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Na era da informação as crianças podem precisar de mais ajuda para encontrar respostas para seus questionamentos

Por Hailey Gibbs
Publicado no The Conversation

As crianças fazem muitas perguntas. Mesmo antes delas conseguirem formar palavras, elas apontam para as coisas que querem aprender.

Algumas perguntas são fáceis de responder: “Que animal é esse?” ou “Eu posso beber sua cerveja?” e outras como “O que é Deus?” e “Por que as pessoas morrem?” são mais difíceis.

Um estudo descobriu que crianças entre três e cinco anos de idade fazem uma média impressionante de 76 perguntas por hora. Essa busca incessante por informações é importante para o aprendizado delas. Essa curiosidade fornece acesso ao conhecimento que outras pessoas podem compartilhar.

Ao trabalhar em meu doutorado sobre desenvolvimento humano, a ciência de como as crianças crescem e aprendem, estou estudando as perguntas feitas pelas crianças e como elas entendem as respostas que recebem. Também estou investigando em que circunstâncias as crianças podem ser céticas em relação a essas respostas.

Com o surgimento da Internet e das mídias sociais, as pessoas não acessam informações como costumavam. Também é mais difícil saber com certeza se essas informações são confiáveis.

Por esse motivo, é mais importante do que nunca, na minha opinião, ser um bom consumidor de informações. E, mais importante, na atualidade é necessário começar a aprender procurar informações desde a infância.

20 perguntas

Para ver o que torna as pessoas boas ou ruins, considere como o jogo das 20 perguntas funciona. Normalmente, um participante tem que pensar em uma pessoa, lugar ou coisa e, então, responder sim ou não às perguntas dos outros jogadores, para que eles possam tentar descobrir o que é.

Perguntas amplas, como “É um animal?”, funcionam melhor primeiro. Com mais perguntas respondidas, os jogadores podem fazer questões mais direcionadas, como “Voa?”. Eventualmente, faz sentido fazer uma pergunta muito mais restrita, como “É uma águia?”.

Os estudos recentes de cientistas que investigam como as pessoas formulam perguntas e exploram problemas, mostraram que, quando as crianças completam cinco anos de idade, elas têm uma compreensão do que torna uma pergunta boa ou ruim.

Uma boa pergunta é voltada para o tipo de informação que você está procurando. Se há muitas coisas que você não sabe, é melhor primeiro fazer uma pergunta ampla que possa eliminar muitas respostas possíveis ao mesmo tempo.

Assim como no jogo 20 perguntas, depois de saber mais, é mais razoável fazer uma pergunta restrita.

Não há uma maneira única de fazer boas perguntas. Fazê-las depende do que a pessoa que está pedindo quer aprender e do que ela já sabe.

Apesar da capacidade de pensar em quais informações provavelmente serão produzidas por uma determinada pergunta, as crianças – assim como alguns adultos – têm problemas no momento de elaborar bons questionamentos.

E, mais importante do que saber se alguém joga 20 perguntas, na era digital as pessoas de todas as idades, às vezes, não conseguem distinguir entre fontes confiáveis e não confiáveis de informações quando estão buscando respostas para suas dúvidas. Isso é especialmente problemático em tópicos científicos, como a probabilidade de terremotos ou os benefícios da vacinação.

Há muitas explicações para esse problema. Isso pode acontecer com assuntos que se tornam politizados, dificultando a revisão de uma crença ou com questões que os especialistas não conseguiram explicar da maneira que o público conseguisse entender, ou quando não há consciência pública sobre o que está envolvido em um campo de pesquisa.

Escolhendo boas fontes

Algumas crianças entendem que mais evidências favoráveis significam que uma conclusão é mais justificada, ou mais precisamente confiável.

Em um estudo recente que ajudei a desenvolver e publicar, por exemplo, as crianças preferem aprender com pessoas que sustentam totalmente o que afirmam com base em evidências, em oposição aos que não apresentam evidências insuficientes ou nenhuma evidência.

Porém, há alguns casos em que essa preferência é contestada. Isso ocorre, em parte, pelo fato de que a forma como acessamos as informações mudam. Com o advento da Internet, ficou mais difícil dizer se as reivindicações são realmente sustentadas empiricamente.

Até a década de 1990, as pessoas buscavam respostas para perguntas como “Como você chama um cientista que estuda insetos?” ou “Como funciona o radiador de um carro?” em livros, manuais e enciclopédias. Em quase todos os casos, os profissionais examinaram e editaram esses materiais antes de serem disponibilizados ao público.

Agora, as pessoas se sentem mais livres para se decidir sobre o quê leem e, como há muitas fontes de informações, mais do que ocasionalmente conflitantes, as pessoas às vezes se sentem habilitadas a descartar as evidências que realmente deveriam aceitar.

Alexa, o que é uma fonte confiável?

Além disso, qualquer pessoa, incluindo crianças, pode fazer uma pesquisa no Google ou realizar sua pergunta à Siri ou Alexa. Em um instante, a pessoa obterá acesso a centenas, milhares ou até milhões de respostas. O que ela não tem é uma garantia de que as respostas são precisas.

Isso torna o entendimento do que faz uma boa pergunta e o que torna as respostas confiáveis mais complicado.

Os estudiosos, incluindo uma equipe de pesquisadores da Universidade de Stanford, descobriram que os estudantes se beneficiariam com treinamento escolar sobre como detectar falsidades ao pesquisarem informações online ou ao acompanharem as notícias.

É por isso que os pesquisadores do Right Question Institute, uma organização sem fins lucrativos de pesquisa educacional que busca fomentar a alfabetização em informação, estão começando a auxiliar professores a explicar como uma boa pergunta pode ser feita em diferentes contextos.

Por exemplo, os professores podem incentivar os alunos a trabalharem juntos para construir uma ou duas perguntas que se tornem o foco da aula. A natureza da pergunta difere de acordo com a disciplina se é, por exemplo, ciência ou história.

Em uma aula de ciência, uma boa pergunta a ser considerada pode ser algo como “Como a evolução funciona?” ou “Por que as sequoias ficam tão altas?”. Em uma aula de história, elas podem ser “Por que a Inglaterra se desvinculou da Igreja Católica?”

A ideia é aproveitar as questões que as crianças já podem estar ponderando para aumentar o seu envolvimento e ajudá-las a pensar sobre como constituiria uma boa resposta para essas perguntas. Essas questões, portanto, abrem as portas para a investigação e discussão cuidadosa.

Acredito que todos os alunos se beneficiariam com esse tipo de treinamento.

Douglas Ferrari

Douglas Ferrari

Graduado em Sociologia, Docente de Sociologia e Filosofia, desenvolve atividades de Divulgação e Educação Científica. Membro do Universo Racionalista, Presidente/Fundador do Grupo de Astronomia e Física Concórdia-SC.