Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Os planetas do Sistema Solar se parecem muito com uma família. Júpiter é o pai mandão, mantendo todos na linha. Urano e Netuno são os gêmeos legais que só andam um com o outro. A Terra é o supernerd esforçado. Plutão é a ovelha negra. E Mercúrio tem uma cauda. Não, pera…
Sim. Quase como um grande e velho cometa, ele tem uma cauda fluindo a milhões de quilômetros de distância do planeta, brilhando com uma tênue luz laranja-amarelada.
Tudo graças à posição do planeta: Mercúrio é o planeta mais interno do nosso Sistema Solar. Está a menos da metade da distância de nossa estrela do que a Terra, uma distância média de 58 milhões de quilômetros.
A essa distância, o pequeno mundo denso e rochoso é constantemente banhado pela radiação solar e fustigado pelo vento solar.
Pelo fato de Mercúrio ter uma massa tão baixa – cerca de 5,5% da massa da Terra -, ele não é um planeta particularmente forte, gravitacionalmente falando. Nem seu campo magnético é particularmente forte: apenas 1% do da Terra.
Portanto, o planeta não tem o que poderíamos razoavelmente chamar de atmosfera. Em vez disso, ele tem uma fina exosfera composta principalmente de átomos de oxigênio, sódio, hidrogênio, hélio e potássio, influenciada pelo vento solar e pelo bombardeio de micrometeoroides. Essa exosfera está gravitacionalmente ligada ao planeta, mas muito difusa para se comportar como um gás.
Toda essa descrição para dizer que a superfície de Mercúrio tem pouca proteção contra a radiação solar e o vento solar.
Sabemos que a radiação solar exerce pressão. Nós até aproveitamos essa pressão para impulsionar uma espaçonave equipada com uma vela, de forma um pouco parecida com o vento impulsionando navios à vela. Essa pressão de radiação é o que dá aos cometas suas caudas.
À medida que os cometas se movem perto do Sol, o gelo dentro deles começa a se sublimar, levantando poeira ao escapar do corpo do cometa. A pressão da radiação solar empurra essa poeira em uma longa cauda, enquanto o gás é moldado pelos campos magnéticos embutidos no vento solar; é por isso que as caudas dos cometas sempre fluem para longe do Sol – não é o movimento que produz a cauda, mas sua proximidade com a estrela.
Mercúrio tem gelo, mas não é disso que sua cauda é feita. O ingrediente principal são os átomos de sódio; estes brilham quando ionizados pela radiação ultravioleta do Sol, em um processo semelhante ao que impulsiona as auroras da Terra.
Como resultado, o planeta tem a aparência de um cometa, com uma cauda que foi observada fluindo a quase 3,5 milhões de quilômetros de distância do planeta.
Vênus, ocasionalmente, quando o vento solar sopra na direção certa, tem uma estrutura semelhante a uma cauda de oxigênio ionizado. Os cometas podem ter sódio em suas caudas. A lua de Júpiter, Io, é rica em sódio. E a Lua da Terra, despida e desprotegida do vento solar, também tem uma cauda de sódio, embora não seja tão grande ou exuberante como a de Mercúrio.
Mas a cauda de Mercúrio é especial por outro motivo. Ao estudá-lo em momentos diferentes durante a órbita do planeta, podemos aprender sobre as variações sazonais na exosfera de Mercúrio e como eventos como erupções solares e ejeções de massa coronal afetam o pequeno planeta.
Como caudas de sódio foram encontradas principalmente associadas a corpos rochosos, a identificação de sódio em sistemas ao redor de outras estrelas poderia nos ajudar a rastrear exoplanetas rochosos e avaliar sua habitabilidade potencial.
É um belo exemplo de como os planetas podem ser muito diferentes uns dos outros – cada planeta do Sistema Solar, até mesmo Urano e Netuno, tem suas próprias idiossincrasias. Cada um é um indivíduo raro e precioso; aprender como e o porquê é um passo em direção à uma maior compreensão dos planetas e sistemas planetários do Universo maior.