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Os antecedentes da lavagem de mãos como técnica de assepsia

Hoje lavamos as mãos corriqueiramente, como medida de higiene de rotina. Temos já a noção de que lavar as mãos com água corrente e sabão previne infecções e auxilia na saúde do corpo. Também dispomos hoje de vários recursos que em outras épocas não eram disponíveis, com uma grande diversidade de produtos baseados em glicerina, álcool e outros antissépticos.

Muita gente já morreu por falta de higiene das mãos. Muitas mulheres e bebês já morreram por falta de humildade dos médicos do passado. Quem fez a diferença nessa história foi o médico Ignaz Semmelweis, que figura hoje como importante pioneiro da Saúde Pública e na Obstetrícia a incorporar a prática da lavagem de mãos na rotina dos serviços de saúde.

O húngaro trabalhava na clínica obstétrica do Hospital Geral de Viena, capital da Áustria, onde morriam muitas mulheres e muitos bebês em decorrência de uma “febre puerperal”, doença sem causa conhecida na época, mas que tinha uma teoria que até então associava as mortes a causas ambientais, externas.

Ao realizar o procedimento do parto, sem a menor consciência dos riscos, os médicos contaminavam as parturientes com as mãos sujas dos cadáveres, nos quais se realizavam aulas práticas de Anatomia. Muitas gestantes, sabendo desse risco, preferiam ficar na ala das parteiras, setor que detinha as taxas mais baixas de morte por febre puerperal.

Obviamente, já que elas não faziam dissecação em cadáveres…

Um médico do hospital, Jakob Kolletschka, morreu de febre puerperal após ter sido cortado com um bisturi usado de autópsia. Isso em 1847. Em 1850, após fazer algumas especulações diante do ocorrido, Semmelweis resolveu instituir uma política de lavagem de mãos com hipoclorito de cálcio, substância usada para eliminar o mau cheiro dos cadáveres.

Infelizmente, mesmo tendo um considerável sucesso com a medida (as taxas de mortalidade por febre puerperal na clínica caíram de modo significativo), Semmelweis foi desconsiderado pela classe médica na época, que via no jaleco sujo um sinal de status.

Muitos de seus colegas não quiseram modificar as práticas, ainda ocorrendo mortes pela febre puerperal. Semmelweis foi ridicularizado por pessoas que duvidaram da sua sanidade mental, tendo ficado seus últimos momentos de vida confinado num manicômio, local onde morreu em 1865, com 47 anos, ironicamente de causas infecciosas.

O reconhecimento que teve foi só depois de morto, com as descobertas feitas pelo cientista francês Louis Pasteur, criador das bases da teoria microbiológica; por Robert Koch, bacteriologista alemão ganhador do Nobel, que inovou com a aplicação de postulados microbiológicos na prática médica; e o cirurgião escocês Joseph Lister, que instaurou a lavagem de mãos compulsória com ácido carbólico (fenol) antes dos procedimentos cirúrgicos.

Referências

Texto: A complexa descoberta da simplicidade, do CREMESP

Reportagem da PBS sobre Semmelweis, em inglês

COLLEN, Alanna.10% Humano: Como os micro-organismos são a chave para a saúde do corpo e da mente. Rio de Janeiro: Sextante. 2016.

Pedro H. Costa

Pedro H. Costa

Bacharel em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuo desde 2012 no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas, pela mesma instituição. Interessado em saúde, educação, ciência e filosofia. Faça uma pergunta: ask.fm/phcs91