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O consumo de álcool e a combinação com bebidas energéticas: riscos à saúde

É cada vez mais prevalente o consumo combinado de bebidas alcoólicas, sobretudo destilados como o whisky e a vodka, e bebidas energéticas (energy drinks). O público frequentador de boates e baladas conhece a mistura, havendo até pacotes promocionais que oferecem uma garrafa de destilado com latas de energético.

Apesar de os rótulos de bebidas energéticas advertirem sobre os riscos da combinação entre álcool e energético, o sabor geralmente mais doce do energético agrada o paladar dos que não são muito afeitos ao sabor amargo e áspero do álcool.

O consumidor que mistura as duas substâncias costuma não saber os riscos aos quais sua própria saúde está exposta, afinal de contas, ninguém vai fazer exame cardiológico antes de consumir substâncias, nem investiga antes de usar drogas de modo recreacional.

O trabalho que pode ser feito com estas pessoas é o de educar e conscientizar, com o intuito de reduzir os danos ou levá-las a adotar outros comportamentos em relação às bebidas. É sempre importante frisar que as pessoas devem ser instruídas, para que sejam capazes de pensar por elas mesmas sobre o que fazem.

Esse texto vai funcionar como um informativo rápido para quem ainda não sabia dos riscos dessa mistura, com referências que poderão ser lidas ao longo da explicação. Se você combina álcool e energéticos, atente-se aos possíveis danos que pode estar causando à saúde sem saber ou se dar conta disso. Oriente-se e converse com outras pessoas sobre o assunto.

O álcool

Textos anteriores:
Vamos falar sobre álcool?
Os efeitos do álcool no organismo

É uma das substâncias psicoativas mais antigas produzidas e consumidas pelo ser humano. É uma droga lícita que tem consumo prevalente variando quase sempre entre 70% e 90% das populações estudadas.

Tem efeito depressor no sistema nervoso central (SNC), isto é, provoca sonolência, letargia, amnésia, e em maiores quantidades, coma e morte. Isto se deve à sua interação com o neurotransmissor GABA (ácido gama-amino-butírico). No sistema cardiovascular, o álcool tem efeito vasodilatador e relaxante muscular geral.

Os energéticos

São bebidas preparadas com substâncias psicoativas que possuem efeito estimulante no SNC. As mais comuns são a cafeína, a guaranina e a taurina (que também interage com o GABA). Algumas bebidas também incluem extratos herbais, vitaminas e outros micronutrientes, além de essências, corantes e conservantes.

Por definição, também podemos considerar o energético uma droga, já que a sua fórmula inclui substâncias que interagem diretamente com neurotransmissores e provocam efeitos ao nível do SNC.

Além disso, os energéticos contém altos níveis de açúcar em sua composição, se constituindo de outro risco para a saúde. Os açúcares simples também podem promover efeitos estimulantes, concomitantemente aos estimulantes contidos no energético. Um dos carboidratos incluídos na formulação dos energéticos é a glucoronolactona.

Ainda não há consenso sobre o risco de certas composições e concentrações, embora os especialistas convirjam a respeito do efeito que as substâncias provocam no metabolismo geral de um indivíduo.

A combinação

O uso indiscriminado e abusivo de energéticos tem preocupado autoridades de saúde pública e nutrição no mundo inteiro, com alertas emitidos pela Organização Mundial da Saúde e órgãos europeus voltados para este tipo de investigação. Isoladamente, os efeitos podem não ser tão intensos, mas a bebida energética tem finalidades bem específicas e não é recomendada para qualquer pessoa. No organismo, os resultados destes efeitos podem variar e sem qualquer garantia de segurança, pois muitos fabricantes omitem ou adulteram informações nutricionais e farmacológicas.

O abuso de energéticos pode ser considerado um problema crescente, podendo ser encontrado em até 11% dos adultos europeus. O uso abusivo (ou agudo) é considerado quando se consome, individualmente, um litro de energético numa única ocasião.

No Brasil, dados de 2004 revelam que 76% da população que consome energéticos combina as duas bebidas. Dentre os universitários, os dados de 2010 apontam que a prática é feita por quase 75% do público.

O fenômeno da mistura de álcool e energético tem levantado pesquisas recentes, porque ainda não houve um número suficiente de estudos para firmar correlações mais precisas. O que se sabe:

• Não foi encontrada até então alguma relação entre aumento da concentração sanguínea de álcool pelo consumo de energéticos, mas se sugere que isso interfere em efeitos subjetivos no comportamento;

• Se sabe que o consumo de energéticos reduz a intensidade do sabor das bebidas com pelo menos de 38 a 40% de teor alcoólico, comumente as consumidas com energético. Isso permite que se beba mais álcool, combinando os efeitos depressores e os antagonizando com o estímulo provocado pelos estimulantes energéticos;

• O uso de energéticos com álcool promove maiores chances de se abusar do álcool, desenvolver síndrome de dependência alcoólica e outros problemas associados.

Por fim: Cabe a conscientização, a busca por informações adequadas e o apoio de um profissional da saúde que seja de sua confiança. Pense antes de tomar qualquer decisão. Com discernimento, a sua diversão pode ser mais segura.

Pedro H. Costa

Pedro H. Costa

Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuo desde 2012 no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas, pela mesma instituição. Interessado em saúde, educação, ciência e filosofia. Faça uma pergunta: ask.fm/phcs91