Traduzido por Julio Batista
Original de Janna Eberhardt para a Universidade de Tubinga
Muitas pessoas que vivem hoje têm um pequeno componente de DNA neandertal em seus genes, sugerindo um papel importante para o cruzamento genético com linhagens humanas arcaicas na evolução de nossa espécie. Evidências paleogenéticas indicam que a hibridização com neandertais e outros grupos antigos ocorreu várias vezes, com a história de nossa espécie lembrando mais uma rede ou riacho trançado do que uma árvore. Claramente, a origem da humanidade era mais complexa do que se pensava anteriormente.
É essencial usar várias linhas de evidência para investigar o impacto de tal hibridização. O DNA antigo raramente é bem preservado em espécimes fósseis, então os cientistas precisam reconhecer possíveis híbridos de seus esqueletos. Isso é vital para entender nosso passado complexo e o que nos torna humanos. A professora Katerina Harvati do Centro Senckenberg para Evolução Humana e Paleoambiente da Universidade de Tubinga, Alemanha, juntamente com a professora Rebecca R. Ackermann do Instituto de Pesquisa em Evolução Humana da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, investigaram o impacto da hibridização usando crânios fósseis e híbridos potenciais individuais identificados no passado. Seu trabalho foi publicado na revista Nature Ecology and Evolution.
Análise cuidadosa dos dados
Para isso, as pesquisadoras investigaram um grande número de restos fósseis de humanos antigos do Paleolítico Superior da Eurásia, datados de aproximadamente 40 a 20 mil anos atrás. Vários desses indivíduos forneceram DNA antigo mostrando um pequeno componente de ancestralidade neandertal em seus genes, refletindo seu recente gruzamento com esse grupo. Seus ossos do crânio foram comparados com amostras (sem cruzamentos interespécies) de neandertais e humanos modernos e primitivos da África.
As pesquisadoras examinaram três regiões do crânio: a mandíbula, a caixa craniana e o rosto, em busca de sinais indicadores de hibridização. “Isso pode incluir, por exemplo, morfologia intermediária em comparação com neandertais ou humanos modernos, anormalidades dentárias ou tamanhos incomuns. Essas são características que vemos em híbridos de vários mamíferos, incluindo primatas”, explicam Harvati e Ackermann. Seu estudo mostrou que os sinais de hibridização eram evidentes em crânios e mandíbulas, mas não em rostos.
Nos indivíduos com antecedentes genéticos conhecidos, as pesquisadoras também consideraram se os sinais de hibridização no esqueleto correspondiam à porcentagem de ascendência neandertal. O fato de que não sugere que “a presença de variantes genéticas particulares é provavelmente mais importante do que a proporção geral de ascendência neandertal”, disseram as pesquisadoras.
Harvati e Ackermann também identificaram alguns dos indivíduos estudados como potenciais híbridos, incluindo indivíduos do Oriente Médio – conhecido por ser uma região de contato para os grupos – mas também além, na Europa Ocidental e Oriental. No entanto, “sempre que possível, o status híbrido individual deve ser confirmado usando dados genéticos e, como tal, consideramos essas identificações como hipóteses a serem testadas”, disse Harvati. Este foi o primeiro estudo desse tipo, disse ela, acrescentando que “esperamos que isso encoraje os pesquisadores a olhar mais de perto esses fósseis e combinar várias linhas de evidência para identificar a hibridização no registro fóssil”.
Inovação da evolução
Em outros organismos – de plantas a grandes mamíferos – a hibridização é conhecida por produzir inovação evolutiva, incluindo resultados que são novos e diversos. “Estima-se que cerca de 10 por cento das espécies animais produzem híbridos, incluindo, por exemplo, bovídeos, ursos, gatos e canídeos”, disse Ackermann. Os híbridos também são conhecidos em primatas, nossos parentes próximos, como babuínos, disse ela. “Como a hibridização introduz novas variações e cria novas combinações de variações, isso pode facilitar uma evolução particularmente rápida, especialmente quando se enfrenta novas condições ambientais ou mudanças”.
A hibridização, portanto, pode ter fornecido aos humanos antigos características genéticas e anatômicas que lhes deram vantagens importantes ao se espalharem da África para todo o mundo, resultando em nossas espécies fisicamente diversas e evolutivamente resilientes, afirmaram as autoras.