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Nuvens espaciais interestelares podem ter desencadeado Idade do Gelo

nuvens espaciais era do gelo

A Época do Pleistoceno – caracterizada por glaciares, mamutes lanosos e Neandertais – ainda está relativamente próxima no passado geológico da Terra, tendo terminado há cerca de 12 mil anos. Atualmente, uma equipe de pesquisadores sugere que esses milhares de anos de história fria do planeta podem ter sido causados por nuvens espaciais que temporariamente colocaram a Terra pra fora da área de proteção do calor solar.

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Os pesquisadores sugerem que, aproximadamente dois milhões de anos atrás, uma nuvem interestelar entrou no sistema solar, deslocando a Terra e outros planetas brevemente para fora da heliosfera do Sol. A heliosfera é a bolha de partículas carregadas da nossa estrela que atualmente forma um envoltório amorfo ao redor do sistema solar. A pesquisa foi publicada na revista Nature Astronomy.

Este é o primeiro estudo a mostrar quantitativamente que o Sol teve um encontro com algo externo ao sistema solar que poderia ter impactado o clima da Terra. A equipe ainda está tentando quantificar esse impacto usando modelos climáticos modernos, mas se presume que com o aumento de hidrogênio e poeira, típicos das composições dessas nuvens, a Terra teria entrado em uma Era Glacial.

modelo
O modelo da equipe que mostra que a heliosfera após 44 anos de simulação foi reduzida para apenas 0,22 UA.Gráfico: Opher et al., Nature Astronomy 2024

 

A equipe modelou dados da pesquisa HI4PI e descobriu que nosso sistema solar pode ter atravessado a faixa local de nuvens frias na constelação do Lince entre 2 milhões e 3 milhões de anos atrás. O Pleistoceno começou há cerca de 2,6 milhões de anos. Embora não seja possível afirmar com certeza se essas nuvens frias catalisaram uma era glacial, mais evidências sobre nuvens que interferiram na heliosfera podem esclarecer os impactos que isso teve na Terra.

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Esta imagem da Câmera de Infravermelho Próximo (NIRCam) do Telescópio Espacial James Webb da NASA apresenta a região central da nuvem escura molecular Chamaeleon I, localizada a 630 anos-luz de distância. O material frio e tênue da nuvem (azul, no centro) é iluminado no infravermelho pelo brilho da jovem protoestrela Ced 110 IRS 4 (laranja, no canto superior esquerdo). A luz de numerosas estrelas de fundo, vistas como pontos laranja atrás da nuvem, pode ser usada para detectar gelo na nuvem, que absorve a luz das estrelas quando esta passa por ele. Crédito: NASA, ESA, CSA e M. Zamani (ESA)

 

O modelo da equipe revelou que, numa tal passagem, a heliosfera que abriga a Terra e os seus planetas vizinhos encolheria para cerca de 0,22 unidades astronômicas (UA), ou menos de um quarto do tamanho da distância da Terra ao Sol. Para colocar isso em perspectiva, a ESA estima que o limite mais próximo da heliosfera hoje esteja a cerca de 100 UA do Sol, cerca de duas vezes mais longe do que o Cinturão de Kuiper.

Fora da heliosfera, a Terra teria sido exposta a elementos como ferro e plutônio presentes no meio interestelar. A linha do tempo dos pesquisadores coincide com um aumento de plutônio-244 e ferro-60, dois isótopos desses elementos, que resultam de eventos espaciais e são encontrados na neve antártica, em sedimentos marinhos e em amostras lunares. Merav Opher, líder do estudo, sugere que, se amostras de Marte fossem analisadas da mesma maneira, poderiam revelar um aumento semelhante desses isótopos há 2 a 3 milhões de anos.

A heliosfera pode ter sido encolhida por algumas centenas de anos até um milhão de anos, conforme mencionado por Opher em um comunicado da Universidade de Boston. Assim que a Terra e os outros planetas se afastaram da nuvem, a heliosfera se restabeleceu.

Para validar seus resultados, a equipe está tentando determinar a posição do Sol há cerca de sete milhões de anos, período que apresenta outro pico nas proporções de plutônio-244 e ferro-60 em gelo e sedimentos terrestres. Eles estão criando um modelo digital avançado da heliosfera para entender melhor as condições às quais o sistema solar foi submetido. Dados adicionais da missão Gaia da ESA poderão ajudar a equipe a localizar a posição exata do Sol naquela época.

Segundo o Serviço Geológico de Utah, a Terra experimentou pelo menos cinco grandes eras glaciais. A primeira ocorreu há mais de 2 bilhões de anos e a mais recente começou há cerca de 3 milhões de anos. De acordo com a NASA, as eras glaciais podem iniciar devido a uma combinação de fatores, incluindo mudanças na órbita terrestre, variações na energia solar, composição atmosférica, alterações nas correntes oceânicas e atividade vulcânica. Em outras palavras, há diversas teorias sobre os momentos frios da Terra, e o impacto de a Terra estar fora da heliosfera ainda é uma questão em aberto.

Brendon Gonçalves

Brendon Gonçalves

Sou um nerd racionalista, e portanto, bastante curioso com o que a Ciência e a Filosofia nos ensinam sobre o Universo Natural... Como um autodidata e livre pensador responsável, busco sempre as melhores fontes de conhecimento, o ceticismo científico é meu guia em questões epistemológicas... Entusiasta da tecnologia e apreciador do gênero sci-fi na arte, considero que até mesmo as obras de ficção podem ser enriquecidas através das premissas e conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos diversos... Vida Longa e Próspera!