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O Egito desenterrou 160 caixões antigos desde setembro. Alguns foram selados com uma ‘maldição’

Por Aylin Woodward
Publicado no Business Insider

Milhares de anos atrás, os antigos egípcios foram sepultados em Sacará, uma antiga cidade dos mortos. Os sacerdotes os colocavam dentro de caixões de madeira adornados com hieróglifos, e os sarcófagos eram selados e enterrados em tumbas na areia.

Arqueólogos descobriram 160 caixões humanos no local nos últimos três meses, que eles planejam distribuir para museus em todo o Egito. Eles até abriram alguns para examinar as múmias dentro.

De acordo com especialistas, algumas das tumbas de Sacará têm maldições coloridas inscritas nas paredes para alertar os invasores.

Salima Ikram, egiptóloga da American University no Cairo, analisou algumas múmias de animais descobertas em Sacará no ano passado.

Ela disse ao Business Insider em um e-mail que os avisos inscritos em tumbas humanas servem principalmente para impedir invasores que pretendem profanar os locais de descanso das múmias.

Um caixão encontrado em Sacará em setembro. Crédito: Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito.

“Eles geralmente afirmam que se uma pessoa impura entrar na tumba (provavelmente em corpo e/ou intenção), então o conselho dos deuses pode punir o invasor e torcer seu pescoço como o de um ganso”, escreveu ela.

‘Medo de ver fantasmas’

A maldição específica de Sacará que Ikram citou foi encontrada na tumba do vizir Ankhmahor, um oficial do faraó que viveu mais de 4.000 anos atrás, durante a 6ª dinastia do Egito. Ele foi enterrado em uma mastaba: uma tumba acima do solo em forma de caixão retangular. Mastabas semelhantes foram construídas em todo o Egito, inclusive perto das pirâmides de Gizé.

A maldição destinada a proteger Ankhmahor, traduzida aproximadamente, avisa que qualquer coisa que um invasor “possa fazer contra minha tumba, o mesmo deve ser feito à sua propriedade”. Também avisa sobre o conhecimento do vizir de feitiços secretos e magia, e ameaça atormentar os intrusos “impuros” com o “medo de ver fantasmas”.

Maldições como essa foram feitas para deter ladrões de túmulos, disse Ikram.

No novo documentário da Netflix “Os Segredos de Saqqara“, ela explica que as tumbas eram vistas como casas para os mortos em sua vida após a morte.

“Você queria ter uma vida após a morte fabulosa, então você tinha uma tumba fabulosa”, diz ela no filme, acrescentando que a tumba de uma pessoa seria “decorada com todos os tipos de cenas da vida que desejam desfrutar por toda a eternidade”.

Portanto, os invasores pegos tentando roubar objetos de valor enterrados com os mortos seriam punidos de maneira compatível com seu crime, disse Ikram.

A punição por violar o túmulo de um nobre, entretanto, pode consistir em espancamentos e, potencialmente, na remoção do nariz de um ladrão, acrescentou Ikram. Eles também seriam obrigados a devolver a propriedade roubada.

No entanto, os escritos na tumba de Ankhmahor acolhem aqueles de intenção pura e pacífica, dizendo que ele os protegerá na corte de Osíris, Senhor do Submundo Egípcio. Os antigos egípcios acreditavam que Osíris julgava as almas mortas antes que passassem para a vida após a morte.

Maldições semelhantes aparecem em algumas outras tumbas em todo o Egito, disse Ikram, “com a maioria sendo registrada do Império Antigo” – entre 2575 e 2150 a.C.

Não é a maldição da múmia dos filmes

Os escritos encontrados em tumbas como a de Ankhmahor têm pouca semelhança com as maldições da múmia retratadas em filmes de terror, que muitas vezes mostram arqueólogos involuntários sendo mortos por mortos-vivos após abrirem câmaras mortuárias.

Ainda assim, algumas pessoas na internet não estavam interessados ​​em ver os caixões abertos pelos arqueólogos que haviam sido selados por mais de dois milênios.

Mas Ikram disse que há pouco risco de ser contaminado com, digamos, micróbios ou fungos antigos ao manusear as múmias.

“Se as pessoas usarem luvas e máscaras, não haverá problema”, disse ela.

A ideia de que as tumbas de múmias poderiam conter patógenos perigosos espalhou em parte depois que o arqueólogo Howard Carter desenterrou a tumba do Rei Tutancâmon em 1922.

Membro da expedição de Carter, seu patrocinador financeiro George Herbert morreu de uma morte inexplicada e repentina seis semanas após a abertura da câmara mortuária do rei Tut.

Por isso, alguns pesquisadores se perguntaram se a tumba continha um tipo de molde tóxico que poderia tê-lo infectado e matado. Essa conversa reacendeu o tópico da “maldição da múmia”, um conceito que Louisa May Alcott havia explorado 50 anos antes. Mas outras pesquisas mostraram que Herbert morreu de envenenamento do sangue por uma picada de um mosquito infectado em sua bochecha.

Além disso, as paredes da tumba do Rei Tut estavam livres de maldição.

Carter nunca deu importância ao mito da maldição de uma múmia, descartando-o como “beisterol”. Ele viveu até a idade de 64 anos, morrendo mais de 20 anos após sua descoberta fatídica.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.