.
Por exemplo, aqui na Terra, as argilas são formadas quando a água e outro mineral interagem, resultando em um mineral diferente.
Vermiculitas, esmectitas e cloritas se formam quando a água interage com ferro e/ou magnésio. Al-esmectitas e caulinitas são formados a partir de interações da água com o alumínio.
Mas a quantidade de água também desempenha um papel.
Quanto mais água, mais alterado o mineral final. Assim, os cientistas podem observar diferentes depósitos minerais e fazer uma estimativa sobre a quantidade de água presente no momento em que o mineral se formou.
O trabalho de Carter e seus colegas revelou a presença dos minerais mencionados acima, bem como sais de sulfato e carbonato por meio de dados espectrométricos. Essa é a medida da luz refletida por um objeto; ambos os orbitadores estão equipados com espectrômetros, cujos dados se complementam na mineralogia da superfície marciana.
O mapa resultante sugere que não há muito Marte que não tenha sido alterado pela água em algum momento de sua história. O planeta pode ser um lugar bastante seco agora, mas as evidências sugerem que historicamente não é estranho à umidade.
Também sugere que a reconstrução anterior de sua história da água – que a água formou as argilas, depois os sais vieram à medida que as águas secaram – pode ter sido simplista demais.
Alguns dos sais no novo mapa parecem ser mais antigos do que algumas das argilas e, em algumas regiões, os dois estão misturados de uma forma que sugere que podem ser contemporâneos.
Desvendar as implicações dessas descobertas exigirá uma quantidade significativa de análise.
“A evolução de muita água para nenhuma água não é tão clara quanto pensávamos, a água não parou da noite para o dia. Vemos uma enorme diversidade de contextos geológicos, de modo que nenhum processo ou linha do tempo simples pode explicar a evolução da mineralogia de Marte”, explicou Carter.
“Esse é o primeiro resultado do nosso estudo. O segundo é que, se você excluir os processos de vida na Terra, Marte exibe uma diversidade de mineralogia em ambientes geológicos, assim como a Terra.”
Outra questão que permanece é se a água era persistente ou episódica. Ficou lá por um longo período de tempo, ou periodicamente desaparecia e reaparecia?
Não há muito que possa ser obtido simplesmente a partir de um mapa de onde estão os minerais… mas, em outro paper, uma equipe liderada pela cientista planetária Lucie Riu, então na JAXA e agora na ESA, quantificou as abundâncias de minerais aquosos como visto no mapa global.
“Se soubermos onde e em que porcentagem cada mineral está presente, teremos uma ideia melhor de como esses minerais podem ter sido formados”, explicou Riu.
Juntos, os dois papers constituem uma base importante que precisava ser estabelecida antes de responder a essas perguntas.
E, talvez, identificar os pontos mais interessantes para enviar futuras missões, tripuladas ou não, na busca de entender como Marte se tornou um mundo seco – o que, por sua vez, pode ter algumas respostas sobre como a Terra não acabou igual.
Os dois papers foram publicados na Icarus. Eles podem ser encontrados aqui e aqui.