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Nova vacina poderosa contra a COVID-19 mostra 90% de eficácia e pode aumentar o fornecimento mundial

Por Meredith Wadman
Publicado na Science

A empresa novata de vacinas, Novavax, anunciou essa semana resultados sólidos de um ensaio clínico de 30.000 pessoas com sua vacina contra o coronavírus pandêmico nos Estados Unidos e no México. A vacina usa uma proteína de SARS-CoV-2, uma tecnologia diferente das vacinas contra a COVID-19 autorizadas até agora, e mostrou 90,4% de eficácia geral contra infecções sintomáticas de COVID-19 e 100% de proteção contra doenças moderadas e graves. Contra oito variantes virais de interesse e preocupação, sua eficácia foi de 93,2%. E a vacina parecia segura e bem tolerada.

“Esta vacina parece fenomenal. Estou entusiasmada com esses resultados”, disse Monica Gandhi, médica infectologista e epidemiologista da Universidade da Califórnia, em San Francisco (EUA). Ela observa que o ensaio clínico foi altamente diversificado, com 44% de participantes não-brancos, e que os requisitos simples de armazenamento da vacina poderiam acelerar o acesso a ela em comunidades remotas ao redor do globo.

A diferença de alguns pontos percentuais entre a eficácia de 90% da Novavax e a eficácia de 95% e 94% das vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna é explicada em parte pelo ensaio posterior da Novavax, que testou a vacina contra variantes virais, disse John Moore, um imunologista da Weill Cornell Medicine e participante do estudo da Novavax. Os testes das vacinas dessas outras empresas, compostas de RNA mensageiro (mRNA), foram concluídos antes que tais variantes estivessem amplamente circulando.

“Esta é uma vacina cuja eficácia é pelo menos equivalente à da Pfizer e Moderna”, disse Moore. “É essencialmente 100% protetora contra doenças”.

Um especialista está menos impressionado, no entanto. “Os dados que eles têm [não são] nada espetaculares”, disse Vijay Samant, CEO da Xiconic Pharmaceuticals e ex-chefe de operações da divisão de vacinas da Merck. “A eficácia geral está alguns degraus abaixo dos estudos da Pfizer e Moderna… É uma vacina equivalente, na melhor das hipóteses”.

A Novavax planeja solicitar à Food and Drug Administration e outras agêcias reguladoras dos EUA uma autorização de uso de emergência no terceiro trimestre, uma vez que a empresa conclua os requisitos regulatórios com o objetivo de garantir que seu produto corresponda consistentemente à vacina usada nos testes clínicos, disse o presidente e CEO Stanley Erck.

O anúncio de hoje marca o fim de um longo começo para a outrora quase falida empresa de Gaithersburg, Maryland (EUA), que começou a desenvolver uma vacina em janeiro de 2020 e em julho ganhou US$ 1,6 bilhão com a Operação Warp Speed ​​do governo dos EUA. Mas a empresa encontrou problemas de produção que atrasaram o lançamento de seu ensaio clínico na América do Norte até o final de dezembro de 2020.

No ensaio, dois terços dos participantes em 113 locais nos Estados Unidos e seis locais no México receberam inicialmente duas doses da vacina separadas por 21 dias. Um terço dos participantes recebeu um placebo. Entre 25 de janeiro e 30 de abril, os participantes experimentaram 77 casos de COVID-19, 63 deles no grupo do placebo. Todos os 14 casos em participantes vacinados foram leves.

Esses resultados são semelhantes aos relatados pelo Novavax em janeiro em um estudo em estágio final de mais de 15.000 pessoas no Reino Unido. Esse ensaio mostrou que a eficácia da vacina foi de 89% no geral, 86% contra a variante Alfa que foi identificada pela primeira vez no Reino Unido e 96% contra a cepa de vírus original. Mas em um ensaio separado envolvendo 4.400 participantes na África do Sul, onde a preocupante variante Beta surgiu e estava circulando amplamente, a eficácia geral da vacina caiu para 49%.

No novo ensaio, Novavax sequenciou 70% de todos os coronavírus que causaram a doença. Em mais da metade dos casos sequenciados, eles descobriram que o culpado era a variante Alfa, responsável por 70% das infecções nos Estados Unidos no final de abril. Mas a empresa não forneceu dados específicos de eficácia contra o Alfa ou qualquer outra variante. (Apenas dois casos da variante Beta foram relatados no ensaio.)

“Na verdade, isso não aborda as questões persistentes sobre o quão bem a vacina funcionaria contra as variantes de ‘escape’”, como a Beta, disse Natalie Dean, bioestatística da Universidade da Flórida (EUA).

As vacinas contra a COVID-19 até agora autorizadas pelas principais agências reguladoras ocidentais levam material genético que direciona as células do receptor para produzir a spike, uma proteína da superfície do SARS-CoV-2, que então treina o sistema imunológico para responder ao vírus. A vacina da Novavax, em vez disso, fornece a própria proteína spike, carregada em partículas semelhantes a água e administrada com uma dose extra por uma substância de reforço imunológico chamada adjuvante. A tecnologia de proteínas tem sido usada há décadas em vacinas contra doenças, incluindo hepatite B.

Em testes clínicos até agora, a vacina da Novavax produziu um pouco menos efeitos colaterais fortes, embora sistematicamente transitórios, como dor de cabeça, dores musculares e fadiga, que muitos usuários das vacinas da Pfizer-BioNTech e da Moderna experimentaram. Por exemplo, 54% dos participantes que receberam a vacina de Moderna como parte de um estudo de 30.000 pessoas relataram pelo menos um desses efeitos; no teste clínico com 15.000 pessoas da Novavax no Reino Unido, esse número foi de 38%.

Após uma segunda dose da vacina no estudo norte-americano da Novavax, cerca de 40% dos participantes que receberam a vacina ativa relataram sentir algum grau de dor de cabeça, dor muscular ou fadiga. Mas as reações graves eram raras.

Ter efeitos colaterais relativamente leves é uma vantagem, disse Mayank Mamtani, analista de biotecnologia que estuda a Novavax através da B. Riley Securities. “Essa vacina da Novavax vai ser menos reatogênica. Você não vai ter que cancelar todas as suas reuniões [depois de tomar ela]”, disse ele. Ele acrescenta que a vacina da Novavax pode encontrar um nicho como vacina de reforço nos Estados Unidos, onde ele diz que tais reforços podem ser necessários em outubro ou novembro. “Nós, neste país, amamos ter escolhas”, acrescentou.

Sob seu contrato de 2020 com a Operação Warp Speed, a Novavax se comprometeu a entregar 110 milhões de doses ao governo dos Estados Unidos, embora o país não precise delas para as vacinações iniciais. A Novavax espera atingir uma capacidade de fabricação de 100 milhões de doses por mês até o final do terceiro trimestre e 150 milhões de doses por mês até o quarto trimestre deste ano, disse Erck.

A empresa tem pedidos de compra antecipada de cerca de 200 milhões de doses de outros cinco governos ocidentais e no mês passado assinou um acordo para fornecer à GAVI  Vaccine Alliance 350 milhões de doses para o Acesso Global às Vacinas da COVID-19 (COVAX), uma instituição global parceria de compartilhamento de vacinas. O Instituto de Soro da Índia, que também está produzindo a vacina da Novavax, está programado para entregar mais 750 milhões de doses para COVAX, disse Novavax. O Instituto planeja começar a distribuir a vacina da Novavax em setembro, desde que as agências reguladoras a tenham autorizado, disseram autoridades à Science.

As projeções de produção da Novavax são substancialmente diferentes das previsões anteriores da empresa de que enviaria 2 bilhões de doses este ano. Isso reflete a luta da empresa para expandir sua produção tanto em suas próprias instalações quanto nas empresas contratantes e parceiras em 11 países. “A Novavax tem sido particularmente desafiada a executar esforços de aumento de escala de produção e manufatura”, escreveu Mamtani em uma nota para clientes de investimento no mês passado.

Ao contrário das vacinas de mRNA, que precisam ser armazenadas congeladas, a vacina proteica da Novavax pode ser armazenada em uma geladeira por até 6 meses e, uma vez removida, permanece viável por 24 horas. A Novavax criou uma nova versão de sua vacina, adaptada à variante Beta, que poderia ser usada como reforço de 1 ano, disse a empresa. Na sexta-feira, anunciou resultados positivos para a vacina adaptada em camundongos e babuínos. A Novavax diz que também está trabalhando para personalizar sua vacina para outras variantes do SARS-CoV-2.

Mas Samant alerta que as dificuldades de fabricação da Novavax e as vantagens consolidadas das empresas cujas vacinas foram aprovadas meses atrás podem dificultar a ascensão da pequena empresa à participação no mercado e à lucratividade.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.