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Mercúrio é um planeta com cauda. Veja como isso é possível

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Os planetas do Sistema Solar se parecem muito com uma família. Júpiter é o pai mandão, mantendo todos na linha. Urano e Netuno são os gêmeos legais que só andam um com o outro. A Terra é o supernerd esforçado. Plutão é a ovelha negra. E Mercúrio tem uma cauda. Não, pera…

Sim. Quase como um grande e velho cometa, ele tem uma cauda fluindo a milhões de quilômetros de distância do planeta, brilhando com uma tênue luz laranja-amarelada.

Tudo graças à posição do planeta: Mercúrio é o planeta mais interno do nosso Sistema Solar. Está a menos da metade da distância de nossa estrela do que a Terra, uma distância média de 58 milhões de quilômetros.

A essa distância, o pequeno mundo denso e rochoso é constantemente banhado pela radiação solar e fustigado pelo vento solar.

“Aqui está Mercúrio e sua cauda de sódio em 4 de junho através de um refrator de 60 mm e um filtro passa-banda de 589,3/1,0 nm. A estrela identificada no canto inferior esquerdo é HIP 31650”, divulgou o estudante de ciências planetárias Qiсһеng Ζһаng em seu Twitter. (Créditos: Qiсһеng Ζһаng/Twitter)

Pelo fato de Mercúrio ter uma massa tão baixa – cerca de 5,5% da massa da Terra -, ele não é um planeta particularmente forte, gravitacionalmente falando. Nem seu campo magnético é particularmente forte: apenas 1% do da Terra.

Portanto, o planeta não tem o que poderíamos razoavelmente chamar de atmosfera. Em vez disso, ele tem uma fina exosfera composta principalmente de átomos de oxigênio, sódio, hidrogênio, hélio e potássio, influenciada pelo vento solar e pelo bombardeio de micrometeoroides. Essa exosfera está gravitacionalmente ligada ao planeta, mas muito difusa para se comportar como um gás.

Toda essa descrição para dizer que a superfície de Mercúrio tem pouca proteção contra a radiação solar e o vento solar.

Sabemos que a radiação solar exerce pressão. Nós até aproveitamos essa pressão para impulsionar uma espaçonave equipada com uma vela, de forma um pouco parecida com o vento impulsionando navios à vela. Essa pressão de radiação é o que dá aos cometas suas caudas.

À medida que os cometas se movem perto do Sol, o gelo dentro deles começa a se sublimar, levantando poeira ao escapar do corpo do cometa. A pressão da radiação solar empurra essa poeira em uma longa cauda, enquanto o gás é moldado pelos campos magnéticos embutidos no vento solar; é por isso que as caudas dos cometas sempre fluem para longe do Sol – não é o movimento que produz a cauda, ​​mas sua proximidade com a estrela.

Mercúrio tem gelo, mas não é disso que sua cauda é feita. O ingrediente principal são os átomos de sódio; estes brilham quando ionizados pela radiação ultravioleta do Sol, em um processo semelhante ao que impulsiona as auroras da Terra.

Como resultado, o planeta tem a aparência de um cometa, com uma cauda que foi observada fluindo a quase 3,5 milhões de quilômetros de distância do planeta.

“10 nov. 2020: Isso não é um cometa, mas a cauda do nosso planeta próximo Mercúrio “visto” do meu quintal. Esta imagem empilhada foi exposta através de um filtro de sódio feito sob medida. O horizonte é da primeira exposição”, divulgou o astrofotógrafo Dr. Sebastian Voltmer em seu Twitter. Na foto, é possível ver a estrela binária Espiga (Spica). (Créditos: Dr. Sebastian Voltmer/Twitter)

Vênus, ocasionalmente, quando o vento solar sopra na direção certa, tem uma estrutura semelhante a uma cauda de oxigênio ionizado. Os cometas podem ter sódio em suas caudas. A lua de Júpiter, Io, é rica em sódio. E a Lua da Terra, despida e desprotegida do vento solar, também tem uma cauda de sódio, embora não seja tão grande ou exuberante como a de Mercúrio.

Mas a cauda de Mercúrio é especial por outro motivo. Ao estudá-lo em momentos diferentes durante a órbita do planeta, podemos aprender sobre as variações sazonais na exosfera de Mercúrio e como eventos como erupções solares e ejeções de massa coronal afetam o pequeno planeta.

A cauda de sódio de Mercúrio, registrada em 8 de julho de 2020 por Andrea Alessandrini. (Créditos: APOD Bot/Andrea Alessandrini/Twitter)

Como caudas de sódio foram encontradas principalmente associadas a corpos rochosos, a identificação de sódio em sistemas ao redor de outras estrelas poderia nos ajudar a rastrear exoplanetas rochosos e avaliar sua habitabilidade potencial.

É um belo exemplo de como os planetas podem ser muito diferentes uns dos outros – cada planeta do Sistema Solar, até mesmo Urano e Netuno, tem suas próprias idiossincrasias. Cada um é um indivíduo raro e precioso; aprender como e o porquê é um passo em direção à uma maior compreensão dos planetas e sistemas planetários do Universo maior.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.