Traduzido e adaptado de Student Voices
Ultimamente vemos um significativo aumento na procura de nootrópicos, também conhecidos como smart drugs. O termo nootrópico abrange uma série de substancias, medicamentos e suplementos que supostamente aumentam a capacidade cognitiva de uma pessoa, alguns são embasados em evidencias e outros possuem efeito meramente especulativo na cognição, não diferindo de um placebo.
Essas smart drugs (algo como drogas da inteligência em tradução livre) aumentariam nossa cognição. Cognição por sua vez é a maneira pela qual adquirimos, processamos e armazenamos informações, de modo que as drogas prometem melhor memorização e atenção em pessoas normais e saudáveis.
As smart drugs mais populares no mercado incluem o metilfenidato (popularmente conhecido como Ritalina) e anfetaminas como o Adderall, estimulantes que são normalmente utilizados para tratar o Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Vale mencionar também remédios para narcolepsia como o modafinil, fitoterápicos como a Ashwagandha, além do uso de multivitamínicos muitas vezes vendidos por preços abusivos com a premissa de aumentar a inteligência.
Há evidências que sugerem que o modafinil, o metilfenidato e a anfetamina melhoram os processos cognitivos, como a aprendizagem e a memória de trabalho. Mas nem tanto. Em certos estudos o metilfenidato e a anfetamina melhoraram o desempenho de indivíduos saudáveis em certas tarefas cognitivas. Já outro estudo descobriu que o modafinil melhorou o desempenho cognitivo em médicos plantonistas que são privados de sono. Mesmo quando comparado com voluntários saudáveis que não dormem, o modafinil melhorou o planejamento e a precisão em certas tarefas cognitivas.
Mas nem tudo são flores no mundo dos nootrópicos. Apesar de alguns estudos apresentarem resultados positivos a realidade não é bem assim, a grande maioria das pesquisas não encontraram efeitos potenciadores em indivíduos saudáveis. O próprio modafinil é um exemplo, apesar de alguns estudos mostrarem algum efeito positivo em indivíduos num estado “normal” isto é, sem nenhum transtorno de atenção e bem descansados, os resultados são efetivamente encontrados somente em individos em privação de sono.
Além disso, os efeitos estimulantes cognitivos dos fármacos estimulantes dependem frequentemente do desempenho basal. Assim, enquanto os estimulantes aumentam o desempenho em pessoas com baixas capacidades cognitivas de base, eles muitas vezes prejudicam o desempenho naqueles que já estão em um nível aceitável. De fato, num estudo de Randall et al., O modafinil apenas aumentou o desempenho cognitivo em indivíduos com um QI inferior (embora ainda acima da média)
Toda essa moda em torno de drogas como modafinil e metilfenidato é infundada. Essas drogas são benéficas no tratamento da disfunção cognitiva em pacientes com Alzheimer ou TDAH por exemplo. Mas é improvável que os potenciadores de hoje ofereçam benefícios cognitivos significativos para usuários saudáveis. Na verdade, tomar uma smart drug provavelmente não é mais eficaz do que exercitar ou obter uma boa noite de sono.
O sono em si é um intensificador de cognição subestimado. Ele está envolvido no aprimoramento de memórias de longo prazo, bem como criatividade. Por exemplo, está bem estabelecido que durante o sono as memórias são consolidadas. É um processo que “corrige” as memórias recém-formadas e determina como elas são moldadas. Na verdade, não só a falta de sono faz a maioria de nós ficarmos de mau humor e com pouca energia, Perder aquelas preciosas horas de sono também prejudica significativamente o desempenho cognitivo. Exercitar-se e comer bem também melhoraram aspectos da cognição. Acontece que tanto os fármacos como os potenciadores “naturais” produzem alterações fisiológicas semelhantes no cérebro, incluindo aumento do fluxo sanguíneo e crescimento neuronal em estruturas como o hipocampo. Assim, potenciadores da cognição devem ser vistos com bons olhos, mas não à custa da nossa saúde e bem-estar.