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O maior ‘martemoto’ já registrado pode ter abalado o mistério da crosta de Marte

Traduzido por Julio Batista
Original de Laurence Tognetti para o Universe Today

Qual a espessura da crosta de Marte? Esta questão é o que um estudo recente publicado na Geophysical Research Letters tentou responder ao relatar dados de um martemoto (terremoto marciano) de magnitude 4,7 registrado em maio de 2022 pela sonda InSight da NASA, que continua sendo o maior terremoto já registrado em outro corpo planetário.

Acontece que esses dados ajudaram a fornecer estimativas da espessura global da crosta de Marte, juntamente com uma descoberta única sobre a crosta nos hemisférios norte e sul e como o interior de Marte produz seu calor.

“Desse martemoto, o maior registrado durante toda a missão InSight, observamos ondas de superfície que circundaram Marte até três vezes”, disse Doyeon Kim, sismólogo do Instituto de Geofísica da ETH de Zurique e principal autor do estudo.

Para o estudo, os pesquisadores usaram uma combinação de dados do martemoto de maio de 2022 e dados existentes sobre a gravidade e topografia de Marte para estimar a espessura média global da crosta entre 42-56 quilômetros.

A crosta mais espessa tem aproximadamente 90 quilômetros localizada na província de Tharsis, também conhecida como planalto vulcânico de Tharsis, e a crosta mais fina tem aproximadamente 20 quilômetros localizada na bacia de impacto de Hellas, também conhecida como Hellas Planitia.

Para contextualizar, a espessura média global da crosta terrestre é de 24 quilômetros e a espessura da crosta lunar, com base em dados sísmicos das missões Apollo, está entre 34-43 quilômetros.

“Isso significa que a crosta marciana é muito mais espessa que a da Terra ou da Lua”, disse Kim.

O estudo observa que não existem dados sísmicos para outros corpos planetários e nosso conhecimento é baseado inteiramente em medições de sua gravidade e topografia estimadas por estudos anteriores.

A espessura média global da crosta de Vênus é estimada entre 8-26 quilômetros, Mercúrio tem uma média conflitante com base em vários estudos entre 15-53 quilômetros e até mesmo o asteroide 4 Vesta é estimado atualmente que tenha uma espessura crustal média de 24 quilômetros.

Outra descoberta importante para o estudo são as densidades semelhantes das crostas entre os hemisférios norte e sul, também conhecidas como planícies do norte e planaltos do sul, apesar de cada uma ter uma grande diferença em sua espessura crustal.

Embora a diferença de espessura não seja uma surpresa com base em observações diretas, as densidades semelhantes sim. Acontece que isso se deve ao fato de a crosta do hemisfério sul se estender mais profundamente no planeta do que sua contraparte do hemisfério norte.

“Esta descoberta é muito empolgante e permite encerrar uma longa discussão científica sobre a origem e a estrutura da crosta marciana”, disse Kim.

A última descoberta chave para o estudo envolve como Marte produz seu calor, que é através do decaimento de elementos radioativos, incluindo urânio, tório e potássio, dos quais entre 50-70 por cento residem na crosta marciana.

Os pesquisadores supõem que uma quantidade tão grande desses elementos produtores de calor presentes na crosta poderia explicar as zonas de derretimento localizadas (ou seja, pequenas e distribuídas) existentes no interior de Marte, o que sugere que Marte poderia ser geologicamente ativo hoje.

Este estudo e suas descobertas são o culminar de mais de 1.300 martemotos que a InSight registrou durante seus mais de quatro anos no Planeta Vermelho após pousar em Elysium Planitia em novembro de 2018.

Infelizmente, a missão terminou em dezembro de 2022, depois que seus painéis solares ficaram lentamente obscurecidos com muita poeira marciana, o que impediu a recarga da espaçonave, apesar da equipe da missão ter limpado parcialmente seus painéis solares em junho de 2021.

Junto com a gravação do grande terremoto em outro corpo planetário, o InSight também registrou martemotos de impactos de meteoritos, coletou dados de martemotos para mapear o interior de Marte, usou seu sensor de pressão de ar para “ouvir” os sons de Marte e até tentou medir o temperatura interior de Marte antes que a equipe da missão desistisse depois de determinar que seu instrumento de detecção de calor, apelidado de Mole (toupeira em inglês), não poderia cavar fundo o suficiente para coletar os dados necessários.

Embora a missão InSight tenha terminado oficialmente há menos de seis meses, os dados enviados de volta à Terra devem fornecer aos cientistas anos de novas informações sobre o interior e a composição do Planeta Vermelho.

Por enquanto, o InSight descansa silenciosamente em Elysium Planitia até que seja (possivelmente) recuperado por futuros astronautas, já que atualmente não há missões semelhantes ao InSight programadas para viajar para Marte.

Que novas descobertas os cientistas farão sobre o interior de Marte nos próximos anos e décadas? Só o tempo dirá, e é por isso que fazemos ciência!

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.