Traduzido por Julio Batista
Original de Harry Baker para a Live Science
Um meteorito marciano que caiu na Terra há 12 anos contém uma “enorme diversidade” de compostos orgânicos, incluindo um que nunca foi visto em Marte antes, descobriu um novo estudo. As descobertas podem ajudar os cientistas a entender mais sobre a habitabilidade do Planeta Vermelho e se ele já abrigou vida, disseram os pesquisadores.
O meteorito de Tissint se partiu no céu acima da cidade de Tissint, no Marrocos, em 18 de julho de 2011, espalhando fragmentos da rocha espacial no deserto ao redor. O meteorito, que se formou em Marte centenas de milhões de anos atrás, provavelmente foi ejetado de nosso vizinho cósmico por um evento cataclísmico antes de ser pego no campo gravitacional da Terra. É um dos apenas cinco meteoritos marcianos testemunhados por pessoas no momento em que colidiu com o nosso planeta.
Em um novo estudo, publicado em 11 de janeiro na revista Science Advances, os pesquisadores analisaram fragmentos do meteorito e encontraram exemplos de pelo menos cinco tipos diferentes de compostos orgânicos.
O novo estudo representa “o catálogo mais abrangente já feito da diversidade de compostos orgânicos encontrados em um meteorito marciano ou em uma amostra coletada e analisada por um rover”, escreveram os pesquisadores em um comunicado.
Compostos orgânicos são moléculas que contêm átomos de carbono ligados a átomos de um ou mais outros elementos — geralmente hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre, entre outros. Esses compostos são altamente abundantes em todas as formas de vida na Terra, o que significa que sua presença em rochas espaciais pode indicar a existência de vida em outras partes do Sistema Solar. No entanto, alguns compostos orgânicos também podem ser formados por processos não biológicos, então os cientistas não podem saber ao certo se tais compostos são um sinal de vida em outros planetas.
O meteorito de Tissint continha compostos orgânicos de magnésio, que são “extremamente abundantes” em todo o meteorito e nunca foram detectados em amostras marcianas antes, escreveram os pesquisadores no estudo. A equipe acredita que esses compostos foram formados nas condições de alta pressão e alta temperatura do antigo manto de Marte (a camada abaixo da crosta de Marte), o que significa que eles não são biológicos e podem revelar pistas sobre como o interior profundo do Planeta Vermelho se formou.
Os pesquisadores também descobriram vários outros compostos dentro do meteorito, incluindo ácidos carboxílicos ramificados alifáticos – compostos que possuem estruturas semelhantes aos aminoácidos que compõem as proteínas; aldeídos — compostos onde um carbono é duplamente ligado, ou compartilha múltiplos elétrons, com um átomo de oxigênio; olefinas ou hidrocarbonetos com um ou mais átomos de carbono ligados duplamente uns aos outros; e poliaromáticos — hidrocarbonetos complexos que incluem múltiplas estruturas de anel.
Esta não é a primeira vez que compostos orgânicos foram descobertos dentro de um meteorito marciano. O meteorito de Allan Hills 84001, ou ALH 84001, que caiu na Antártida em 1984, continha vários compostos orgânicos; sua descoberta provocou anos de debate sobre se esses compostos poderiam ter sido formados por antigas formas de vida marcianas. Mas em julho de 2022, os pesquisadores descobriram que os compostos dentro do ALH 84001 provavelmente foram criados por reações geológicas básicas bilhões de anos atrás.
Embora nenhum desses compostos orgânicos identificados no novo estudo sejam bioassinaturas óbvias para a vida alienígena, os pesquisadores observam que eles ainda podem ajudar a ensinar aos cientistas coisas novas sobre nosso vizinho cósmico, incluindo potencialmente se as antigas condições geológicas do planeta podem ter favorecido a vida.
“Entender os processos e a sequência de eventos que moldaram essa rica relíquia orgânica revelará novos detalhes sobre a habitabilidade de Marte e, potencialmente, sobre as reações que podem levar à formação da vida”, disse Andrew Steele, coautor do estudo, um astrobiólogo da Instituição Carnegie para Ciência em Washington DC, EUA, e um cientista da missão dos rovers Perseverance e Curiosity da NASA, no comunicado.
Mas futuras missões a Marte são necessárias para expandir nossa compreensão do Planeta Vermelho antes que possamos dizer com mais confiança se a vida floresceu ou não em Marte, disseram os pesquisadores.
“A questão de saber se [a vida] já existiu em Marte é um tópico de pesquisa muito acalorado que requer um conhecimento mais profundo da água, moléculas orgânicas e superfícies reativas de nosso planeta vizinho”, disse o principal autor do estudo, Philippe Schmitt-Kopplin, um biogeoquímico da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, no comunicado.