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Pesquisa sugere cautela com o sistema cardiovascular durante voos comerciais acima de 2 horas

Atualmente, voos comerciais são meios de transporte comuns. É importante destacar que aviões comerciais voam a altitudes de aproximadamente 34.000 pés, ao passo que os regulamentos da Federal Aviation Administration (FAA) impõe como limite a pressurização da cabine a um valor perto de 8.000 pés. Esse valor corresponde à pressurização peculiar praticada pela maioria dos aviões. A pressurização para esse equivalente é selecionada para equilibrar a prevenção de sintomas agudos relacionados à altitude entre os passageiros com exigências operacionais na aeronave.

As alterações mencionadas acima referentes ao ambiente dentro do avião podem repercutir negativamente no organismo das pessoas durante e após o voo. As complicações podem ser influenciadas pelas características do voo, atividade durante o voo, fatores do estilo de vida e histórico médico ou familiar, e incluem a ativação do sistema nervoso simpático, aumento da demanda miocárdica, vasoconstrição e alterações no controle autonômico cardíaco e na hemodinâmica que, por sua vez, podem aumentar o risco de problemas cardiovasculares relacionados a voos.

Um grupo de pesquisadores das Universidades de Harvard, Georgetown, Brown e Guatemala conduziu um estudo publicado na Frontiers in Physiology que teve como objetivo analisar os efeitos fisiológicos das altitudes simuladas da cabine e os níveis mais baixos de oxigênio no avião sobre os passageiros.

Foram monitorados 41 participantes com idade acima de 50 anos em uma câmara hipobárica por 2 dias. Em um dia eles foram expostos ao equivalente a 7.000 pés de altitude (os regulamentos limitam a pressurização a 8.000 pés) para um voo simulado de 4-5 h. No outro dia eles foram expostos ao nível do solo.

Para mensurar as variáveis fisiológicas, os cientistas analisaram a variabilidade da frequência cardíaca (VFC), um método reconhecido para verificar alterações no ritmo do coração, o qual fornece relevantes informações clínicas sobre o estado de saúde da pessoa.

Foi notado que a VFC reduziu durante os voos nos voluntários idosos. Os resultados sugerem que passageiros com idade mais avançada podem mostrar sinais de estresse autonômico cardíaco a pressões de cabine equivalentes a 7.000 pés, mais próximas do nível do mar do que o limite regulamentado de 8.000 pés.

Em suma, o estudo relatou que condições típicas de voo simulados provocam alterações no controle autonômico cardíaco, sugerindo aumento da atividade simpática ou reduções no impulso parassimpático. Esses resultados, se confirmados, podem sugerir a necessidade de diretrizes para proteger passageiros vulneráveis, incluindo avaliação de sintomas após viagens aéreas, uso de concentradores de oxigênio e educação sobre comportamentos saudáveis em voo.

Referência

  • Meyer MJ, Mordukhovich I, Wellenius GA, Mittleman MA, McCracken JP, Coull BA and McNeely E (2019) Changes in Heart Rate and Rhythm During a Crossover Study of Simulated Commercial Flight in Older and Vulnerable Participants. Front. Physiol. 10:1339. DOI:10.3389/fphys.2019.01339
Vitor Engrácia Valenti

Vitor Engrácia Valenti

Graduado em Fisioterapia pela UNESP/Marília. Doutorado em Ciências pela UNIFESP com Sandwich na University of Utah. Pós-Doutor em Fisiopatologia pela USP e Livre-Docente pela UNESP/Marília. É Prof. Adjunto de Fisiologia e Morfofisiopatologia na UNESP/Marília. Membro do corpo editorial da Scientific Reports, da Frontiers in Physiology, da Frontiers in Neuroscience e da Frontiers in Neurology. Coordenador do Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo. Contato: vitor.valenti@unesp.br