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Múmia antiga é encontrada sepultada em um casulo estranho nunca antes visto por arqueólogos

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

A descoberta de uma rara “múmia de lama” do antigo Egito surpreendeu os arqueólogos, que não esperavam encontrar o falecido envolto de um casulo de lama endurecida.

O “envoltório de lama” é um achado incomparável; ele revela “um tratamento mortuário não documentado anteriormente no registro arqueológico egípcio”, escreveram os pesquisadores no estudo, publicado online na quarta-feira (3 de fevereiro) na revista PLOS One.

É possível que o “envoltório de lama” tenha sido usado para estabilizar a múmia depois que ela foi danificada, mas a lama também pode ter sido destinada a emular práticas usadas pela elite da sociedade, onde pessoas às vezes eram mumificadas com materiais importados à base de resina durante um período de quase 350 anos, no final do Império Novo à 21ª Dinastia (cerca de 1294 a.C. a 945 a.C.), disseram os pesquisadores.

Então, por que esse indivíduo estava coberto de lama, em vez de resina?

“A lama é um material mais acessível”, disse a pesquisadora que liderou o estudo Karin Sowada do Departamento de História e Arqueologia da Universidade Macquarie em Sydney, Austrália, ao Live Science por e-mail.

O envoltório de lama não é a única esquisitice da múmia. A múmia, datada de cerca de 1207 a.C., foi danificada após a morte e até mesmo enterrada no caixão errado, destinado a uma mulher que morreu mais recentemente, descobriram os pesquisadores.

Este caixão decorado (à direita) não pertence à múmia estranha envolta em lama (à esquerda). Créditos: Sowada et al./PLOS ONE.

Como muitas múmias egípcias antigas, a “múmia de lama” e seu caixão tampado foram adquiridos em 1800 por um colecionador ocidental, neste caso, Sir Charles Nicholson, um político inglês-australiano que a trouxe para a Austrália.

Nicholson doou-as para a Universidade de Sydney em 1860, e hoje elas residem no Museu Chau Chak Wing da universidade. Mas parece que quem vendeu os artefatos enganou Nicholson; o caixão é mais jovem do que o corpo enterrado nele, descobriram os pesquisadores.

Imagens de tomografia computadorizada renderizadas em 3D mostrando o casulo de lama. Créditos: Sowada et al. 2021 / Museu Chau Chak Wing / Macquarie Medical Imaging.

“Os traficantes locais provavelmente colocaram um corpo mumificado não relacionado no caixão para vender um ‘conjunto’ mais completo, uma prática bem conhecida no comércio local de antiguidades”, escreveram os pesquisadores no estudo. O caixão está inscrito com o nome de uma mulher – Meruah ou Meru(t)ah – e data de cerca de 1000 a.C., de acordo com a iconografia que o decora, o que significa que o caixão é cerca de 200 anos mais novo que a múmia nele.

Embora o indivíduo não seja Meruah, as pistas anatômicas indicam que é uma mulher que morreu entre as idades de 26 e 35 anos, disseram os pesquisadores.

Tratamento enlameado

Os pesquisadores tiveram a primeira pista de que a múmia de 3.400 anos era incomum em 1999, quando uma tomografia computadorizada revelou algo estranho em seu interior. Para investigar, o pesquisador extraiu algumas amostras dos invólucros e descobriu que continham uma mistura de lama arenosa.

Quando uma nova equipe de pesquisadores escaneou novamente a múmia em 2017, eles descobriram detalhes anteriormente desconhecidos sobre o casulo, especialmente quando eles reexaminaram quimicamente os fragmentos de lama.

Imagens de tomografia computadorizada das feições internas da pessoa mumificada. O casulo pode ser visto como uma fina linha branca. Créditos: Sowada et al. 2021 / Museu Chau Chak Wing / Macquarie Medical Imaging.

Depois que ela morreu, a mulher foi mumificada e envolvida em tecidos. Então, seus restos mortais, incluindo seu joelho esquerdo e perna, foram danificados em “circunstâncias desconhecidas”, possivelmente por ladrões de túmulos, o que levou alguém a consertar sua múmia, provavelmente dentro de uma a duas gerações do primeiro sepultamento – um feito que incluiu “reinvolucramento, involucramento, enchimento com têxteis e aplicação do casulo de lama”, escreveram os pesquisadores no estudo.

Quem consertou a múmia fez um complicado sanduíche de terra, colocando uma massa de lama, areia e palha entre camadas de invólucros de linho. A parte inferior da mistura de lama tinha uma camada base de um pigmento à base de calcita branca, enquanto a parte superior era revestida com ocre, um pigmento mineral vermelho, disse Sowada.

“A lama foi aparentemente aplicada em lençóis enquanto ainda estava úmida e flexível”, disse ela. “O corpo foi envolto em faixas de linho, o casulo foi aplicado e, em seguida, outras faixas colocadas sobre ele”.

Mais tarde, a múmia foi danificada novamente, desta vez no lado direito do pescoço e da cabeça. Como esse dano afeta todas as camadas, incluindo o casulo lamacento, parece que foi mais recente e levou à inserção de pinos de metal para estabilizar as áreas danificadas na época, disseram os pesquisadores.

Esta “múmia de lama” não é a única múmia egípcia antiga sujeita a reparos post-mortem; o corpo do rei Seti I foi involucrado mais de uma vez, assim como os restos mortais do rei
Amenófis III (avô do rei Tut), observaram os pesquisadores.

Quanto ao casulo de lama da mulher, “esta é uma descoberta genuinamente nova na mumificação egípcia”, disse Sowada. “Este estudo ajuda a construir uma imagem maior – e com mais nuances – de como os antigos egípcios tratavam e preparavam seus mortos”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.