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Núcleos de gelo revelam enormes erupções vulcânicas, maiores do que qualquer coisa nos últimos 2.500 anos

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Cientistas que estudam núcleos de gelo acumulados em cerca de 60.000 anos de história encontraram sinais de milhares de erupções vulcânicas ao longo desse período, que remontam à última Idade do Gelo – com 25 das erupções maiores do que qualquer coisa que a Terra tenha visto nos últimos 2.500 anos.

Os pesquisadores escavaram os núcleos perto de ambos os polos: na Antártida (onde foram registradas 737 erupções) e na Groenlândia (onde foram encontradas 1.113 erupções). Um total de 85 erupções foram grandes o suficiente para deixar evidências em ambos os polos.

Essa evidência assume a forma de depósitos de ácido sulfúrico deixados pelas erupções. Isso dá aos pesquisadores pistas sobre o quão grandes e impactantes foram os vulcões.

Anders Svensson examinando núcleos de gelo. Crédito: NEEM.

“Para reconstruir erupções vulcânicas antigas, os núcleos de gelo oferecem algumas vantagens sobre outros métodos”, disse o físico Anders Svensson, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. “Sempre que ocorre uma erupção muito grande, o ácido sulfúrico é ejetado na atmosfera superior, que é então distribuído globalmente – inclusive na Groenlândia e na Antártida. Podemos estimar o tamanho de uma erupção observando a quantidade de ácido sulfúrico que caiu”.

Usando o Índice de Explosividade Vulcânica (IEV), que varia de um mínimo de 1 a um máximo de 8, a equipe encontrou 69 erupções vulcânicas que excederam a erupção de Tambora em 1815 (IEV 7) – um evento que foi suficiente para bloquear a luz solar e iniciar um período de resfriamento global.

Essas 69 erupções incluem uma no Lago Taupo, na Nova Zelândia, há cerca de 26.500 anos (IEV 8), e uma em Toba, na Indonésia, há cerca de 74.000 anos (IEV 8). Em comparação, a erupção do Eyjafjallajökull de 2010 na Islândia marcou 4 na escala IEV, enquanto a erupção de Puyehue-Cordón Caulle de 2011-2012 no Chile atingiu IEV 5.

As erupções do IEV 7 acontecem uma ou duas vezes a cada mil anos, então talvez não tenhamos muita espera até a próxima. Quanto à próxima erupção do IEV 8, pode ser daqui a cem anos ou alguns milhares de anos, segundo os pesquisadores.

As erupções registradas nos núcleos de gelo teriam sido muito maiores em todos os sentidos do que as da memória, digamos, recente e mais catastróficas em termos de impacto no planeta. A pesquisa preenche algumas das lacunas no registro vulcânico da Terra, um registro que até agora era um pouco confuso além de 2.500 anos atrás.

“A nova linha do tempo de 60.000 anos de erupções vulcânicas nos fornece estatísticas melhores do que nunca”, disse Svensson. “Agora, podemos ver que muito mais dessas grandes erupções ocorreram durante a Idade do Gelo pré-histórica do que nos tempos modernos. Como as grandes erupções são relativamente raras, é necessário um longo prazo para saber quando elas ocorrem. É o que temos agora”.

Os pesquisadores basearam-se em trabalhos anteriores sincronizando escalas de tempo em núcleos de gelo retirados de diferentes polos – permitindo que eles identificassem com mais precisão as erupções que tiveram efeitos significativos na Antártida e na Groenlândia.

A pesquisa é mais do que apenas uma aula de história. Os núcleos de gelo também captam as temperaturas antes e depois das erupções, dando-nos uma delimitação para o seu efeito no clima global. Os maiores eventos podem causar resfriamento por 5 a 10 anos após a erupção real.

Saber como o clima da Terra é sensível a grandes eventos como os documentados nos núcleos de gelo pode informar futuros modelos climáticos – se esses modelos estão apontando para a próxima erupção vulcânica ou o impacto contínuo do aumento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera.

“Os núcleos de gelo contêm informações sobre as temperaturas antes e depois das erupções, o que nos permite calcular o efeito no clima”, disse Svensson. “Como as grandes erupções nos dizem muito sobre a sensibilidade do nosso planeta às mudanças no sistema climático, elas podem ser úteis para as previsões climáticas”.

A pesquisa foi publicada no Climate of the Past.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.