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Os ‘lagos’ subterrâneos em Marte estão cada vez mais misteriosos

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

Em 2018, cientistas fizeram uma descoberta que pode mudar nossa compreensão da nosso vizinho vermelho, empoeirado e seco chamado Marte.

Os sinais de radar refletidos logo abaixo da superfície do planeta revelaram uma mancha brilhante, consistente com nada mais do que uma piscina subterrânea de água líquida. Pesquisas subsequentes revelaram manchas ainda mais brilhantes, sugerindo toda uma rede de lagos subterrâneos.

Descobertas incríveis, certo? Embora Marte tenha água na forma de gelo, até agora nem uma única gota dessa substância líquida foi encontrada em nosso camarada vermelho.

Só existe um problema. De acordo com uma nova análise, que encontrou dezenas dessas manchas brilhantes, algumas delas estão em regiões que são muito frias para água líquida, mesmo que salgada – que pode ter uma temperatura de congelamento mais baixa do que a água doce.

“Não temos certeza se esses sinais são água líquida ou não, mas eles parecem ser muito mais difundidos do que o que o estudo original encontrou”, disse o cientista planetário Jeffrey Plaut, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.

“Ou a água líquida é comum abaixo do polo sul de Marte, ou esses sinais são indicativos de outra coisa”.

O primeiro sinal foi descoberto no polo sul marciano, sob a calota polar, usando o instrumento Mars Advanced Radar for Subsurface and Ionosphere Sounding (MARSIS; na tradução livre: Radar Avançado para Ressonância do Subterrâneo e da Ionosfera de Marte) no orbitador Mars Express.

Uma pesquisa de acompanhamento de dados arquivados revelou mais três dessas manchas semelhantes a lago. O MARSIS usa sinais de radar para sondar abaixo da calota de gelo marciana, que consiste em camadas alternadas de dióxido de carbono e gelo de água.

Sabemos, pelo uso dessa tecnologia na Terra, quais sinais são indicativos de certos materiais.

“Alguns tipos de material refletem os sinais de radar melhor do que outros, e a água líquida é um desses ‘materiais'”, disse a cientista planetária Graziella Caparelli, da Universidade do Sul de Queensland, na Austrália, à ScienceAlert no ano passado.

“Portanto, quando os sinais vindos do subsolo são mais fortes do que os refletidos pela superfície, podemos confirmar que estamos na presença de água líquida.

Os sinais vindos dessas manchas de subsuperfície eram, de fato, mais fortes do que o sinal vindo da própria superfície, mas a região em que foram encontrados era relativamente pequena.

Portanto, Plaut e o cientista planetário Aditya Khuller, da Universidade do Estado do Arizona, nos EUA, expandiram a pesquisa. Eles mapearam 44.000 medições em 15 anos de dados do MARSIS para cobrir todo o polo sul marciano.

Eles encontraram dezenas de manchas altamente refletivas, espalhadas por uma faixa maior do que as identificadas anteriormente. Mas a superfície de alguns das novas manchas ficava cerca de um quilômetro ou mais abaixo da superfície, ponto no qual as temperaturas são estimadas em cerca de 210 Kelvin (-63 graus Celsius).

Pesquisas anteriores descobriram que a água imbuída com sais de cálcio e magnésio pode permanecer líquida em temperaturas tão baixas quanto 150 Kelvin por longos períodos de tempo. Também sabemos que Marte é rico em sais de cálcio e magnésio, além de sódio. Mas um estudo de 2019 descobriu que nenhuma quantidade de sal é suficiente para derreter o gelo na base dos depósitos em camadas do polo sul marciano.

Eles concluíram que seria necessário haver alguma forma de aquecimento basal, talvez na forma de atividade geotérmica: vulcanismo. No entanto, embora haja evidências recentes de atividade vulcânica em Marte, ela estava localizada nas latitudes mais baixas, não nos polos.

“Eles descobriram que seria necessário o dobro do fluxo de calor geotérmico marciano estimado para manter essa água líquida”, explicou Khuller.

“Uma maneira possível de obter essa quantidade de calor é por meio do vulcanismo. No entanto, não vimos realmente nenhuma evidência forte de vulcanismo recente no polo sul, então parece improvável que a atividade vulcânica permitiria a presença de água líquida subterrânea em todo este região”.

Então, o que diabos são essas manchas brilhantes? Bem, nós não sabemos. A equipe acredita que é improvável que seja água líquida – mas seu mapeamento pode ajudar a descobrir. Agora sabemos, por exemplo, que tudo o que os está causando está espalhado por todo o polo sul marciano.

E, se as manchas vierem a ser água líquida, o estudo, disseram os pesquisadores, ajudará a entender melhor como ela apareceu ali.

A pesquisa foi publicada na Geophysical Research Letters.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.