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O racionalismo é incompatível com Bolsonaro

O Universo Racionalista veio a público dias atrás manifestar sua posição contrária às ideias políticas do candidato de extrema direita Jair Messias Bolsonaro. É preciso deixar nossos motivos claros, que valem sim para qualquer partido, lado político e regime que os desrespeite. O que é mais grave, no caso de Bolsonaro, é que suas colocações são propostas constantes de violência e isso precisa ser rejeitado pela população brasileira.

Desde a fundação do racionalismo, atribuída aos pensamentos cartesianos, espinosanos e a lógica de Leibniz, a busca principal desta forma de pensar o mundo é pela melhor compreensão da existência, uma vivência agradável e alegre para todos. Pois se não incluirmos todos em nossa visão de um mundo harmonioso então nosso mundo simplesmente nunca será harmonioso.

A soma de potências é uma visão política que Bento de Espinosa pregava, para construir uma sociedade baseada em somas e não em competição. Sua Ética, que versava de Deus, do Homem e suas paixões, e sobre os fundamentos que regeriam seus ensinamentos políticos, visava demonstrar que nas causas primordiais dos conflitos humanos estavam as respostas para os conflitos maiores das civilizações ocidentais. Por meio das definições das paixões humanas e como homens afetam outros homens negativamente ou positivamente, o filósofo trabalhou para que, por meio desse entendimento, fosse possível criar o ideal de uma sociedade baseada na alegria, e não na tristeza. Espinosa viveu na única República Democrática da Europa do século XVII, na Holanda.

Se Espinosa, apesar de ter vivido séculos atrás, nos é contemporâneo em pensamento e valores de civilidade, Jair Bolsonaro, que vive agora, é um homem dominado por paixões tristes não apenas na forma de agir como nos ideais que prega. Ideais animalescos de violência e ódio, que rejeitam a ética, a ciência, cita assuntos por motivos meramente eleitorais e nunca é capaz de promover um debate construtivo dentre seu próprio meio. Os motivos que levam parte significativa da população a votar nele, normalmente envolvem um nível baixíssimo ou mesmo nenhum nível de educação ética e muito ódio social promovido por propaganda de massas.

O racionalismo simplesmente não é compatível com essa tamanha manipulação das paixões humanas para dominar as massas e oprimir as minorias, nem com interesses elitistas em detrimento de nossas propostas sociais por uma sociedade que somaria as forças humanas, ao invés de explorá-las. O racionalismo foi fundado seguindo justamente o oposto da exclusão social, a violência e opressão. O racionalismo foi fundado por pessoas que disseram que “a democracia é a melhor forma de governo pois permite que uma pessoa governe sem ser governada”, e isso no século XVII, o que é absolutamente oposto a dizer que “as minorias devem se curvar às maiorias ou sumir”.

O racionalismo propõe e luta por uma sociedade que trate a todos com justiça, igualdade e segurança em todos os aspectos da vida, pois temos sabedoria, conhecimento e capacidade de criar uma civilização que dê um futuro digno à humanidade, às nossas crianças, e cuide de todas as pessoas que precisam de ajuda. Se não fosse esse o intuito do racionalismo, ele não seria diferente dos grupos primitivos que viviam em cavernas e abandonavam suas crianças quando chegava o inverno. Inclusão significa não deixar ninguém para trás.

Basta andar até qualquer esquina nas grandes cidades do nosso país, e em muitas outras ao redor do mundo, e descobriremos como nossas iniciativas de criar esse mundo inclusivo ainda não se concretizaram. Existe um longo caminho a percorrer, pouco tempo para desenvolver soluções, muitas necessidades para salvar as vidas de tantas pessoas passando por crises humanitárias terríveis. Nós somos aqueles que pensam nisso, nós somos aqueles absolutamente interessados no progresso social, científico e entendemos que não é preciso de nenhuma religião para valorizar o espírito humano, conceito que engloba a vontade de potência, a vontade de viver e ser feliz.

O racionalismo é absolutamente oposto ao ódio, a raiva existe e é uma paixão como as outras, porém é da compreensão das causas da indignação que devemos idealizar as soluções de nossa sociedade, ao invés de deixar que seus efeitos nos digam o que fazer. Não existe nenhuma experiência positiva proveniente de políticas de ódio em toda a história da humanidade, não é com um candidato inconsciente das dores do povo que essas políticas terão qualquer efeito diferente.

Para conseguir um efeito diferente, teremos de agir nas causas de nossos problemas. Precisamos cuidar das comunidades sem estrutura, dando-lhes educação, segurança total que envolve dignidade, saúde e retirar o espaço e sustento do crime. Investir no intelecto das mentes jovens brilhantes deste país maravilhoso que é o Brasil, ao contrário dos cortes de investimento que estão sendo praticados. Desenvolver formas de lidar com qualquer limite de recursos, ainda mais quando recursos vastos estão sendo enviados para uma elite, que diz que nos faltam recursos para investir no povo, esta mentalidade não é de soma, é de exclusão, o racionalismo se opõe a isso.

Precisamos dotar todo o nosso povo de potências, para que estas potências se somem e o país possa atingir uma grande potência alegre novamente, um país de amor.

Octavio P. M. Milliet

Octavio P. M. Milliet

Jornalista, ávido leitor interessado em Ciência, Filosofia, Economia, Política, História, Meio Ambiente e no futuro da humanidade. Em termos de ideologia se preocupa com uma sociedade com vida digna para todos e na qual ninguém é deixado para trás, perseguido ou desprovido dos direitos humanos básicos.